As 500 pessoas mais ricas do mundo acrescentaram um recorde de US$ 2,2 trilhões às suas fortunas conjuntas neste ano, em grande parte graças ao forte avanço de diversos mercados, como ações, criptomoedas e metais preciosos, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Os ganhos, que elevaram o patrimônio líquido conjunto das 500 pessoas do ranking para US$ 11,9 trilhões, foram fortemente impulsionados pela vitória eleitoral de Donald Trump no fim de 2024 e só foram brevemente interrompidos pelos temores em torno de tarifas em abril, quando a queda dos mercados provocou a maior destruição de riqueza em um único dia desde a pandemia. As grandes empresas de tecnologia lideraram o avanço, já que a euforia em torno da inteligência artificial continuou impulsionando as ações de grande capitalização nos Estados Unidos. Cerca de um quarto de todos os ganhos registrados pelo índice de riqueza da Bloomberg veio de apenas oito pessoas, entre elas o presidente da Oracle, Larry Ellison; o diretor executivo da Tesla, Elon Musk; o cofundador da Alphabet Inc., Larry Page; e o fundador da Amazon.com, Jeff Bezos. Ainda assim, essa contribuição foi menor do que a do ano passado, quando esses mesmos oito bilionários responderam por 43% do total dos ganhos. Quando o ano começou, Musk era, sem discussão, o nome mais destacado na lista dos mais ricos do mundo. Ele se tornou pela primeira vez um ator político de peso após doar quase US$ 300 milhões à campanha de reeleição de Trump e passou grande parte dos primeiros meses de 2025 em Washington, liderando os esforços do governo para cortar custos. No entanto, foi Ellison — e não Musk — quem acabou chamando mais atenção. Impulsionado por uma forte alta das ações da Oracle, graças aos seus enormes investimentos em inteligência artificial, Ellison superou brevemente Musk como o homem mais rico do mundo em setembro. Embora as ações da Oracle tenham recuado cerca de 40% em relação ao pico posteriormente, Ellison terminou o ano em destaque nos noticiários por sua participação na oferta da Paramount Skydance, liderada por seu filho David Ellison, para adquirir a Warner Bros. Discovery. Os ganhos não se limitaram aos Estados Unidos. Enquanto o índice S&P 500 registrou uma alta anual de 17% até 30 de dezembro, ele foi superado por um avanço de 22% do FTSE 100 do Reino Unido e por um salto de 29% do Hang Seng de Hong Kong. Outras classes de ativos tiveram desempenho ainda melhor. Os metais preciosos registraram um de seus melhores anos em décadas, em meio a uma forte busca por ativos de refúgio, enquanto o cobre e as terras raras também emergiram como commodities de grande importância geopolítica. Entre os principais beneficiados estiveram a magnata da mineração australiana Gina Rinehart e a família Luksic, do Chile, que acrescentaram bilhões de dólares às suas fortunas. Antes de uma recente liquidação em massa, as criptomoedas também estavam a caminho de superar o desempenho das ações no ano. O bitcoin atingiu máximas históricas após a vitória eleitoral de Trump e ampliou esses ganhos depois que o governo aprovou uma série de políticas favoráveis ao setor. No entanto, uma forte queda iniciada em outubro apagou todos esses ganhos e ainda mais, atingindo a riqueza de bilionários como os irmãos Winklevoss, Changpeng Zhao e Michael Saylor. A seguir, uma lista de alguns dos maiores ganhadores e perdedores do ano, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Larry Ellison Patrimônio líquido: US$ 249,8 bilhões Ganho anual: US$ 57,7 bilhões Larry Ellison, CEO da Oracle Arquivo Aos 81 anos, o cofundador da Oracle está assumindo mais responsabilidades na gestão diária da empresa e lidera sua enorme aposta em infraestrutura de inteligência artificial. O patrimônio líquido de Ellison aumentou em US$ 