Londres: restaurantes recém-chegados que valem a visita

Londres não para — e nem sua cena gastronômica. Enquanto alguns bairros respiram sofisticação e outros ainda lutam por um lugar ao sol (ou melhor, à mesa), a capital britânica segue inaugurando restaurantes com mais velocidade do que o metrô de Piccadilly. Agosto de 2025 chegou com uma nova leva de endereços que fazem valer cada reserva, fila ou desvio de rota e não faltam histórias saborosas por trás de cada um. Tem restaurante que transforma um pub de bairro em Queen’s Park num dos jantares mais aconchegantes do mês (The Salusbury), projeto que dá nova vida a um antigo estrelado de Shoreditch (Duchy), e até rooftop com foie gras, caviar e cheesecake japonês sob o céu de Mayfair (Shanghai Me). Há também empreitadas corajosas em regiões improváveis, como o adorável Gina em Chingford — que talvez não esteja "colocando o bairro no mapa", mas certamente está desenhando um mapa próprio, prato por prato. Entre brasseries parisienses em Mayfair, massas feitas ao vivo em Shoreditch, sabores chilenos que ganham protagonismo e sobremesas que abraçam como nostalgia bem executada, reunimos os melhores novos restaurantes da cidade; aqueles que estão agitando o mês e prometem seguir no radar por muito tempo. A seguir, nossa seleção editorial das melhores estreias de agosto em Londres. Bon appétit (ou melhor, cheers): Melhores novos restaurantes de Londres em agosto de 2025 The Salusbury, Queen's Park The Salusbury, Queen's Park Divulgação "Abrir algo no West End pode ser glamouroso, mas nada faz meu coração palpitar mais do que um restaurante de bairro — adoro o entusiasmo da comunidade com uma inauguração local, a atmosfera acolhedora de vizinhos conversando e o jeito descontraído da equipe que conhece seus clientes profundamente." Fiquei encantado ao descobrir que The Salusbury, um bar tradicional em Queen’s Park — um cantinho do noroeste de Londres cheio de negócios independentes que surgem a cada mês — passaria por uma revitalização. O empreendimento, liderado pelos locais Gareth Cooper (fundador da Broadwick Live, proprietária do Printworks e Drumsheds), Alex Payne (dono do hotel The Rectory) e Jon Drape, manteve viva a história do prédio como um pub querido, ao passo que transformou metade do térreo em uma sala de jantar repaginada. A decoração (assinado por Natasha Hidvigi Design) traz tons de borgonha terrosos, sofás com patina marrom avelã e toalhas de papel típicas de bistrô, que sujam lindamente — sinal de um bom jantar chegando. No cardápio, sob a batuta de Tarryn Bingle (ex-chef no The Rectory e com experiência com Sally Abé), saem delícias como churros de parmesão crocantes por fora e macios por dentro, cacio e pepe de caranguejo sedoso e cordeiro de Suffolk com batatas defumadas — enquanto quem está no bar pode saborear ostras ou pratos para compartilhar, como sardinhas em conserva. Venha por um pint, fique para o jantar — parece novo, mas já tem alma. Endereço: 50–52 Salusbury Rd, London NW6 6NN | @thesalusbury Duchy, Shoreditch Duchy, Shoreditch Divulgação O local era familiar para quem frequenta Shoreditch: ali funcionava o Leroy, estrelado pelo Michelin. Agora, sob nova direção — Alex Grant e Simon Shand, ex-alunos de Leroy —, o restaurante foi reinventado com sutileza e personalidade. Com o olhar voltado para a região do Ducado de Saboia, a cozinha traz fusões francesas e italianas, como salsicha diot com aligot de alho selvagem (uma versão mais elegante do tradicional purê com salsicha) ou peixe-poloco da Cornualha com feijão borlotti e lardo. Há pratos mais leves, como arancini de caranguejo marrom ou anchovas com guincale sobre crostini crocante. As porções são para compartilhar, mas surpreendentemente fartas — vá com moderação. Não