A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) emitiram uma nota conjunta, na qual critica o governo pela falta de tratamento com semaglutida no tratamento da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS). O medicamento é popularmente conhecido como “canetas emagrecedoras”. “No Brasil, existem seis medicamentos para tratamento da obesidade que são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, afirmaram. “No entanto, o acesso aos mesmos é exclusivo apenas para quem consegue pagar. A indisponibilidade no sistema público fere os beneméritos princípios de equidade, universalidade e integralidade do SUS. Não é aceitável que não seja disponibilizado sequer um medicamento de baixo custo que é amplamente utilizado. Também não é aceitável que, frente ao claros benefícios dos medicamentos de nova geração, como a liraglutida e a semaglutida, os mesmos também não sejam disponibilizados para alguns pacientes de grupos específicos de maior risco, com contraindicação ao medicamento de baixo custo.” + Leia mais notícias de Saúde em Oeste A semaglutida já é aprovada para o tratamento da obesidade em vários países na dose de 2,4 mg por semana. No Brasil, a Anvisa aprovou a substância em janeiro deste ano, mas apenas a versão de até 1 mg, destinada ao tratamento de diabetes tipo 2, está disponível. Essa limitação leva ao uso “off label” quando aplicada em casos de obesidade. Outro ponto levantado pelas entidades é o custo do medicamento, considerado alto e inacessível para a maior parte da população. A nota ressalta que “infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usada pela maior parcela da população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde”. + ‘Ozempic brasileiro’ chega às farmácias por R$ 300 “Essa estratégia equivocada e inadequada sinaliza que os pacientes do SUS continuarão assistindo a elitização do tratamento e permanecerão indefinidamente sem assistência”, analisaram. “Desde 2019, a Conitec negou cinco vezes a incorporação de medicamentos para a obesidade, sempre com a mesma justificativa: o custo. A Abeso, a SBD e a Sbem discordam da decisão e lamentam pelos pacientes, notadamente pelas mulheres negras periféricas de baixa renda, que são as mais afetadas pela obesidade nos últimos anos.” Como medida de longo prazo, as associações afirmam que trabalham para ampliar o acesso da população a tratamentos para a obesidade. “Buscamos, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis à maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade”, informam. Alerta à grande repercussão do medicamento As entidades levantaram um alerta diante da crescente repercussão das “canetas emagrecedoras” no país, especialmente depois do seu uso ganhar destaque em reportagens e em declarações de celebridades. Na nota, as entidades destacam que “a obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento” e, por isso, defendem que o uso de medicamentos deve ser feito sempre com acompanhamento médico, associado a mudanças no estilo de vida. + Dona do Ozempic recorre ao STJ para tentar manter patente “A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente”, afirmam. As associações também criticam a forma como parte da imprensa tem tratado o tema, misturando casos de tratamento sério da obesidade com a busca estética por emagrecimento rápido. Segundo o documento, “o uso de curto prazo de medicações para fins estéticos deve ser tratado de forma muito distinta do tratamento sério da obesidade”. Mau uso das “canetas emagrecedoras” A Abeso e a Sbem reforçam que o uso inadequado das “canetas emagrecedoras” pode trazer riscos e aumentar o estigma contra pessoas com obesidade. “O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações anti obesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade”, destaca o texto. As entidades também lembram que apenas a venda com prescrição médica deve ser permitida e que os profissionais de saúde têm a responsabilidade de acompanhar periodicamente a segurança e a eficácia do tratamento. O post Entidades médicas criticam recusa do governo em incluir tratamento contra a obesidade apareceu primeiro em Revista Oeste .