89 bilhões em 10 de setembro, após um sólido relatório trimestral de resultados ligado aos planos de expansão em IA da Oracle — o maior aumento de riqueza em um único dia já registrado pelo índice da Bloomberg até então. Ellison também vem aplicando sua fortuna no setor de mídia, ao garantir pessoalmente a parte de capital da oferta hostil de US$ 108 bilhões de seu filho David para comprar a Warner Bros. Os planos em andamento da Oracle para liderar o projeto de infraestrutura de IA Stargate, avaliado em US$ 500 bilhões, e assumir uma participação nas operações do TikTok nos EUA podem continuar redefinindo a riqueza de Ellison em 2026 e nos anos seguintes. Elon Musk Patrimônio líquido: US$ 622,7 bilhões Ganho anual: US$ 190,3 bilhões Elon Musk discursa durante evento a apoiadores de Trump no dia da posse do presidente americano Christopher Furlong/Getty Images/AFP Depois de se tornar o maior doador das eleições de 2024, Musk passou grande parte da primavera em Washington, enquanto seu Departamento de Eficiência Governamental cortava verbas e promovia demissões em massa em agências federais. Isso teve um custo para seu patrimônio, já que as ações da Tesla foram duramente atingidas, em parte pela rejeição de consumidores à sua atuação política. No entanto, sua fortuna se recuperou depois que ele deixou a Casa Branca, após um confronto público com Trump. Uma recente venda interna de ações da SpaceX transformou a empresa na companhia privada mais valiosa do mundo e elevou sua riqueza para acima de US$ 600 bilhões pela primeira vez. Além disso, os acionistas da Tesla aprovaram um novo pacote de remuneração que lhe abre um caminho claro para se tornar o primeiro trilionário do mundo, caso cumpra uma ambiciosa série de metas de desempenho nos próximos anos. Gina Rinehart Patrimônio líquido: US$ 37,7 bilhões Ganho anual: US$ 12,6 bilhões Gina Rinehart, a pessoa mais rica da Austrália Bloomberg Poucos bilionários se beneficiaram tanto neste ano da corrida para garantir o fornecimento de terras- raras quanto a pessoa mais rica da Austrália. Principalmente por meio de sua empresa privada, a Hancock Prospecting, Rinehart reuniu o maior portfólio de terras- raras fora da China e se posicionou como uma figura-chave na batalha geopolítica pelo controle desses materiais, essenciais para tecnologias como semicondutores e veículos elétricos. Ela também participou de eventos no complexo Mar-a-Lago de Trump, na Flórida, e é investidora da Trump Media & Technology Group, empresa que opera a rede social do presidente, a Truth Social. Rinehart aumentou o tamanho de sua participação em cerca de dois terços nos três meses até 30 de junho. Donald Trump e sua família Patrimônio líquido: US$ 6,8 bilhões Ganho anual: US$ 282 milhões O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Doug MILLS / POOL / AFP Desde o início de sua campanha de reeleição, Trump e sua família se envolveram em uma série de negócios que enriqueceram o clã em uma escala sem precedentes na história presidencial moderna. Nos últimos 15 meses, a fortuna da família cresceu cerca de 70%, mesmo após uma queda recente. Nos dias que antecederam sua segunda posse, Trump e sua esposa, Melania, promoveram um par de memecoins com seus nomes, que subiram fortemente antes de despencar. Ainda assim, o token de Trump acrescentou mais de US$ 200 milhões à riqueza familiar, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Trump também cofundou a plataforma cripto World Liberty Financial com seus filhos semanas antes das eleições de 2024. Desde então, Donald Trump Jr. e Eric Trump passaram a se dedicar a projetos cripto, incluindo a mineradora de ativos digitais American Bitcoin. Um dos principais ativos de Trump, uma participação na Trump Media, disparou em valor em dezembro após o