Homem se apaixona por IA e pede divórcio; veja caso e alerta de especialista

Um caso inusitado chamou atenção na China: Jiang, um homem de 75 anos, decidiu pedir divórcio após se apaixonar por um avatar de inteligência artificial. A situação ganhou bastante repercussão nas redes sociais e expõe os impactos da solidão entre idosos. Além disso, levanta debates sobre os limites das relações virtuais e o papel da tecnologia nos vínculos humanos. Veja a seguir mais detalhes sobre o caso, os seus desdobramentos e uma análise de especialista que estuda as dependências tecnológicas e o uso problemático de tecnologias. Tudo sobre inteligência artificial: tire as principais dúvidas sobre o tema Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews Homem se apaixona por IA e pede divórcio; veja caso e alerta de especialista Reprodução/ChatGPT Tem como ganhar dinheiro com inteligência artificial? Veja no Fórum do TechTudo Entenda o caso O envolvimento com a IA começou quando Jiang encontrou a personagem virtual nas redes sociais e passou a se encantar com as mensagens pré-programadas que recebia. Mesmo com expressões artificiais e falas robóticas, ele acreditava estar vivendo uma relação íntima, aguardando ansiosamente por cada interação. Com o tempo, o comportamento levantou conflitos em casa. A esposa, aflita com a atenção excessiva do marido ao celular, passou a discutir com ele sobre a situação. A tensão aumentou até o ponto em que Jiang exigiu o divórcio para se dedicar exclusivamente à parceira virtual. A situação só mudou após a intervenção dos filhos adultos, que explicaram ao pai o funcionamento dos avatares de IA e mostraram que aquela relação não passava de uma ilusão. Apesar disso, o caso já havia ganhado repercussão nas redes sociais chinesas, levantando debates sobre solidão, manipulação digital e o impacto da tecnologia nos relacionamentos humanos. Repercussão e contexto social Na China, o caso de Jiang não é isolado. O país vive um fenômeno crescente do envelhecimento da população e, com isso, ocorre muitas vezes o aumento da solidão entre idosos, e a consequente popularização das chamadas “pessoas digitais virtuais” - avatares criados por inteligência artificial que simulam afeto e interação. Esse mercado se expandiu especialmente entre idosos solitários, que encontram nessas ferramentas uma forma de companhia e acolhimento emocional. A plataforma Replika é um exemplo de software que permite ao usuário gerar companheiros de IA Reprodução/REUTERS Esses avatares não apenas enviam mensagens carinhosas, mas também são usados como meio de propaganda e comércio, promovendo produtos como suplementos alimentares, doces enriquecidos com cálcio e até leite de camelo, muitas vezes com benefícios de saúde duvidosos. Assim, além do vínculo emocional, há um interesse econômico em manter o usuário engajado e dependente das interações. Análise de especialista O caso de Jiang abre um debate importante sobre tecnologia e relacionamentos. Thiago Henrique Roza, psiquiatra e professor da UFPR, contextualiza o fenômeno, destacando que os chamados “AI Companions” — avatares e chatbots com inteligência artificial — podem atuar como amigos, parceiros românticos ou até terapeutas informais. Segundo ele, a solidão é um dos principais fatores que levam as pessoas a se envolverem com esses sistemas: "Embora projetar emoções humanas em objetos ou avatares não seja novidade, os avanços em IA tornam esse fenômeno muito mais prevalente. As pessoas podem desenvolver vínculos emocionais intensos com entidades digitais, muitas vezes negligenciando relações reais". Roza ainda alerta sobre o perigo de como esses relacionamentos podem gerar expectativas irreais: "Uma discussão bem curiosa é: como fica o consentimento numa relação dessa? O consentimento afetivo e sexual, ele é desconsiderado numa relação com IA. A pessoa gera essas expectativas irreais e ela aprende, de certa forma, com esse relacionamento ficcional e, talvez, tentará repetir esse padrão com pessoas humanas. Isso pode gerar uma série de problemas nesses relacionamentos no longo prazo. Além disso, ao se deparar com o caso, muitas vezes fica a dúvida se trocar mensagens amorosas ou picantes com uma IA poderia ser considerado traição. Para o psiquiatra, a questão depende da opinião do casal em questão e do impacto desse envolvimento sobre a relação real. "Se o engajamento com a IA faz com que o parceiro negligencie o relacionamento real ou desenvolva sentimentos românticos por outra ‘pessoa’ sem consentimento, isso pode trazer problemas à relação e ser comparável à traição emocional", explica. Roza ainda compara o fenômeno ao uso de pornografia ou flertes em redes sociais. A linha entre entretenimento digital e infidelidade emocional pode ser tênue. Ele reforça que, embora a IA seja apenas um programa, a intensidade do vínculo emocional criado pode gerar consequências reais para quem está em um relacionamento. O especialista também prevê que, com a evolução da tecnologia, esses vínculos digitais podem se tornar ainda mais complexos, incluindo encontros em realidade virtual ou metaverso, o que exigirá novas discussões sobre direitos e limites desses relacionamentos. Com informações de Vice, The Economic Times Veja também: Só usa o ChatGPT? Conheça outras 6 IAs concorrentes que você precisa testar 6 concorrentes do ChatGPT que você deveria testar