Israel anuncia interrupção no trabalho de diversas organizações humanitárias em Gaza a partir de 2026

O governo israelense anunciou nesta terça-feira que revogará a licença de 37 organizações humanitárias para operar em Gaza, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Caritas e ActionAid, por não cumprirem as novas regras para a verificação de organizações internacionais que atuam no enclave palestino. O Ministério da Diáspora afirmou que as organizações que enfrentarão a suspensão em 1º de janeiro teriam cometido supostas violações dos padrões de segurança e transparência exigidos por Israel para atuar na região ao não compartilharem informações sobre funcionários, financiamento e operações. Reunião na Flórida: Ao lado de Netanyahu, Trump troca afagos, eleva pressão sobre o Irã, mas deixa definição sobre Gaza em aberto 'Sinto a morte todos os dias': Criança com doença celíaca grave enfrentou fome e meses sem tratamento antes de morrer em Gaza "A principal falha identificada foi a recusa em fornecer informações completas e verificáveis ​​sobre seus funcionários", diz um comunicado do Ministério da Diáspora, que acusa membros de Médicos Sem Fronteiras de cooperar com o Hamas e outros grupos palestinos armados. "Análises de segurança revelaram que funcionários de certas organizações estavam envolvidos em atividades terroristas". Por sua vez, Médicos Sem Fronteiras declarou que se recusava a cooperar com a política israelense porque a lei francesa a impedia de fornecer informações sobre seus funcionários. Em 2024, Israel já havia acusado funcionários da organização de envolvimento com grupos armados em Gaza. Na época, o grupo afirmou que jamais empregaria, conscientemente, pessoas envolvidas em atividades militares. A decisão significa que escritórios de diversas organizações em Israel e Jerusalém Oriental serão fechados e que elas não poderão enviar funcionários ou ajuda humanitária internacional para Gaza. Apesar da mudança, as Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que o fluxo de ajuda para o enclave não será afetado pela mudança, visto que mais de 20 organizações receberam permissão para operar em Gaza e continuarão atuando na região. Segundo o COGAT, órgão de defesa israelense responsável pela supervisão da ajuda humanitária a Gaza, as organizações listadas contribuem com menos de 1% do total da ajuda destinada ao enclave palestino. “O processo de registro visa impedir a exploração da ajuda pelo Hamas, que no passado operou sob o disfarce de certas organizações internacionais de ajuda, consciente ou inconscientemente”, afirmou o COGAT em comunicado. No início de 2025, Israel alterou seu processo de registro para organizações humanitárias, passando a exigir o envio de uma lista de funcionários que atuam em Gaza, incluindo palestinos que no enclave. Algumas organizações já haviam declarado que não enviaram a lista de funcionários palestinos por medo de que eles se tornassem alvos de Israel e devido às leis de proteção de dados na Europa. 'Sobrevivência está em jogo': ONU alerta que Gaza corre risco de deixar de ser habitável Fome em Gaza: Naeema, palestina de 30 anos, carrega o filho Yazan, de 2 Omar Al-Qattaa / AFP Autoridades que representam as organizações humanitárias expressaram preocupação com o uso que Israel poderia fazer dos dados solicitados — para fins de auxiliar medidas de inteligência ou militares —, visto que Tel Aviv não se confirmou publicamente que não usaria as informações para estes objetivos. — A questão é legal e de segurança. Em Gaza, vimos centenas de trabalhadores humanitários serem mortos — afirmou Shaina Low, assessora de comunicação do Conselho Norueguês para Refugiados, à AP. Essas organizações humanitárias prestam diversos serviços sociais na Faixa de Gaza, incluindo distribuição de alimentos, assistência médica, serviços para pessoas com deficiência, educação e saúde mental. Centenas de trabalhadores humanitários patrocinados por essas organizações estão atualmente em Gaza e precisarão deixar o território até 1º de março. Autoridades israelenses afirmam estar cumprindo os compromissos de ajuda humanitária estabelecidos no acordo de cessar-fogo firmado com o Hamas, que entrou em vigor em 10 de outubro. No entanto, organizações humanitárias contestam os números apresentados por Israel e afirmam que mais ajuda é urgentemente necessária para seguir salvando vidas no território palestino, que atualmente abriga mais de 2 milhões de pessoas e ainda sofre com as graves consequências da devastação provocada pela guerra, como a destruição de estruturas hospitalares e escassez de recursos básicos. — A mensagem é clara: a assistência humanitária é bem-vinda — a exploração de mecanismos humanitários para fins terroristas, não — afirmou Amichai Chikli, ministro dos Assuntos da Diáspora e do Combate ao Antissemitismo. Initial plugin text Preocupação internacional Enquanto isso, ministros das Relações Exteriores de dez países expressaram, nesta terça-feira, sua "grave preocupação" com a "deterioração ainda maior da situação humanitária" na Faixa de Gaza, classificando-a como "catastrófica". "Com a chegada do inverno, a população civil de Gaza enfrenta condições terríveis, com fortes chuvas e temperaturas em queda livre", afirmaram os ministros das Relações Exteriores de Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Islândia, Japão, Noruega, Suécia, Suíça e Reino Unido em uma declaração conjunta divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores britânico. Os chanceleres acrescentaram que "1,3 milhão de pessoas ainda precisam urgentemente de abrigo" e que "mais da metade das instalações de saúde estão operando apenas parcialmente e enfrentam escassez de equipamentos e suprimentos médicos essenciais". (Com AFP)