deixe de provar o espaguete fresco com sálvia e pecorino; um clássico simples feito com perfeição, especialmente acompanhado pelos vinhos da casa. Reserve lugar com antecedência: em uma noite de verão, a brisa entrando pelas janelas nos encantou — e deu motivos para provar a sobremesa. A torta de damasco com avelã dividida foi o encerramento ideal de uma noite memorável. Endereço: 18 Phipp St, London EC2A 4NU | @duchy.restaurant Shanghai Me, Mayfair Shanghai Me, Mayfair Divulgação Desde o lançamento em Dubai e Doha, aguardávamos ansiosamente essa abertura em Londres. Instalado na cobertura do London Hilton Park Lane, no lugar do icônico Galvin at Windows, o restaurante pode não resgatar totalmente o art déco xangainês dos primeiros, mas compensa com poltronas de veludo vermelho, vista panorâmica e uma das melhores culinárias pan-asiáticas da capital. O chef Izu Ani criou um conceito que atravessa China e Japão com uma breve parada na Mongólia. Tudo ali exala frescor farm-to-table: do tempurá de camarão à pele crocante ao calamari inicial. Destaque para a salada de pato assado com pinoli e frutas — e para o pato com foie gras e caviar, combinação inesquecível. Os pratos principais surpreendem: panquecas com pato ao estilo cantonês (ao invés do tradicional), arroz frito com grão curto e sabor wok hei, costeletas de cordeiro mongol macias, e robalo prateado com miso que se derrete; o combinado com temaki é perfeito. Harmonizar tudo com sake Dewazakura foi acertar em cheio. De sobremesa, o cheesecake japonês com compota de berries, calda de baunilha e caramelo foi destaque — mas a torta da sorte gigante, coberta em chocolate e recheada com mousse de matchá, roubou a cena. A mensagem dentro dela talvez fosse: “Este lugar vai agradar muitos estômagos por anos.” Concordamos totalmente. Endereço: 28º andar, London Hilton on Park Lane, 22 Park Lane, London W1K 1BE | @shanghaimelondon Gina Gina Divulgação Pode ser um exagero dizer que o Gina está colocando Chingford no mapa — esta é uma área tipicamente suburbana, uma parte arborizada do nordeste de Londres para onde só os verdadeiros amantes da gastronomia se aventuram. Mas é justamente essa ousadia, contrariando as probabilidades, que dá charme a este novo restaurante de bairro. O casal Ravneet Gill e Mattie Taiano já provou seu talento na cena gastronômica da capital: Gill comandou a parte de confeitaria em restaurantes como St. John, Zuma e Black Axe Mangal, enquanto Taiano já cozinhou no The Camberwell Arms, Franks e Som Saa. O Gina representa a primeira empreitada solo do casal no bairro onde vivem, encaixado entre imobiliárias e mercearias em uma rua pouco atraente no final da linha do Overground. Gill tem documentado os desafios de abrir um restaurante independente em “o pior ano da história para restaurantes” no blog Club Gina, oferecendo conselhos sobre tudo — desde a importância da taxa de serviço até como projetar o banheiro perfeito. Já chego torcendo por eles, enquanto nos acomodamos sob o toldo listrado numa quente noite de verão. Os garçons circulam vestindo elegantes jaquetas lilás ou marrom-chocolate, enquanto saboreio o martíni do Gina — pequeno, mas potente, feito com vodca infusionada em azeite, batizado em homenagem à musa e homônima do restaurante, a falecida mãe de Taiano. Começamos com fatias douradas e arroxeadas de beterraba em um pesto de pistache doce e alho frito, seguidas de pimentões piemonteses assados cobertos com stracciatella cremosa e anchovas cruzadas — tudo acompanhado de pedaços de sourdough recém-assado. No quadro de especiais do dia, havia opções como carne bovina envelhecida de Sussex com molho de pimenta-verde e costeleta de porco alimentado com soro de leite, servida com maionese de mel e mostarda, mas optamos por um