Do Remo ao Coritiba, Pedro Rocha recupera bom futebol e volta à Série A com status de artilheiro: 'Decisão pensada com calma e respeito por tudo que vivi'

Pedro Rocha nasceu em outubro de 1994, ano em que o Remo disputou sua última participação na Série A do Campeonato Brasileiro até então. Trinta e um anos depois, foi com grande contribuição do atacante capixaba, artilheiro da Série B com 15 gols em 32 jogos, que o clube paraense assegurou o retorno à elite do futebol nacional. Para muitos, apenas coincidência. Para Pedro, sinal de uma força maior, que uniu um time apadrinhado por Santa Maria de Nazaré à fé de um atleta católico que buscava um novo clube para ser acolhido após não conseguir se firmar em Flamengo, Cruzeiro, Spartak Moscou-RUS e Athletico-PR. Após ajudar a escrever uma página importante da história do Remo, em 2026 Pedro Rocha defenderá outro time, o Coritiba, que buscou o atacante para ser seu pilar ofensivo para também tentar se firmar na Série A. Sua última Série A foi em 2024, pelo Criciúma, que acabou rebaixado e você não conseguiu se destacar. Agora retorna como um dos grandes nomes do ataque do Coritiba. O que espera desta volta à elite nacional? Cheguei no segundo semestre, já na reta final do Brasileirão. Não tive pré-temporada, não tive tantas oportunidades. Vejo essa volta com uma expectativa muito positiva. O futebol do Paraná é muito competitivo, tem clubes tradicionais e torcidas apaixonadas. É um cenário que exige entrega, seriedade e comprometimento, e isso combina muito com como gosto de trabalhar. Chego com humildade, respeito à história do clube e muita vontade de ajudar a equipe a alcançar seus objetivos. Qual foi o diferencial para você despontar nesta temporada e entregar tantos jogos, com gols e sem a sombra de lesões? Mudou algum tipo de treinamento? Sempre fui um jogador que procurou melhorar em todos os aspectos, seja na parte física, nutricional e mental. Acredito que seja o acúmulo de coisas. Um jogador só consegue performar quando estiver, de fato, jogando, e no Remo eu consegui. Isso vai te dando não só ritmo de jogo, mas também confiança. A soma destes fatores me fez jogar este ano todo sem lesões e fatores externos que pudessem me atrapalhar a performar. Pedro Rocha sendo exaltado após o Remo conquistar acesso à séria A do Campeonato Brasileiro Arquivo pessoal E como chegou ao Remo? Como eu vinha de algumas temporadas não jogando tanto, vindo de uma lesão séria em 2023, quando rompi os ligamentos do joelho esquerdo, não estava conseguindo ter minutagem. Precisava de um time que me acolhesse bem. Que me colocasse para jogar e que eu fosse visto no cenário nacional. Recebi um convite de Sérgio Papelin, diretor da época: “Precisamos de um jogador como você aqui”. E o então treinador Rodrigo Santana me passou toda a confiança de que eu voltaria a jogar e performar. Acredito que foi o casamento perfeito. Você não apenas foi o artilheiro nesta edição, mas também fez o gol e deu as duas assistências no duelo derradeiro, virando o jogo contra o Goiás. Como foi lidar com a desvantagem no placar logo no início do jogo e depois resolver o duelo? Conversamos muito na semana do jogo. O Goiás era muito qualificado também. Mas nós sabíamos que tínhamos que retomar o quanto antes nossa confiança. O torcedor teve um papel fundamental nisso. Nos apoiou a todo momento. No primeiro tempo, conseguimos fazer o gol e voltar mais focados para conseguir nosso objetivo, que era a vitória, porque dependíamos de outros resultados. Tínhamos que fazer o nosso e deixamos o resto na mão de Deus. Falando sobre religião, como foi para você, de uma família católica, criar um vínculo para além do campo com o time? Antes de ir para o Remo, sempre pedi a Deus que eu fosse para um time que pudesse fazer a vontade Dele e ser feliz da