O prefeito de Recife, João Campos (PSB), voltou atrás e cancelou a nomeação do candidato Lucas Vieira Silva para o cargo de procurador geral do município. A decisão foi publicada no Diário Oficial nesta quarta-feira, após o caso ganhar repercussão nacional. No dia 23, o prefeito nomeou o candidato em questão após uma mudança na lista definitiva de aprovados na condição de pessoas com deficiência. À época da homologação do resultado, no entanto, em junho de 2023, ele constava na 64º posição para concorrer a três vagas de ampla concorrência. Leia: Financial Times cita vitória de Lula nas eleições de outubro entre suas previsões para 2026 Veja também: Justiça suspende liminar e mantém segurança pessoal que Bolsonaro usufrui por ser ex-presidente Dois anos depois, Lucas — filho do juiz Rildo Vieira da Silva e da procuradora do Tribunal de Contas do estado Maria Nilda Silva — questionou o resultado, e apresentou laudo médico afirmando ter o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com a mudança na categoria da concorrência e a republicação do ato homologatório neste mês, João Campos logo o nomeou para o cargo. Nesta semana, a Associação dos Procuradores do Município do Recife (APMR) divulgou uma nota questionando a alteração no certame. Segundo a entidade, a lista definitiva de aprovados para pessoas com deficiência contava com apenas o candidato Marko Venicio dos Santos Batista, agora nomeado pelo prefeito. "Diante desse cenário, os Procuradores do Município do Recife defendem a imediata suspensão da posse e do exercício do candidato nomeado em 23 de dezembro de 2025, que não constava originalmente da lista de candidatos com deficiência homologada em 2023, como medida necessária à preservação da segurança jurídica, da legalidade e da estabilidade da carreira", afirmou a APMR. A publicação no Diário Oficial destaca que Marko Venicio tem um prazo de 20 dias para tomar posse. Ele deverá encaminhar toda a documentação exigida no edital, que indica um salário de até R$ 26.023,23 por mês. Nas redes sociais, o candidato agradeceu o apoio e comemorou a nomeação. Antes, ele afirmou que recebeu a notícia da mudança do certame "com um forte sentimento de injustiça". Segundo ele, dois anos e meio após a homologação, "a regra do jogo não pode mudar". Mudança comemorada A APMR afirmou que apresentou um pedido de reconsideração pelo candidato prejudicado "ratificado de forma unânime pela categoria em assembleia geral". Após a pressão, o Procurador-Geral do Município reconsiderou a mudança na classificação. "Em decorrência dessa reavaliação, foram tornados sem efeito o ato de reclassificação posterior à homologação do certame e a portaria de nomeação do candidato que não figurava originalmente na lista de pessoas com deficiência", informou a entidade. A Associação Nacional das Procuradoras e dos Procuradores Municipais (ANPM) também se manifestou sobre o ocorrido. Em nota divulgada nesta terça-feira, a organização afirmou que acompanhava o caso "com preocupação", e a suspensão da posse de Lucas era "imprescindível", sem haver espaço para escolhas a partir de "preferências políticas". João Campos: o perfil do prefeito de Recife "Embora a chefia do executivo disponha de espaços legítimos de escolha para determinados cargos de direção, o provimento dos cargos efetivos da carreira deve observar, de forma rigorosa, as normas do edital e os princípios da impessoalidade e da igualdade", questionou a ANPM. Outras entidades de classe como a Associação dos Procuradores do Município de Belém (APMB) e os Procuradores do Ministério Público de Contas do Estado da Paraíba (MPC-PB) também manifestaram repúdio. Marko Venicio é servidor do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) e integra o corpo de assessoramento do MPC-PB. "Durante sua trajetória no MPC-PB, demonstrou não apenas um indiscutível saber jurídico e o necessário rigor técnico, mas também uma integridade ética e compromisso com o interesse público que o credenciam como um profissional que merece total solidariedade nesse cenário de injustiça", diz o comunicado dos procuradores paraibanos. Prefeito criticado O prefeito João Campos não se manifestou sobre o caso. Nas redes sociais, em publicações sobre outros assuntos, ele foi questionado pelos cidadãos de Recife pela nomeação considerada injusta. Em seu post mais recente, sobre a disponibilização de veículos elétricos para entregadores de aplicativo na capital, internautas publicaram comentários como "queria negociar uma nomeação" e "é nessas bicicletas que eu consigo chegar em primeiro nos concursos?". "Estou em 102º lugar, você pode me colocar em 1º?", ironizou outra pessoa.