linguado inteiro, perfeitamente cozido, servido com salicórnia e generosamente regado com manteiga dourada. Acompanhamos com uma carga dupla de carboidratos: batatas fritas triplamente cozidas e o espaguete clássico do Gina ao molho de tomate. Enquanto Taiano comanda os pratos principais, Gill criou uma charmosa carta de sobremesas com um toque retrô que lembra os tempos da escola — só que muito mais sofisticadas. Pudim de arroz, bolo de chocolate e um cobbler de pêssego com clotted cream (creme espesso típico britânico) marcaram nossa noite com chave de ouro. Anotamos na agenda: precisamos voltar para o almoço de domingo, quando pratos para compartilhar incluem cordeiro assado com salada grega e tzatziki, ou frango assado na brasa com aioli. Saio com o estômago cheio, mas acima de tudo com o coração aquecido — e a esperança de que mais sonhadores corajosos sigam o exemplo do Gina, deixando de lado os bairros saturados para atender comunidades que mais precisam. Endereço: Gina, 92 Station Road, Londres E4 7BA | @gina.restaurant Osteria Angelina, Spitalfields Osteria Angelina, Spitalfields Divulgação Enquanto a unidade original da Angelina em Dalston continua sendo uma vitrine para menus kaiseki experimentais — com desfiles de 13 pratos delicados de crudo e massas — sua nova irmã em Shoreditch é uma evolução mais descontraída e ampliada do mesmo conceito de fusão entre culinária japonesa e italiana. Segundo o fundador Joshua Owens-Baigler, a ideia era criar algo completamente diferente: um menu à la carte voltado para um público mais jovem — trabalhadores do pós-expediente, casais em encontros informais e visitantes ocasionais — potencializado pela localização, em frente ao recém-inaugurado Noisy Oyster, bem perto da Shoreditch High Street. Tudo na Osteria Angelina é maior, mais barulhento e mais confiante: o balcão da cozinha aberta se estende por toda a parede dos fundos, onde os chefs grelham carnes e peixes em carvão binchō-tan; há um “laboratório de massas” na vitrine da frente, onde massas frescas são preparadas como espetáculo culinário, às vezes até de madrugada; e o menu declara: “Não existe maneira certa de pedir. Não há código de vestimenta. Use as mãos. Sinta-se em casa”. Levei isso a sério e tentei raspar com uma colher os molhos rasos de ponzu ou gergelim preto enquanto explorávamos o cardápio, dividido em pão, salada, crudo, fritti, massas e grelhados. O pão de leite Hokkaido com kumquat e manteiga de mel queimado lembra uma versão sofisticada de torrada com geleia que faria o ursinho Paddington arrumar as malas para Shoreditch. O atum com ponzu da casa e wasabi fica ainda mais macio graças ao toque untuoso do azeite; flores de abobrinha recheadas com ricota de missô e salpicadas com shichimi são tão viciantes que eu comeria uma dúzia. O raviolo especial com gema curada e trufa negra é um dos destaques decadentes entre as massas — prato para ir com tudo. A arraia de Brixham da grelha poderia ter recebido um pouco mais da manteiga de ouriço-do-mar, mas os vegetais Namayasai amanteigados e levemente salgados unificaram o conjunto. De sobremesa, o genmaicha purin (pudim japonês de chá verde) é um elegante crème caramel disfarçado com sabor de chá. A carta inclui extensa seleção de grappas e saquês, além de coquetéis criativos como o Shinjuku Albatross (abacaxi com especiarias e mezcal) ou o inusitado Big Cheese, com toque de parmesão. Owens-Baigler nos contou que um cliente da mesa ao lado frequenta a unidade de Dalston todo mês há cinco anos e agora migrou para cá. E eu entendo perfeitamente o porquê — é a mesma paixão milimetricamente focada, agora com ambições ainda maiores e mais ousadas. Endereço: Osteria Angelina, 1 Nicholls Clarke Yard, Londres E1 6SH | @angelina.london 74 Duke, Mayfair 