Frigoríficos preveem prejuízo de até US$ 3 bi com nova tarifa da China

Entidades representativas do setor de carnes manifestaram preocupação com a decisão da China de aplicar salvaguardas às importações de carne bovina, medida que impõe cotas e uma tarifa adicional de 55% para volumes excedentes. Em nota publicada nesta quarta-feira, 31, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) estima que o impacto pode resultar em uma perda de até US$ 3 bilhões em receita para o Brasil em 2026. A decisão publicada pelo Ministério do Comércio da China estabelece quotas de importação de carne bovina para os principais países fornecedores pelo período de três anos, de 2026 a 2028. Para o Brasil, a quota inicial será de 1,1 milhão de toneladas em 2026, com incremento de cerca de 2% nos dois anos seguintes. Volumes exportados acima desse limite estarão sujeitos a uma tarifa adicional de 55%, o que, segundo a Abrafrigo, “deve inviabilizar exportações fora do teto estabelecido”. + Leia mais notícias do Agronegócio em Oeste A associação ressalta que, em 2025, as exportações brasileiras de carne bovina devem superar US$ 18 bilhões, aproximadamente metade destinadas à China. O país asiático responde por 55% das exportações brasileiras de carne bovina in natura . Neste ano, o Brasil deve ultrapassar 1,6 milhão de toneladas enviadas ao mercado chinês. A importância da China para o setor também é evidenciada pela evolução recente dos embarques. A receita obtida com exportações ao país asiático passou de US$ 5 bilhões até novembro de 2024 para US$ 8 bilhões em 2025, alta de quase 50%. No mesmo período, o volume exportado cresceu de 1,2 milhão para 1,5 milhão de toneladas. Esses números fazem da China o principal comprador da carne bovina brasileira, responsável por quase metade do faturamento total e por 40% do volume exportado no acumulado do ano. Além do impacto comercial, a Abrafrigo afirma que a medida ocorre em um momento delicado para a pecuária nacional, marcado por redução de oferta e transição do ciclo pecuário . “É uma medida que pode funcionar como fator de desestímulo para o pecuarista investir mais na atividade, ampliando a produção”, afirma a entidade. Segundo a associação, os efeitos podem se estender por toda a cadeia produtiva, com reflexos sobre geração de renda, emprego e investimentos no campo. Posição semelhante foi apresentada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em nota conjunta, as entidades afirmam que a aplicação das salvaguardas “altera as condições de acesso ao seu mercado e impõe uma reorganização dos fluxos de produção e de exportação”. Elas destacam que a China permanece como o principal destino da carne bovina brasileira e um mercado essencial para o funcionamento da pecuária nacional. Segundo Abiec e CNA, os embarques ao mercado chinês envolvem produtos com valor agregado e perfil distinto do consumo doméstico, associados à geração de emprego e renda. As entidades lembram que a cadeia da pecuária bovina tem papel central na economia brasileira e sustenta cerca de 7 milhões de empregos diretos e indiretos. Aproximadamente 70% da carne bovina produzida no Brasil é destinada ao mercado interno, enquanto cerca de 30% é exportada. Entenda a nova taxa da China O Ministério do Comércio da China impôs uma tarifa adicional de 55% sobre a carne bovina importada de países como Brasil, Argentina, Uruguai e Estados Unidos sempre que as compras ultrapassarem limites preestabelecidos. A nova regra entra em vigor nesta quinta-feira, 1º, e terá validade até 31 de dezembro de 2028. Para 2026, o Brasil terá direito a exportar cerca de 1,1 milhão de toneladas de carne bovina sem a tarifa adicional. Dentro da quota, será aplicada uma tarifa de 12%. Para os volumes excedentes, a sobretaxa de 55% elevará a tarifa total para 67%. Argentina e Uruguai terão cotas de aproximadamente 550 mil e 300 mil toneladas, respectivamente, enquanto Austrália e EUA contarão com limites menores. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e presidente da República Popular da China, Xi Jinping em Cerimônia Oficial de Recepção - Pequim - China | Foto: Ricardo Stuckert/PR O governo chinês informou que as cotas foram calculadas com base nas importações realizadas entre junho de 2021 e junho de 2024. Segundo a China, a investigação considerou carnes frescas e congeladas, com ou sem osso. Em comunicado oficial, um porta-voz afirmou que a medida “visa a ajudar temporariamente a indústria nacional a superar dificuldades, e não restringir o comércio normal de carne”. Diante do novo cenário, o governo brasileiro anunciou que pretende negociar com a China para mitigar os efeitos da tarifa. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil pode propor assumir cotas de países que não utilizarem seus limites. “Vamos propor a eles que, se algum país não for cumprir a sua cota, que transfira ao Brasil”, disse. Segundo o ministro, o governo já tinha conhecimento das medidas e avalia que os impactos são limitados. “De modo geral, não é algo preocupante”, afirmou. “O Brasil está relativamente preparado para intempéries comerciais.” Leia também: “É uma tragédia – temos comida demais” , artigo de J. R. Guzzo publicado na Edição 200 da Revista Oeste O post Frigoríficos preveem prejuízo de até US$ 3 bi com nova tarifa da China apareceu primeiro em Revista Oeste .