França convoca embaixador dos EUA após comentários ‘inaceitáveis’ sobre antissemitismo de Macron

O governo francês convocou nesta segunda-feira o embaixador dos Estados Unidos em Paris, Charles Kushner, após declarações consideradas “inaceitáveis” contra o presidente Emmanuel Macron. Em carta enviada ao líder francês e revelada no domingo, o diplomata americano acusa o governo da França de adotar uma postura insuficiente diante do crescimento do antissemitismo no país. Crise: 'Tarde demais', lamentam palestinos após ONU declarar que há fome na Cidade de Gaza Entenda: Rival de Netanyahu propõe governo de coalizão para garantir acordo de reféns em Gaza No texto, Kushner expressa “profunda preocupação com o aumento dramático do antissemitismo na França” e afirma que, diante da escalada de violência, Paris tem falhado em agir com firmeza. “Na França, não passa um dia sem que judeus sejam agredidos nas ruas, sinagogas e escolas sejam depredadas ou comércios judeus sejam vandalizados”, escreveu. Kushner é pai de Jared Kushner, genro do presidente Donald Trump. A carta escrita por ele foi datada como segunda-feira, 25 de agosto, dia em que se completam 81 anos da libertação de Paris pelas forças aliadas — evento que marcou o fim da deportação de judeus do território francês durante a ocupação nazista. A crítica do embaixador ecoa a reação de Netanyahu ao afirmar que “gestos de reconhecimento de um Estado palestino encorajam os extremistas”. Na semana passada, o premier israelense acusou Macron de “fomentar o antissemitismo” após o presidente francês ter defendido publicamente o “reconhecimento internacional” do Estado da Palestina. Assim como o texto de Kushner defende, o premier acredita que a postura de Paris contribui para enfraquecer Israel. As críticas provocaram forte reação do Ministério das Relações Exteriores francês, que afirmou que as declarações violam a Convenção de Viena de 1961, que rege as relações diplomáticas e proíbe a ingerência nos assuntos internos de outros Estados. O tom foi semelhante ao adotado pelo Palácio do Eliseu ao reagir aos comentários de Netanyahu. Na ocasião, a Presidência francesa afirmou que “este é um momento que exige seriedade e responsabilidade, não confusão e manipulação”. A França registra um aumento significativo nos episódios de antissemitismo desde 7 de outubro de 2023, data do ataque do grupo terrorista Hamas ao território israelense que desencadeou a atual guerra na Faixa de Gaza. Desde então, autoridades francesas intensificaram medidas de segurança em torno de sinagogas e escolas judaicas, mas organizações da comunidade afirmam que a resposta é insuficiente.