O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), negou nesta terça-feira que a decisão do município de montar um palco dedicado à música gospel — entre os 13 espalhados pela cidade no réveillon — represente intolerância religiosa. A escolha virou alvo de polêmica e passou a ser investigada pelo Ministério Público Federal (MPF), que apura se houve privilégio a uma religião na organização do evento. Segundo Paes, a população cristã representa uma parcela significativa da cidade e, até então, não frequentava as comemorações em Copacabana. Copacabana já tem alterações no trânsito para a festa de réveillon: entenda o que muda no bairro CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME DE NITERÓI COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO — A gente não pode transformar um preconceito que de fato existe, que é absurdo e inaceitável, contra o povo de axé, em preconceito contra o povo cristão. Há uma parcela muito significativa da nossa cidade que gosta de música gospel e que quer — e pode — ter seu espaço. Esse público não vinha para Copacabana e agora vai vir, vai conviver com pessoas fazendo oferendas a Iemanjá. Isso é o sincretismo religioso do Brasil e da nossa cidade — afirmou. Para o prefeito, a polêmica em torno do tema representa uma forma de discriminação contra a música gospel. — A minha percepção é que está havendo uma enorme discriminação com um gênero musical que acabou de ser reconhecido como patrimônio nacional pelo presidente Lula, que é a música gospel. Quem gosta de música gospel tem uma vibração diferente. Então, quem é de axé vem para o samba — disse. Questionado sobre a possibilidade de priorização de uma religião em detrimento de outras, Paes voltou a negar. — É preciso tomar cuidado com isso. Está falando aqui o prefeito que mais apoia a diversidade religiosa, que mais defende o povo de axé e que enfrenta de forma contundente o preconceito no Rio de Janeiro. Nunca escondi de ninguém meu amor pelo samba. Vou à Lavagem da Sapucaí e, apesar de católico, recebo ali energias que até hoje não sei explicar. Vamos parar com essa conversa, porque não dá para combater um preconceito real e inaceitável criando outro contra o povo cristão — concluiu. Maravira: com esquema especial do metrô, evento gospel no Maracanã promete a maior virada cristã do Brasil Na última semana, o colunista Ancelmo Gois publicou uma crítica do professor e babalawô Ivanir dos Santos. Ele disse que o problema não é a existência do palco gospel, mas a falta de tratamento igualitário para as mais diversas religiões: “a diversidade não pode ser apenas um discurso, ela exige práticas concretas de reconhecimento, representação e igualdade no uso do espaço público”, afirmou ele. Milhões de pessoas assistem à queima de fogos no réveillon de Copacabana Divulgação Riotur / Foto de Gabriel Monteiro 01/01/25 O prefeito foi às redes neste domingo rebater o posicionamento de Ivanir dos Santos. Paes afirmou haver preconceito nas críticas contra o palco gospel: "o povo Cristão também tem direito a celebrar", escreveu no X. Em outro comentário, o prefeito disse ainda que o movimento poderia "radicalizar uma cidade aberta para todas as crenças". Nesta segunda-feira, Paes voltou ao tema. "Peço desculpas a quem é contra o palco gospel se me fiz entender mal. Minha defesa as religiões de matriz africana e a liberdade religiosa de forma geral é pública e notória!", escreveu. Ele conta que recorreu a uma ferramenta de inteligência artificial para analisar os gêneros que estarão nos 13 palcos da cidade e que o gospel representa 6,25% das apresentações musicais do réveillon. A IA então apontou que dois dos gêneros mais ouvidos no Brasil, o trap e sertanejo, quase não tinham representantes entre os artistas. "Como não sou eu que faço a grade de quem vai ou não tocar parabenizo o time do Abel Gomes (organizador do réveillon) pelas escolhas. Achei as análises positivas mas alguns ajustes terão que ser feitos no próximo ano. Pelo jeito alguns ritmos como Sertanejo e Funk vão ter que entrar mais. Como todo mundo sabe o meu ritmo é samba e MPB. Estou bem atendido na física", completou Paes. História A tradição do festejo da virada do ano à beira-mar vem das práticas de religiões de matriz africana e foi incentivada por Tancredo da Silva Pinto, o Tata Tancredo, "líder religioso, sambista e personagem fundamental da cultura do Rio de Janeiro", nas palavras do escritor e historiador Luiz Antonio Simas. Com o tempo, o povo dos terreiros, que inventou essa celebração, foi perdendo espaço para o monumental espetáculo em que se transformou o réveillon de Copacabana. Os ritos tradicionais continuam, mas mudaram de data e lugar. A virada virou atração turística e, a propósito, Tata Tancredo vai ser enredo no desfile da Estácio de Sá para o carnaval de 2026. Initial plugin text Initial plugin text