Até onde a ciência pode ir — e onde ela ainda precisa pisar no freio? Em 2025, essa pergunta atravessou anúncios, pesquisas e debates que chamaram a atenção do público muito além dos laboratórios. Da promessa de trazer espécies extintas de volta à vida a robôs cada vez mais parecidos com humanos, passando por sinais químicos que podem indicar vida fora da Terra, o ano foi marcado por avanços que dividiram opiniões e alimentaram tanto o entusiasmo quanto a cautela. 2025 termina parecendo como os Jetsons viviam em 2062? Conheça as tecnologias que saíram do papel neste ano Entre Mounjaro, Lucy e até formato do bumbum: 20 descobertas científicas que mexeram com 2025 Logo nos primeiros meses, a biotecnologia reacendeu discussões sobre os limites éticos e técnicos da engenharia genética. Ao mesmo tempo, a inteligência artificial deixou de ser apenas uma ferramenta abstrata e passou a ganhar corpo, voz e até emoções simuladas. No espaço, cientistas mantiveram os olhos atentos a ameaças vindas do céu e a pistas que podem redefinir o lugar da humanidade no universo. Em comum, esses temas mostraram que 2025 foi menos sobre respostas definitivas e mais sobre novas fronteiras abertas à investigação. Passado reconfigurado: lobos e mamutes em debate Um dos anúncios mais comentados do ano veio dos Estados Unidos. Em janeiro, uma empresa de biotecnologia afirmou ter criado filhotes de lobos gigantes, espécie extinta há mais de 12 mil anos. A notícia viralizou rapidamente, mas encontrou resistência entre especialistas. Pesquisadores lembraram que o DNA antigo sofre degradação profunda ao longo do tempo, o que torna praticamente impossível reconstruir integralmente o genoma de um animal tão antigo. Para muitos cientistas, o experimento não representa uma “desextinção”, mas a criação de organismos modernos com características pontuais inspiradas em espécies desaparecidas. A mesma empresa, a Colossal Biosciences, voltou a ganhar destaque ao anunciar avanços no projeto de “ressuscitar” o mamute-lanoso. Em 2025, o foco esteve na criação dos chamados “ratos lanosos”, geneticamente modificados com genes de parentes vivos do mamute, como o elefante-asiático. Os responsáveis defendem que os testes ajudam a estudar genes ligados à adaptação ao frio. Críticos, no entanto, reforçam que esses animais estão longe de ser mamutes — são modelos experimentais, não versões do passado. Dá para acreditar em Baba Vanga? Veja as previsões que não se cumpriram e colocam a vidente em xeque Tecnologia no cotidiano: da comida ao afeto artificial A biotecnologia alimentar também ganhou espaço ao longo do ano. A startup britânica Better Dairy apresentou produtos que derretem e esticam como queijo, mas não levam leite de vaca. A tecnologia usa fermentação de precisão para produzir proteínas do leite por meio de microrganismos, prometendo reduzir a pegada ambiental da produção tradicional de laticínios — uma pauta que ganhou força em 2025. Na área da saúde, pesquisadores do King’s College London desenvolveram um tratamento dentário à base de queratina, proteína presente no cabelo e na pele, capaz de reparar esmalte danificado em testes laboratoriais. A expectativa é que produtos como pastas ou vernizes cheguem ao mercado em dois ou três anos, abrindo novas possibilidades na prevenção da cárie. Entre as propostas mais inusitadas, um designer londrino chamou atenção ao criar chinelos a partir de pó doméstico recolhido do aspirador. Batizado de “Done & Dusted”, o projeto transforma um resíduo invisível em material semelhante ao feltro e propõe uma reflexão sobre consumo e reaproveitamento. Já no cruzamento entre arte e ciência, o coletivo “Bionic and the Wires” converteu sinais elétricos de cogumelos e plantas em música, criando composições guiadas pela atividade biológica dos fungos. A inteligência artificial também passou a ocupar espaços menos óbvios. O sistema IntelliPig começou a analisar expressões faciais de porcos para identificar sinais de estresse ou bem-estar, com a promessa de melhorar as condições de criação animal. No mercado de consumo, o “Moflin” chegou como um animal de estimação feito de algoritmos: reage ao toque, emite sons suaves e, segundo os criadores, pode desenvolver milhões de combinações de personalidade a partir da interação com o usuário. Máquinas cada vez mais humanas — e autônomas A robótica humanoide teve um ano particularmente movimentado. Na China, o robô Agibot Genie-1 demonstrou capacidade de aprender tarefas do mundo real com apoio de controladores humanos, de atividades domésticas a funções em ambientes comerciais. Os desenvolvedores veem a tecnologia como uma possível resposta ao envelhecimento da população e à escassez de mão de obra, embora os custos ainda sejam elevados. Em agosto, Pequim sediou os Mundiais de Robôs Humanoides, reunindo equipes da China, Estados Unidos, Alemanha, Brasil e universidades. Em campo, os robôs jogaram futebol de forma totalmente autónoma, recorrendo à inteligência artificial para localizar a bola, posicionar-se e decidir jogadas em tempo real. A robótica também avançou para ambientes extremos. O OceanOneK, capaz de mergulhar até mil metros de profundidade, permitiu a exploração do fundo do mar com transmissão remota da sensação do tato. Na construção civil, a robô-aranha “Charlotte”, equipada com impressão 3D, apresentou a proposta de erguer estruturas com menos desperdício e maior flexibilidade arquitetônica. Na área médica, próteses biónicas tornaram-se mais rápidas e precisas. A britânica Open Bionics lançou uma nova versão do Hero Arm, testada inclusive em feridos da guerra na Ucrânia. Em paralelo, uma startup tunisina passou a desenvolver próteses com inteligência artificial e impressão 3D para reduzir custos e ampliar o acesso. Outro avanço veio com a ferramenta MELD Graph, que usa IA para identificar anomalias cerebrais associadas à epilepsia, muitas vezes invisíveis em exames convencionais. Olhando para cima: riscos, alimentos e vida fora da Terra No espaço, 2025 manteve um equilíbrio entre vigilância e expectativa. A Agência Espacial Europeia monitorou de perto o asteroide 2024 YR4, que tem pequena probabilidade de colisão com a Terra em 2032. Embora as chances de impacto sejam mínimas, os cientistas reforçam a importância da observação precoce para avaliar riscos e planejar respostas. Ao mesmo tempo, testes com o laboratório automatizado SpaceLab avançaram na produção de alimentos em órbita, um passo importante para reduzir a dependência de reabastecimentos da Terra e preparar missões de longa duração, como futuras viagens a Marte. Foi em abril, porém, que um anúncio reacendeu um dos debates mais antigos da ciência. Pesquisadores relataram a detecção de possíveis sinais de vida na atmosfera do exoplaneta K2-18b, a cerca de 124 anos-luz. Compostos como sulfureto e dissulfeto de dimetilo — que, na Terra, são produzidos apenas por organismos vivos — foram identificados. A descoberta, no entanto, passou a ser questionada por outros cientistas, que pediram cautela e mais dados antes de qualquer conclusão. Ao fim de 2025, a ciência deixou claro que avançou em múltiplas direções, nem sempre com respostas definitivas. Entre experiências que reconstroem o passado, máquinas que aprendem com humanos e sinais intrigantes vindos do espaço, o ano reforçou uma velha lição: o futuro segue em construção — e o debate faz parte do processo.