O cinema brasiliense voltou a ocupar o centro das atenções nacionais. O longa-metragem A Natureza das Coisas Invisíveis, dirigido por Rafaela Camelo, encerrou sua participação no 53º Festival de Cinema de Gramado com três reconhecimentos importantes: Melhor Atriz Coadjuvante para Aline Marta Maia, Melhor Trilha Musical para Alekos Vuskovic e o cobiçado Prêmio Especial do Júri. A cerimônia de encerramento, no último sábado (23), coroou 11 dias de celebração do audiovisual na Serra Gaúcha, que reuniu cineastas, artistas, jornalistas, estudantes e um público estimado em 40 mil pessoas. O filme, coprodução entre Brasil e Chile, nasceu no Distrito Federal e já chega ao circuito como um dos títulos mais premiados da temporada. Trata-se de um delicado coming of age sobre amizade, despedidas e descobertas. Durante as férias de verão, Glória (Laura Brandão) e Sofia (Serena), duas meninas de dez anos, se conhecem em um hospital e, unidas pelo desejo de sair dali, embarcam em uma jornada agridoce sobre vida e morte. “É uma história que fala das verdades que os adultos tentam suavizar, mas que as crianças enfrentam com coragem”, sintetiza a diretora. Aline Marta Maia, premiada pela interpretação de Francisca, a bisavó de Sofia, consolidou em Gramado uma sequência de reconhecimentos. Nos últimos anos, foi eleita Melhor Atriz Coadjuvante também no Festival do Rio de 2022 e 2023, por Carvão e Pedágio, ambos dirigidos por Carolina Markowicz. “É um papel que me atravessou profundamente. Receber esse prêmio em Gramado é sentir que essa história ressoou de verdade”, disse emocionada. O elenco de A Natureza das Coisas Invisíveis também conta com a brasiliense Larissa Mauro, fundadora da Andaime Cia de Teatro e atriz do longa New Life S.A., e com Camila Márdila, conhecida pela atuação em Que Horas Ela Volta?. Ao lado de Laura Brandão e Serena, que dão vida às protagonistas, formam um conjunto de interpretações que traduzem a delicadeza e a força do projeto. A trilha premiada, assinada por Alekos Vuskovic, foi celebrada pelo júri como um elemento que amplia a carga poética da narrativa. Entre silêncios, melodias e atmosferas sonoras, a música conduz a jornada das meninas, evocando um lirismo raro. Com estreia nacional marcada para 27 de novembro pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras, iniciativa dedicada à distribuição de obras brasileiras independentes, o longa será exibido em salas de todo o país com apoio da Vitrine Filmes e patrocínio da Petrobras. Antes disso, terá uma sessão de gala no dia 20 de setembro, no encerramento do 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro — sua casa, de onde partiu para o mundo. O percurso internacional do filme também impressiona. Selecionado para a Seção Generation Kplus do Festival de Berlim de 2025, já conquistou o prêmio de Melhor Filme do Júri Infantil no 43º Festival Internacional de Cinema do Uruguai, uma Menção Especial na Competição Ibero-Americana do Festival de Seattle (SIFF) e o “Outstanding First Feature” no Frameline49, Festival Internacional de Cinema LGBTQ+ de São Francisco. “É uma obra que nasceu no DF, mas que dialoga com públicos diversos em qualquer lugar do mundo”, comenta Rafaela Camelo. Produzido pela Moveo Filmes, Pinda Producciones e Apoteótica Cinematográfica, com distribuição da Sessão Vitrine Petrobras no Brasil e The Open Reel no exterior, o filme reafirma o espaço da produção independente como potência criativa e sensível. Com A Natureza das Coisas Invisíveis, Brasília se inscreve mais uma vez na história do cinema brasileiro contemporâneo. A emoção das protagonistas ecoa também na trajetória do próprio longa, que atravessa fronteiras, acumula reconhecimentos e reafirma a vitalidade do olhar feminino no cinema nacional.