Chegou a hora das resoluções de ano-novo! Aqueles planos que só valem a partir do primeiro minuto de 2026. Por alguma estranha coincidência, são quase iguais aos de 2025, 2024, 2013, mas isso é detalhe: agora vai! E quais são os nossos planos mirabolantes? Dois quilos a menos? Aquela viagem adiada há tanto tempo? Deixar de ser sócio fantasma da academia? Trabalhar menos e ficar mais com os filhos? Coisas simples, né? Até demais. Não tenho o dom da esperança delirante: Todo mundo sonha com a Mega-Sena da virada, menos eu Manual do hipocondríaco digital: com a internet e as redes sociais, as doenças e as paranoias caem no nosso colo Vejam o que o ex-diretor da PRF, o pequeno Silvinei, aprontou dias atrás: quebrou a tornozeleira eletrônica, colocou malas e cachorro — onde foi parar esse cachorro, meu Deus — no carro e fugiu para o Paraguai. Foi pego no aeroporto com um passaporte falso e uma singela carta afirmando que ele tinha um câncer cerebral gravíssimo, cujo único sintoma — curiosamente — era que ele não conseguia falar nem escutar. Como a gente diz por aqui, meteu o louco. Por pouco não se livrou dos inúmeros crimes que cometeu. Descobriram R$ 400 mil na casa do nobre deputado. Ele foi para a frente das câmeras, afastou os cupins da testa e disse para o Brasil todo que tinha esquecido de depositar a dinheirama no banco. Continua deputado. O dono do banco falido distribuiu dinheiro a torto e a direito, para que as autoridades olhassem para o lado ao ver o banco quebrando. Quando, finalmente, faliu, as tais autoridades saíram assoviando. Nenhuma delas perdeu o cargo. Diante desses exemplos de desfaçatez aguda e imoralidade crônica, acho que a gente tem direito a sonhos maiores em 2026. O que são dois quilos a menos diante dos crimes cometidos nos parágrafos anteriores? O neocafajeste de hoje vai de sandália, shorts, camisa de manga curta, bolsa de couro e um onipresente boné do MST O motoqueiro fura o sinal vermelho e quase causa um acidente grave. Acontece alguma coisa com ele? Nada: fica tudo por isso mesmo. O playboy anda a toda velocidade com sua bicicleta elétrica pela calçada, atropelando idosos e mães com carrinhos de bebê. O playboy, assim como o motoqueiro, não tá nem aí. “Eu quero, eu faço, que se danem os outros”, é o que pensam. Consequência? Nenhuma. E nós aqui, pensando mil vezes nos prós e contras de ligar para aquela pessoa ou se a cotação do dólar vai permitir a viagem dos sonhos. O sujeito leva uma caixa de som gigante para a praia. Senta no meio da multidão e liga o som. Quem canta é um rapazola que enumera suas peripécias sexuais e seu prontuário de crimes. Ele descreve os pormenores, fala de armas e órgãos sexuais com desenvoltura, faz uma mistura fina de machismo, misoginia e a mais pura e comovente falta de educação. Gosto é algo pessoal, cada um ouve o que quer, mas o sujeito aumenta o volume ao máximo para que a praia inteira ouça, sem se importar se há crianças por perto. Mais tarde partirá orgulhoso, deixando na areia uma montanha de lixo e dejetos. Problema? Nenhum. Dua Lipa no Baixo Gávea: celebridade demais estraga qualquer ambiente, mesmo as legais Diante desses exemplos da bagunça que isso aqui virou, de tanta gente ruim fazendo o que dá na telha, sem pensar nos outros, talvez tenha chegado a hora das pessoas comuns realizarem seus sonhos. A gente se acostumou a pedir pouco. A querer só o que parece possível, prudente e razoável. Vamos deixar o medo de lado. Por maiores e melhores resoluções em 2026. Nessa baderna em que estamos, quem deseja algo que não é ilegal e não prejudica ninguém é um verdadeiro herói: merece tudo de bom no ano que vem. Como mandou Lulu Santos, vamos nos permitir.