Chefe militar de Israel defende cessar-fogo para libertar reféns em vez de ofensiva imediata contra Cidade de Gaza

O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, afirmou que a liderança política do Estado judeu deveria utilizar a posição militar conquistada na Faixa de Gaza para negociar um acordo com o grupo terrorista Hamas sobre os reféns ainda em cativeiro, mesmo que de forma parcial. A posição defendida em uma reunião com integrantes do governo israelense na semana passada, trazida a público por fontes ouvidas por jornais israelenses, revela uma insatisfação por parte de integrantes do alto-comando militar do país com a continuidade da ofensiva em direção à Cidade de Gaza enquanto não há progresso na questão dos reféns. Bombardeios em sequência: Ataque israelense contra hospital em Gaza mata 20 pessoas, incluindo cinco jornalistas Cobertura independente barrada: Guerra em Gaza e controle de informação militar desafiam jornalismo em Israel A emissora Canal 13 afirmou que Zamir defendeu diante dos membros do Gabinete israelense que há "um acordo sobre a mesa", e que a decisão de trazer ou não os reféns de volta está "nas mãos" do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — que na semana passada disse ter autorizado a retomada de negociações diplomáticas sobre Gaza, mas sem afetar o andamento do plano militar para ocupar a principal cidade do enclave. Initial plugin text A visão de Zamir, segundo o jornal israelense Haaretz considera dois fatores: que tomar a Cidade de Gaza para impor ainda mais pressão militar antes de novas negociações levaria um tempo considerável, colocando em risco a vida dos reféns, e que resultaria em baixas entre os soldados — algo que também pressionaria os reservistas. As manifestações do alto-comando militar, segundo analistas israelenses, revelariam um incômodo crescente com os líderes políticos, que ao longo da guerra de 22 meses com o Hamas não foram capazes de converter a superioridade no campo de batalha e a pressão sobre o grupo terrorista em uma solução para a questão dos reféns. Membros da cúpula do Exército, ainda segundo o Haaretz, acreditam que Netanyahu está ignorando a opinião técnica dos militares. O Hamas anunciou no começo da semana passada que havia aceitado termos apresentados por mediadores para um cessar-fogo em Gaza, com Catar e Egito afirmando que a palavra agora estava com Israel, que deveria se pronunciar sobre os termos. O acordo incluiria uma trégua inicial de 60 dias, uma troca parcial de reféns pela soltura de presos palestinos, além de medidas para permitir a entrada de ajuda humanitária. Ocupação de território: Escavadeiras arrancam centenas de árvores de palestinos na Cisjordânia A avaliação do chefe do Estado-maior, segundo as fontes israelenses, é de que mesmo um acordo parcial seria estrategicamente oportuno, pois permitiria que as Forças Armadas se reagrupassem em meio à longa ofensiva que vem sendo travada. Também evitaria eventuais danos a posições que abrigam os reféns sobreviventes. Uma nova reunião do gabinete de segurança de Israel deve ser realizada na terça-feira para discutir a proposta mais recente aceita pelo Hamas. O encontro deve acontecer em meio a manifestações de grupos da sociedade civil israelense, que protestam incessantemente por uma solução para a questão dos reféns. O Fórum de Reféns e Famílias de Desaparecidos, organização criada após o atentado, convocou um ato para a terça. Pela primeira vez: ONU confirma fome na Cidade de Gaza e regiões vizinhas, com 500 mil pessoas em 'condições catastróficas' Mudança de posicionamento Embora tenha acenado positivamente sobre uma retomada das negociações na semana passada, Netanyahu não se referiu diretamente à proposta aceita pelo Hamas. Especialistas apontaram para uma mudança no posicionamento do governo israelense, que até agora só havia aceitado discutir tréguas parciais, e agora exigem um acordo definitivo. Os cinco pilares apresentados por Israel para o fim da guerra incluem o desarmamento do Hamas, a libertação de todos os reféns, a desmilitarização de Gaza, a manutenção por Israel do controle da segurança e o estabelecimento de uma administração civil sem Hamas ou Autoridade Palestina. As demandas são consideradas inaceitáveis pelo Hamas. Investigação: Números da inteligência de Israel apontam que 83% dos mortos na Faixa de Gaza são civis Fontes israelenses ouvidas pela rede americana CNN apontaram que essa mudança no perfil dos objetivos do Estado judeu tem a ver com o respaldo ganho por Netanyahu por parte da Casa Branca de Donald Trump, que tem se manifestado com uma retórica cada vez mais dura contra o grupo palestino. Com o apoio de Washington, disseram os especialistas, o premier israelense consegue manter um jogo-duplo, sinalizando ao mesmo tempo que está disposto à guerra e à paz, enquanto ganha tempo. — Netanyahu está plenamente ciente de que o Hamas jamais aceitará suas condições para o fim da guerra – e esse é precisamente o seu ponto — disse Chaim Levinson, comentarista diplomático sênior do jornal israelense Haaretz, à CNN.