Um conjunto veterano de jazz e uma companhia de dança de Nova York cancelaram eventos no John F. Kennedy Center for the Performing Arts, um dos centros de artes mais importantes do país, rebatizado para incluir o nome do presidente Donald Trump. O centro havia anunciado duas apresentações de Ano Novo do grupo The Cookers como um "septeto de jazz estelar que incendiaria o palco do Terrace Theater". Mas essas apresentações, assim como um concerto anual de jazz na véspera de Natal apresentado por Chuck Redd, foram canceladas. Num comunicado divulgado na segunda-feira, o grupo The Cookers não justificou a decisão, dizendo apenas: "O jazz nasceu da luta e da insistência implacável na liberdade: liberdade de pensamento, de expressão e da plena voz humana". O baterista da banda, Billy Hart, disse ao "New York Times" que a mudança de nome do centro "evidentemente" teve um papel importante. Ele reconheceu que o grupo estava preocupado com possíveis represálias. O centro agora oficialmente se chama The Trump Kennedy Center. A companhia de dança Doug Varone and Dancers, de Nova York, também anunciou na segunda-feira o cancelamento de duas apresentações em abril, que seriam realizadas para celebrar seu 40º aniversário. Varone, diretor da companhia, afirmou que o cancelamento resultaria em um prejuízo de US$ 40 mil. “É devastador financeiramente, mas moralmente revigorante”, disse ele em um e-mail. Richard Grenell, presidente do Kennedy Center, afirmou em um comunicado na noite de segunda-feira que os artistas que cancelaram os shows eram “ativistas políticos de extrema esquerda” e que haviam sido contratados pela gestão anterior. “Boicotar as artes para demonstrar apoio às artes é uma forma de transtorno de personalidade”, disse ele. Após Redd cancelar o concerto da véspera de Natal, Grenell classificou o ato como “intolerância clássica” e ameaçou processá-lo em US$ 1 milhão. Em fevereiro já havia ocorrido uma série de desistências e renúncias, incluindo a vencedora do Prêmio Pulitzer Rhiannon Giddens, a soprano Renée Fleming e o cantor e compositor Ben Folds. Na época, o presidente americano afastou membros do conselho diretor e os substituiu por seus apoiadores. Entre os artistas que protestaram nas últimas semanas está Kristy Lee, cantora folk do Alabama, que anunciou o cancelamento de um show gratuito no dia 14 de janeiro. "Não vou mentir, cancelar shows dói", disse ela em uma publicação nas redes sociais. "É assim que eu me sustento. Mas perder minha integridade me custaria mais caro do que qualquer cachê." Na declaração publicada pelos Cookers na segunda-feira, a banda fez alusão a divergências em Washington. “Nossa esperança é que este momento dê espaço para reflexão, não para ressentimento”, dizia o comunicado. “A todos que estão decepcionados ou chateados, entendemos e compartilhamos sua tristeza. Continuamos comprometidos em tocar música que una as pessoas, em vez de separá-las.” Doug Varone e seus dançarinos tinham apresentações agendadas no Teatro Eisenhower do Kennedy Center nos dias 24 e 25 de abril. Varone disse que o grupo havia concordado em se apresentar para homenagear duas das principais administradoras de dança do centro — Jane Raleigh e Alicia Adams — ambas já faleceram. “Não podemos mais nos permitir, nem pedir ao nosso público, que entrem nesta instituição que um dia foi grandiosa”, disse ele.