forma como ele quisesse. Ele me levou ao lugar abençoado que é Belém do Pará. Tem a festa do Sírio que encanta todos e tem um significado muito forte para o paraense. Viver aqui e estar na festividade, vendo a devoção do povo à Nossa Senhora de Nazaré foi uma coisa que me encantou muito. E nesta reta final, assim como ela é Padroeira do Pará, ela nos abençoou neste tão sonhado objetivo que a gente conseguiu conquistar. Quando recebi o convite do presidente Tonhão (Antônio Carlos Teixeira) para poder entrar com a imagem dela, sabendo que eu, ele e o clube somos católicos, fiquei muito honrado. É difícil hoje em dia você ver essa devoção e clareza na religião. É um clube que foi muito abençoado por isso e ser o porta-voz, o portador da imagem, sentia a energia. Não só eu como o time e isso foi fundamental na nossa caminhada. Minha esposa e meu filho também se adaptaram à Belém super rápido, por conta deste calor humano. Ficamos muito felizes e gratos pela passagem. Até por isso, tive essa temporada brilhante. Pedro Rocha conduzindo a imagem de Nossa Senhora de Nazaré na entrada do campo pelo Remo na Série B reprodução Por que, mesmo com essa conexão, decidiu partir rumo ao Coritiba? Foi uma decisão pensada com muita calma e respeito por tudo que vivi no clube anterior, onde aprendi bastante e tive experiências importantes. Entendi que, neste momento da minha carreira, uma mudança poderia ser positiva tanto no aspecto profissional quanto pessoal. Surgiu um projeto que me motivou, alinhado com os meus objetivos, e achei que era o momento certo de encarar esse novo desafio, mas sempre com gratidão pelo caminho que percorri até aqui. Pedro Rocha já treina pelo Coritiba Gabriel Thá / Coritiba Você foi um dos responsáveis por movimentar uma cidade adormecida para a elite do futebol e logo foi abraçado pelos torcedores. Já no Grêmio, também se tornou herói pelos gols no título da Copa do Brasil de 2016 contra o Atlético-MG. Qual gol te emocionou mais? São emoções diferentes. Naquela época, a gente disputava uma final, valendo um título. Naquele jogo, que fiz os dois gols, foi um misto de emoções tão grande que acabei expulso, deixando meus companheiros na mão, mas estava explodindo de alegria por ter feito dois gols. No caso do Remo, mesmo não disputando um título e, sim, o acesso, foi uma emoção muito grande. Eu nunca tinha vivido este carinho que o torcedor teve com a gente, em toda a minha vida. Especialmente após o apito final do juiz, em que todo mundo invadiu o campo e foi comemorar com a gente ali. Foi uma lembrança que guardarei eternamente em minha vida. Seu pai tinha uma peculiaridade de anotar em um livreto os seus gols marcados. Ele segue com a tradição até hoje, está em quantos gols? Ele sempre acompanhou e continuou acompanhando meus gols. É um carinho que ele sempre teve comigo ao longo da carreira. Usa um livro diferente para cada clube. Mas não sei como está agora. Você tem um grande vínculo com o Grêmio. Deseja um dia voltar à Porto Alegre? Eu sempre falo que criei uma conexão muito boa com o Grêmio, assim como tive este ano com o Remo. Tenho uma carinha e gratidão enorme pelo clube, por todos os títulos e jogos, que foram muito bons. Mas deixo isto na mão de Deus. Se tiver que voltar um dia ficarei muito feliz, mas não tive nenhum contato, então não existe essa possibilidade hoje. Já com o Flamengo, ao contrário, você já disse publicamente que gostaria de ter tido mais oportunidades. Acha que se voltasse seria diferente? Como foi um ano de pandemia, foi algo muito atípico. Eu tinha contrato na Rússia e estava de empréstimo no Flamengo. Como a temporada terminou só em 2021, tive que voltar ao Spartak sem muitas chances de jogar. Mas sempre digo que tenho um carinho pelo clube e pelas pessoas que conheci no caminho, assim como o Flamengo.