anúncio de uma fusão com a empresa de fusão nuclear TAE Technologies, embora ainda permaneça mais de 70% abaixo de seus picos de janeiro. O presidente também obteve uma vitória em agosto, quando uma multa civil por fraude de US$ 464 milhões foi anulada em grau de apelação, embora o tribunal tenha mantido a conclusão de que ele violou a lei ao inflar o valor de ativos como seu complexo Mar-a-Lago. Perdedores Manuel Villar Patrimônio líquido: US$ 10 bilhões Perda anual: US$ 12,6 bilhões Villar, que já foi o homem mais rico das Filipinas, viu mais de US$ 18 bilhões de sua fortuna desaparecerem em questão de dias depois que as ações de sua incorporadora imobiliária, Golden MV Holdings, despencaram mais de 80% após o fim de uma suspensão de negociações de seis meses, em novembro. As negociações haviam sido interrompidas depois que a Golden MV não apresentou resultados financeiros, após vir à tona que havia comprado um terreno de Villar por US$ 93 milhões, posteriormente reavaliado em mais de US$ 23 bilhões. Neste mês, Villar também vendeu toda a sua participação na empresa de serviços de água PrimeWater ao magnata do varejo Lucio Co. A PrimeWater havia sido investigada pelo governo em julho por possíveis “irregularidades”. Bob Pender e Mike Sabel Patrimônio líquido: US$ 7 bilhões cada Perda anual: US$ 17,7 bilhões cada Mike Sabel, le (E) e Bob Pender da Venture Capital Bryan Tarnowski/Bloomberg Após três anos fracos para ofertas públicas iniciais, a abertura de capital em janeiro da fornecedora de gás natural liquefeito Venture Global parecia o início de um grande ano para novas emissões, impulsionado por um governo favorável aos negócios e por um enorme volume de operações pendentes. A oferta da Venture Global daria a seus cofundadores participações avaliadas em quase US$ 30 bilhões cada e seria a maior IPO do setor energético em mais de uma década. No entanto, a oferta não correspondeu às expectativas: a demanda morna obrigou a reduzir o tamanho da operação e as ações caíram mais de 70% desde então, após resultados trimestrais decepcionantes e a perda de um processo de arbitragem contra a BP, um de seus maiores clientes. Michael Saylor Patrimônio líquido: US$ 3,8 bilhões Perda anual: US$ 2,6 bilhões Michael Saylor, da Strategy Bloomberg Durante a primeira metade do ano, a Strategy, de Saylor, foi uma das estrelas do boom das criptomoedas, que atingiu máximas históricas após a vitória eleitoral de Trump em novembro de 2024 e continuou subindo à medida que o governo implementava políticas favoráveis ao setor. A Strategy foi pioneira no modelo de “empresa tesoureira de criptomoedas”, ao manter bilhões de dólares em bitcoin em seu balanço e vender regularmente ações adicionais para captar recursos e continuar acumulando ativos digitais. Esse modelo gerou retornos enormes até o início de outubro, quando o bitcoin atingiu novos recordes. Pouco depois, porém, a tendência se inverteu, e a queda do valor do bitcoin derrubou a cotação da Strategy em mais da metade, reduzindo o patrimônio de Saylor em quase US$ 6 bilhões em relação ao pico. Wang Xing Patrimônio líquido: US$ 7,9 bilhões Perda anual: US$ 3,5 bilhões Wang Xing, cofundador e presidente da Meituan Bloomberg Wang, cofundador e presidente da Meituan, a maior plataforma de entrega de comida da China, viu sua riqueza cair quase 31% em 2025, depois que a empresa reportou em novembro sua primeira perda trimestral em quase três anos. Embora os mercados acionários chineses tenham tido um ano de destaque — o índice Shanghai Composite avançou 18% —, a Meituan sofreu com a fraca demanda interna e a concorrência da Alibaba Group Holding e da JD.com. Como resposta aos desafios locais, a Meituan avançou em sua expansão internacional, com entradas recentes no Brasil e no Oriente Médio.