Caso Master: PF começa a ouvir depoimentos de Vorcaro, ex-presidente do BRB e diretor do BC; entenda o que está em jogo

A Polícia Federal começou a ouvir na tarde desta terça-feira o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos, na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Após os depoimentos, a delegada responsável avaliará eventuais contradições nas versões apresentadas e decidirá se os três deverão passar por uma acareação. Inicialmente, a acareação havia sido determinada pelo ministro Dias Toffoli, do STF, que assumiu a condução das investigações sobre possíveis fraudes envolvendo o Master. Na segunda-feira, no entanto, a Corte informou que a PF é que irá decidir se será ou não oportuno o confronto de versões. O procedimento será acompanhado por um juiz auxiliar do gabinete de Toffoli. A Corte, porém, não explicou por que esse novo trâmite será seguido — o caso está sob sigilo. Na semana passada, o ministro negou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para cancelar a acareação. No sábado, Toffoli afirmou que Ailton de Aquino Santos não é investigado no caso, respondendo a um pedido de esclarecimento do Banco Central. Apesar disso, o ministro ressaltou que a investigação "tange a atuação da autoridade reguladora nacional". Os três serão ouvidos porque Vorcaro tentou vender o Master para o banco BRB, estatal do governo do Distrito Federal (DF), em operação vetada pelo BC em setembro. Dois meses depois, Vorcaro foi preso, e o BC decretou a liquidação do banco em meio a suspeitas de operações fraudulentas na casa de R$ 12 bilhões. A investigação começou na Justiça Federal de Brasília, mas foi enviada ao STF por determinação de Toffoli, após a PF encontrar um documento que citava uma negociação imobiliária de Vorcaro com um deputado federal. O Banco Central apresentou na última segunda-feira ao Tribunal de Contas da União (TCU) esclarecimentos sobre o processo de liquidação do Banco Master. Os documentos serão analisados pela unidade técnica do TCU antes de serem encaminhados ao ministro Jhonatan de Jesus, relator do caso. O processo que tramita no TCU investiga uma possível omissão do BC em relação a operações do banco controlado por Vorcaro. Diretor resistiu à liquidação Como mostrou a colunista Malu Gaspar, a liquidação foi decidida com a aprovação unânime da diretoria colegiada do BC, incluindo o voto sim do presidente, Gabriel Galípolo, que em princípio não precisava se manifestar, já que os outros oito diretores eram a favor. Entretanto, de toda a diretoria, quem mais resistiu à ideia da liquidação foi o próprio Ailton Aquino, da fiscalização. Internamente no BC e no sistema financeiro, Aquino era visto como um aliado do Master. Registros do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), sustentado por recursos dos próprios bancos, mostram que houve 38 comunicados oficiais sobre os riscos de liquidez, furos no balanço do Master e outras questões que deveriam levar a uma ação mais contundente do órgão regulatório. Quase todos os alertas eram dirigidos à área de Aquino, e muitos foram feitos em reuniões presenciais. Duas pessoas que participaram desses encontros me relataram que a atitude do diretor era sempre a de minimizar os problemas – que foram só se agravando ao longo do tempo. A discussão em torno de uma atitude mais drástica em relação ao Master, como intervir ou liquidar, só começou a ganhar corpo a partir de março de 2025, quando o BRB anunciou que compraria 58% do banco de Daniel Volrcaro mas o deixaria comandando a instituição. Era na prática um mero salvamento, já que a venda não garantiria o controle para o BRB. Foi no processo de análise dessa operação que outra diretoria, a de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, encontrou as fraudes nos contratos de crédito consignado que avalizaram o repasse de R$ 12, 2 bilhões do BRB para o Master pela venda da carteira, antes mesmo da fusão dos dois bancos. A partir daí deu-se um racha interno, com a área de Renato Gomes propondo intervir no Master e a de Aquino tentando encontrar uma solução que permitisse ao banco seguir operando. Portanto, o integrante do BC que mais conhece as fraudes e seu mecanismo não é Aquino, e sim Gomes, que até já terminou o mandato.