As metas de saúde estão entre as resoluções de Ano Novo mais populares, mas não conseguir mantê-las é tão comum que virou um clichê. Isso é confirmado por evidências científicas. Estudos mostram repetidamente que mais da metade das pessoas que formulam intenções relacionadas a comportamentos de saúde não consegue colocá-las em prática. É claro que há ressalvas. Metas de saúde de curto prazo têm mais chance de serem cumpridas do que as de longo prazo, e pessoas que estão retomando um comportamento que já praticavam anteriormente tendem a seguir suas intenções com mais facilidade do que aquelas que estão adotando um novo hábito saudável. É importante destacar que ter a intenção de mudar um comportamento é um primeiro passo essencial. Poucas pessoas adotam comportamentos saudáveis regularmente sem essas boas intenções iniciais. No entanto, manter as metas de comportamento em saúde é o fator decisivo. Por que temos tanta dificuldade com metas de saúde? A autorregulação é um tema amplamente estudado na psicologia. Como professor de psicologia da saúde, minha pesquisa se concentra em compreender a chamada “lacuna entre intenção e comportamento” na atividade física e em testar intervenções que possam ajudar a reduzi-la. Minhas próprias pesquisas, assim como estudos de colegas, mostram que a dificuldade em seguir as intenções geralmente vem de duas fontes. A primeira são os desafios estratégicos, que envolvem abordagens falhas ao pensar sobre metas e comportamentos. A segunda são tendências humanas básicas diante do que os psicólogos chamam de conflito de aproximação/evitação: quando algo é atraente e desagradável ao mesmo tempo. No que diz respeito aos desafios estratégicos, os detalhes da própria meta podem ser um dos primeiros indicadores de que alguém terá dificuldades. Por exemplo, a intenção de praticar atividade física costuma se basear em resultados desejados de longo prazo (como controle de peso, condicionamento físico e redução do risco de doenças crônicas), sem considerar adequadamente o tempo e o esforço necessários para realizar a atividade de forma regular. Outro desafio estratégico importante é não considerar a existência de múltiplas metas, o que leva à subestimação dos recursos necessários para executar outros comportamentos. Conciliar várias metas é uma das principais razões pelas quais novas intenções são abandonadas: novos comportamentos, como o exercício, precisam competir ou coexistir com todas as outras coisas que a pessoa precisa ou deseja fazer. Pesquisas contemporâneas também mostram que as pessoas podem ter tendências automáticas que, no conjunto, acabam sabotando os comportamentos de saúde. Por exemplo, existe uma tendência humana básica de buscar experiências agradáveis e evitar experiências desagradáveis. Para muitas pessoas, a atividade física pode ser uma experiência negativa, pois exige que o corpo deixe o repouso e enfrente algum nível de cansaço e desconforto. Essa experiência negativa durante a atividade é mais preditiva do comportamento futuro do que as sensações positivas sentidas após a conclusão do exercício. De forma relacionada, pesquisas da biologia evolutiva sustentam que existe uma tendência humana básica de minimizar o gasto de energia, derivada de uma necessidade evolutiva de sobrevivência. Isso leva as pessoas a evitar movimentos considerados desnecessários (como se exercitar) e a aumentar o armazenamento de energia (beliscando alimentos densos em calorias), criando uma tentação subjacente de abandonar planos de alimentação saudável e atividade física. Estratégias eficazes para manter as intenções Quando entendemos por que não colocamos em prática nossas novas metas de saúde, fica mais fácil desenvolver contramedidas. A pesquisa nessa área está em constante evolução e envolve abordagens diversas. As estratégias podem ser prospectivas (ou seja, desenvolvidas antes da execução da meta) ou reativas (ou seja, usadas no momento da decisão de agir). Para superar desafios estratégicos, estudos mostram a eficácia de desenvolver planos detalhados, como definir o que você vai fazer, como, onde e quando fará, além de prever alternativas caso surjam conflitos com o plano original. Monitorar suas metas regularmente também é uma das abordagens mais eficazes para manter o comportamento em evidência. Em relação às tendências automáticas que atrapalham as intenções de saúde, focar na experiência do comportamento em si é fundamental. Tornar o comportamento saudável o mais agradável, conveniente e significativo possível para você, além de praticá-lo em momentos em que tenha mais energia (para resistir às tentações), aumenta a probabilidade de seguir adiante com as boas intenções. Ainda assim, nos momentos em que surge uma forte vontade de abandonar a meta de saúde em favor de algo mais imediatamente gratificante, é importante parar um instante para reconhecer esses impulsos primitivos, mas agir de acordo com suas intenções e valores. Vale lembrar que a maioria das mudanças de saúde que as pessoas tentam fazer envolve comportamentos de estilo de vida. Assim, alguns dias de deslize são irrelevantes para o objetivo geral. Há também teorias e evidências de que estratégias de autorregulação como as descritas acima tendem a se tornar menos necessárias com o tempo. Isso acontece porque, com a repetição, as pessoas formam hábitos, além de desenvolverem um senso de satisfação ou identidade associado à prática contínua, passando a se reconhecer naquele papel. Portanto, manter essas intenções no curto prazo provavelmente tornará mais fácil sustentá-las ao longo da vida. *Ryan Rhodes é Professor de Saúde e Psicologia da University of Victoria *Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o original.