74 Duke, Mayfair Divulgação Era uma daquelas noites perfeitas de verão em Mayfair; pessoas saindo do trabalho tomavam pints na calçada, amigos conversavam enquanto tomavam lattes gelados cercados de sacolas da New Bond Street, e, em uma esquina tranquila da Duke Street, garçons elegantes com coletes pretos e longos aventais iam e vinham entre mesas cobertas por toalhas brancas de linho no 74 Duke. A brasserie parisiense é o mais novo projeto da BVC Hospitality (também responsável por North Audley Canteen e Supernova), perfeitamente cronometrado para aproveitar o bom momento da culinária francesa em Londres. A decoração, como o público, é polida e refinada — madeira escura brilhante e assentos com estofado neutro, iluminados por luz suave de abajures e velas estrategicamente colocados. O cardápio é repleto de clássicos franceses com toques modernos. Experimentamos pomme duchesse (purê assado em formato elegante) levinhos, perfeitos para mergulhar em sour cream com cebolinha; aspargos brancos banhados em creme delicado de trufa de verão; e brioches fofíssimos recheados com cecina (presunto curado) e caviar. O prato principal foi um bife perfeitamente selado, coberto com um potente molho de pimenta. Embora normalmente eu não peça sobremesa, recomendo deixar espaço para os cookies de chocolate com manteiga dourada, servidos com sorvete de caramelo de banana — pegajosos no ponto certo e perigosamente viciantes. Endereço: 74 Duke, 74 Duke Street, Londres W1K 6TA | @74dukemayfair Mareida, Great Portland Street Mareida, Great Portland Street Divulgação O Chile sempre teve dificuldade para se destacar diante de seus vizinhos mais barulhentos, Peru, Brasil e Argentina, mas essa “pessoa discreta” na cena de restaurantes sul-americanos de Londres finalmente está ganhando atenção, graças à nova Mareida, em Fitzrovia. Este projeto de paixão do ex-financeiro nascido na Índia, Prenay Agarwal, foi inspirado pelo tempo que passou em Santiago com sua parceira chilena. Há um toque chileno em todos os aspectos do restaurante na Great Portland Street, desde os interiores em madeira escura e relaxantes, projetados pela arquiteta Santiago Macarena Aguilar, até a exposição na parede de rochas vulcânicas brilhantes chamadas combarbalita; até o sal da mesa é colhido no Deserto do Atacama. Eles não se importam de pegar emprestado elementos dos vizinhos continentais: pratos como o aperitivo Palta Reina (abacate, salmão e ovas sobre uma cama de batata e pasta de pimenta amarela) fazem uma releitura dos sabores peruanos e têm o sabor tão belo quanto o esperado de um menu criado por Carolina Bazán, eleita a melhor chef feminina da América do Sul em 2019 pelo júri do World’s 50 Best. Ela deu sua própria apresentação e toque aos pratos chilenos autênticos, como adicionar espuma de parmesão às vieiras ou servir o gratinado de bolinho de caranguejo em uma concha que lembra uma empanada. Há uma sutileza de sabores em todo o menu, incluindo nas empanadas verdadeiras, recheadas com cogumelos morel e cogumelos-rei, e o saboroso Milcao (panqueca de batata com creme azedo e caviar). A carta de vinhos é 100% chilena, com excelentes rótulos, incluindo os pinot noirs Ventolera 2019, com suas notas de cereja picante, ameixa e a minerabilidade distinta do Oceano Pacífico. A sobremesa preferida é a deliciosa Hojarasca, uma versão de trifle do clássico chileno torta amor, composta por doce de leite, baunilha e framboesa. Também impressionante foi o Chocolate Merken: creme de chocolate e compota de damasco sobre um molho saboroso de café, polvilhado com flocos de merken, uma pimenta defumada que resume o Chile — e o Mareida — numa nutshell: discreto, mas com sabor marcante. Endereço: 160 Great Portland Street, London, W1W 5QA | @mareida.london