A avenida Paulista, um dos principais cartões postais de São Paulo, amanheceu tomada por apaixonados pelas corridas de rua. Neste clima de celebração, a 100ª edição da São Silvestre honrou seu legado e reuniu mais de 55 mil participantes no último dia do ano. Um recorde para esta prova de 15 quilômetros que há décadas percorre ruas e avenidas da região central capital paulista. Para além dos tempos anotados pelos atletas de elite — a vencedora da categoria feminina, Sisilia Ginoka Panga (Tanzânia), por exemplo, cravou 51min09s, enquanto o campeão masculino Muse Gizachew (Etiópia) marcou 44m30s com direito a um incrível sprint final —, o fato é que, acima de tudo, a São Silvestre é uma prova essencialmente popular, que a cada ano vê aumentar a legião de anônimos e entusiastas do esporte. O resultado foi uma gigantesca festa a céu aberto na qual nem o calor nem os 2 km da subida final da avenida Brigadeiro Luís Antônio conseguiram atrapalhar. São Silvestre: Corredores da Tanzânia e Etiópia vencem provas feminina e masculina Maria Lealdina da Silva, de 66 anos, que participou da sua primeira São Silvestre Guilherme Queiroz Maria Lealdina da Silva, de 66 anos, por exemplo, participou da sua primeira São Silvestre. Dona de casa, ela conta que a corrida é um esporte praticado em família há muito tempo. O marido, diz Maria, era corredor e morreu em decorrência de um câncer, há um ano. Ela resolveu realizar um sonho antigo e veio com o filho de Juiz de Fora, em Minas Gerais, para a prova. — Sempre tive o sonho, mas nunca a oportunidade de vir por causa também da questão financeira. Aí fizemos um plano, fomos pagando devagarinho pra chegar até aqui. Quero agradecer aos vizinhos, ao pessoal da minha igreja e à minha professora de pilates, que me deu muita força, pois tenho uma lesão no quadril e na lombar. Graças a Deus deu tudo certo — afirma Maria. Integrantes da vasta galeria de "heróis" e personagens da cultura pop sempre presentes na São Silvestre, o casal Arthur Mello, de 56 anos, e Daniela Mello, de 42 anos, decidiram se vestir como os personagens Arlequina e Coringa. Eles contam que se conheceram por meio do esporte. Moradores de Betim, em Minas Gerais, já acumulam três São Silvestre, mas é a primeiras vez que participam fantasiados. — Nos conhecemos com ele correndo atrás de mim, literalmente. Foi amor, casamos e estamos juntos fazendo corridas pelo mundo. Sou apaixonada pela Arlequina então decidimos fazer a São Silvestre centenária fantasiados — diz Daniela. O casal explica que eles encaram a prova quase como um passeio, param para tirar fotos e para conhecer outros corredores. — Aqui é uma alegria só. É curtir mesmo. Aqui não é corrida de competição. Aqui não é para competir, é para divertir — diz Arthur Mello. Rivelino Ribeiro e Rodrigo Costa, de Fortaleza, que participaram da corrida fantasiados com seus apelidos: girafa e galo Guilherme Queiroz Mais experientes, os amigos Rodrigo Costa, de 46 anos, e Rivelino Ribeiro, de 55 anos, correram fantasiados com os apelidos que ganharam ao longo dos anos praticando o esporte: girafa e galo. A dupla de Fortaleza, Ceará, é experiente. Ambos viajaram pelo mundo participando de provas e entraram na corrida para melhorar a saúde. Costa, que é advogado, enfrentava o sobrepeso, e Ribeiro, empresário do setor alimentício, uma hérnia de disco. Ao explicar o motivo do apelido, Costa cacareja como um galo. — Meus amigos chegavam todos (no treino) com uma cara de sono. E eu querendo motivar para começar a treinar, imitava o galo de manhã cedo, assim, ó (cacareja). Aí eu passei a ser chamado de galo — conta Costa. Já Ribeiro conta que ganhou o apelido em uma prova na África do Sul. Ambos dizem que o calor e a subida da (avenida) Brigadeiro foram os maiores desafios deste ano. — Eu senti um pouco a Brigadeiro, né, porque eu estou um pouco sem treinar. A gente está aqui meio que de férias, aí comi muito, fiquei quase duas semanas sem correr — diz Ribeiro. Leandro Gomes, que veio de Maceió para sua terceira São Silvestre Guilherme Queiroz Outro que veio do nordeste para participar da prova é Leandro Gomes, de 56 anos. Morador de Maceió, em Alagoas, Gomes, que é empresário, viaja o Brasil participando de corridas. — Essa é a minha terceira São Silvestre. Já fiz provas em Recife, Aracaju. O calor não me fez diferença, porque a gente treina com temperatura elevada. Agora, quem é do Sul, normalmente sente mais um pouco — conta Gomes. Atletas na categoria PCD, os amigos Jorge Luiz Santos, de 41 anos, e Arthur Colovatti, de 21 Guilherme Queiroz Cientes do desafio, mas nem por isso intimidados, os atletas na categoria PCD Jorge Luiz Santos, de 41 anos, e Arthur Colovatti, de 21, entraram no universo da corrida de rua por razões distintas. Eles se conheceram por meio de uma ONG. Jorge, que é aposentado e vive em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, treina em busca de mais saúde, enquanto Colovatti é atleta paralímpico de halterofilismo. — É a minha terceira São Silvestre, sou de Santo André, São Paulo. Treino desde criança, sempre fiz muito esporte. É uma boa corrida para quem está começando no esporte — diz Colovatti. Ele diz que a principal dificuldade da prova é mesmo a temida subida da Brigadeiro. — Todo mundo fala da Brigadeiro, e é mesmo difícil, mas o percurso em si, mesmo para quem tem uma certa experiência, também é bem difícil, porque no final são 15 quilômetros de prova. Não é uma prova fácil. — diz ele