Roteiro pelo Engenho do Mato: onde Niterói reencontra seu lado rural e revela gastronomia surpreendente

Niterói completa aniversário, e há cantos da cidade onde o tempo parece correr em outro ritmo. No Engenho do Mato, o cenário urbano dá lugar a uma paisagem marcada pelo verde intenso, por chácaras antigas, haras, sítios produtivos e pelo clima de interior que atravessa gerações. Enquanto as obras de pavimentação avançam e melhoram a mobilidade local, o bairro preserva o charme bucólico e se firma como um refúgio onde natureza, cultura e boa mesa se encontram. Hoje, o local é destino de famílias, de quem busca uma pausa da correria e também de quem gosta de comer bem. O GLOBO-Niterói preparou um roteiro especial pelo bairro que preserva a memória rural de Niterói e, ao mesmo tempo, abraça uma gastronomia contemporânea que tem se destacado. Show da virada: Réveillon de Niterói pode ter Ludmilla e Nando Reis Niterói 452 anos: Fotógrafos niteroienses destacam encantos da aniversariante em diferentes ângulos; veja uma seleção de cliques No coração do bairro fica o Haras São Francisco, que mantém viva a tradição equestre da região. Com áreas amplas e vistas para as montanhas, o espaço oferece cavalgadas guiadas e, nos fins de semana, recebe visitantes com restaurante próprio, música ao vivo e mesas ao ar livre. Confira um roteiro para curtir o bairro do Engenho do Mato, em Niterói A poucos minutos dali, o Cantinho da Roça se tornou um programa para as famílias, sucesso entre as crianças. Aberto após a pandemia, o espaço funciona em um sítio da família de César Botelho e reúne comida caseira, pescaria esportiva, passeio a cavalo, contato com animais como porcos e coelhos e uma pequena cachoeira artificial, feita com água da nascente. — As crianças podem conviver com os bichos, correr, brincar. Tem gente que vem do Rio só por isso — conta Botelho, que agora trabalha para ampliar o espaço e incluir fogão a lenha e pratos mineiros no cardápio. Vitória Ferreira visitou o local com o marido e o filho de 6 anos, que adorou a pesca. — As crianças ficam muito nas telas. Aqui é ótimo para brincar, correr, sair do celular. Tinha que ter mais espaços como esse em Niterói — afirma ela. O Engenho do Mato também guarda o Quilombo do Grotão, espaço cultural reconhecido como quilombo urbano e referência na preservação de tradições afro-brasileiras. Ali acontecem rodas de jongo, samba, oficinas e uma feijoada famosa que atrai visitantes de toda a cidade, reforçando o papel do bairro como território de resistência e pertencimento. Hoje, o Quilombo sai de casa e faz uma roda de samba gratuita na Praça do Engenho do Mato, a partir das 12h30. O bairro inspira ainda arte, rimas e hip hop, na Roda Cultural do Engenho do Mato, que está fazendo 12 anos. Ponto de Cultura, o coletivo ganhou força a partir da criação pelos jovens de uma biblioteca comunitária em um espaço antes abandonado pelo estado. — Nossa missão é valorizar a juventude local e o bairro, compreendendo a riqueza do território. Vivemos em um verdadeiro santuário ecológico, e com certeza isso inspira o projeto, no seu caráter educativo — acrescenta Aline Pereira, articuladora da Roda do Engenho do Mato. Rota gastronômica Nos últimos anos, o Engenho do Mato consolidou um circuito gastronômico que surpreende pela qualidade e pelas propostas autorais. Restaurantes instalados entre árvores, colinas e jardins criaram um ambiente onde a natureza se mistura à boa mesa. Nesse clima de exclusividade, eles funcionam apenas nos fins de semana e feriados, e a reserva é indicada para garantir uma mesa. Um deles é o Mr. Lang, que nasceu em 2020 no jardim da casa do chef Sven Lang, em Itaipu, e ganhou nova vida em 2023 ao se mudar para a Chácara do Alto. — Temos cinco mil metros de verde, vista para o mar, para as ilhas do Rio e para as serras. E, ao longe, a Pedra da Gávea, onde o sol se esconde no fim da tarde. Quando as pessoas chegam pela primeira vez, o impacto com o visual é grande. Até quem é da cidade fala que não imaginava ter um local como esse em Niterói — descreve Lang. O frescor é marca da casa, focada em frutos do mar. O cardápio inclui cherne, garoupa, namorado, pescada amarela, atum, lírio, cavaquinhas, camarões VG e mexilhões, além de versões veganas e carnívoras. Música ao vivo, jazz e bossa completam o clima de refúgio gastronômico. — O polvo é nosso carro-chefe e chega vivo para mim. E os pescados vêm direto da galera que pesca, tudo extremamente fresco. A diferença de qualidade é absurda — diz ele, que, antes de abrir o estabelecimento, praticava pesca submarina. Criado pelo casal Cláudia Souza e Max Freitas, o Bistrô Ancestral nasceu do desejo de transformar em negócio o hábito antigo de cozinhar e receber amigos. Baiana e ligada às religiões afro-brasileiras, Cláudia leva para o cardápio elementos da ancestralidade, histórias de família e referências culturais que permeiam sua formação, algo reforçado também na ambientação, na música e no modo de acolher. A escolha do Engenho do Mato veio do vínculo dos dois com o bairro, onde moram, e do clima bucólico que desejavam preservar. No Bistrô Ancestral, a filé de namorado em cama de banana-da-terra, arroz negro e creme de castanhas Divulgação — A Cláudia é a estrela do negócio, eu sou coadjuvante. Sempre quisemos que o Ancestral fosse mais do que um lugar para comer. Procuramos transmitir nossa filosofia de uma forma afetiva, que abrace o cliente— diz Freitas. Um clássico da região, a Taberna do Darwin, comandada pelo chef Sabino e presente no bairro há 16 anos, faz uma homenagem ao famoso naturalista inglês. O nome remete ao Caminho de Darwin, uma trilha histórica na Serra da Tiririca que começa no Engenho do Mato e segue parte do percurso atribuído a Charles Darwin quando ele explorou a região no século XIX. Com a urbanização do entorno, o restaurante ganhou um novo deque sob as árvores preservadas. — Com as obras de pavimentação, o acesso melhorou e a procura aumentou. Estão colocando aquele piso intertravado, e está ficando lindo. Comprei um terreno ao lado para aumentar o espaço e fizemos o deque sem derrubar nenhuma árvore. O pessoal está adorando. Meu slogan sempre foi: “Saia da rotina sem ter que viajar”. E é assim que os clientes se sentem, viajando dentro de Niterói — conta Sabino. O prato mais famoso continua sendo o lombo de cherne com banana-da-terra e manteiga de páprica, no cardápio há 12 anos. — Tem gente que vem só por causa dele — diz o chef, que também oferece hospedagem em um chalé integrado ao restaurante, reforçando o clima de refúgio. Initial plugin text