Dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que estuda enviar tropas da Guarda Nacional para cidades como Chicago, Nova York e Baltimore — todas governadas por prefeitos da oposição —, lideranças democratas intensificaram as críticas ao republicano. Autoridades estaduais e municipais rechaçaram a ideia, afirmando que os índices de violência vêm caindo e acusando o presidente de tentar criar uma crise com motivações políticas. Contexto: Após Los Angeles e Washington, Trump prepara envio de militares a Chicago, diz jornal Entenda: Trump anuncia envio da Guarda Nacional à capital após ordenar saída de pessoas em situação de rua “Não há emergência que justifique a federalização da Guarda Nacional de Illinois ou o envio de agentes federais”, disse o governador do estado, J.B. Pritzker — possível pré-candidato democrata à Casa Branca em 2028 —, em comunicado. Ele afirmou ainda que não foi contatado sobre esse tipo de mobilização e acusou o presidente de estar “tentando fabricar uma crise”. Trump, que já ordenou a presença de tropas federais em Washington, afirmou na sexta-feira que Chicago seria seu próximo alvo, seguido de Nova York. No domingo, escreveu nas redes sociais que considera também enviar a Guarda Nacional para Baltimore, que classificou como “fora de controle” e “dominada pelo crime”. Em comum, a Casa Branca justifica a proposta como uma iniciativa de combate ao crime e à “desordem” nessas localidades. Os dados mais recentes, no entanto, contradizem o discurso do presidente. A criminalidade violenta vem caindo em Washington e outras grandes cidades americanas. Em Chicago, por exemplo, o número de homicídios caiu para o nível mais baixo em mais de uma década — e os investimentos estão voltando. Ainda assim, Trump insiste na narrativa de que os democratas perderam o controle da segurança urbana. — Estamos reduzindo a violência em Chicago, estamos avançando na direção certa — disse o prefeito Brandon Johnson em entrevista coletiva no domingo. — O que esse presidente pretende fazer não é apenas inconstitucional, é uma ameaça direta à nossa democracia. New York Times: Trump ordena que militares combatam cartéis de drogas estrangeiros Trump, que ordenou o envio de cerca de 2 mil soldados da Guarda Nacional para patrulhar a capital, chamou Johnson de “incompetente” e repetiu a ameaça de que Chicago “seria a próxima”. No sábado, o Washington Post noticiou que o Pentágono já planeja uma operação militar na região há semanas. Segundo o jornal, o movimento é apresentado como uma repressão ao crime, à população em situação de rua e à imigração indocumentada. — A tentativa ilegal do presidente Trump de militarizar Chicago não fará nada além de gerar caos e criar um espetáculo — disse o deputado federal Raja Krishnamoorthi. — Não há nenhuma emergência em Illinois que justifique a federalização da nossa Guarda Nacional ou o envio de tropas ativas para nossas comunidades. O governador de Maryland, Wes Moore, classificou a proposta como um “clichê” que usa a “tática de medo dos anos 1980” e convidou o presidente para caminhar com ele pelas ruas da cidade no mês que vem — convite que Trump rejeitou publicamente. No domingo, o presidente escreveu nas redes sociais que enviaria a Guarda Nacional para “limpar o desastre do crime” antes mesmo de pisar em Baltimore. Análise: Ordem de Trump contra cartéis desperta temor na América Latina de nova era de interferência dos EUA na região Antes da negativa, no entanto, o prefeito da cidade, Brandon Scott, já havia afirmado que ele e os moradores de Baltimore “não estão interessados” na visita de Trump apenas para “uma encenação fotográfica”. Em vez disso, ele defendeu o envio de mais recursos federais para apoiar o trabalho de agentes do FBI, do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em inglês) e da DEA, a agência antidrogas. — Quando você olha para o que ele fez em Washington, percebe que ele não quer de fato lidar com o crime — disse Rahm Emanuel, ex-prefeito de Chicago, em entrevista à rede americana CNN. — Isso é uma tentativa de atacar cidades acolhedoras, conhecidas como cidades-santuário, e de enfrentar a questão da imigração. Zohran Mamdani, candidato democrata à prefeitura de Nova York, disse no domingo que os nova-iorquinos não estão pedindo ajuda das forças de segurança de Washington. O que a população local quer, afirmou, é “saber se continuarão tendo o mesmo acesso à saúde que têm hoje”, ou se “ainda conseguirão pagar as compras do mercado”. Ele classificou os cortes federais em serviços sociais como “a verdadeira crise que Washington está criando”. Initial plugin text O Pentágono evitou comentar possíveis planos de envio da Guarda Nacional para cidades além de Washington. Em nota, o Departamento de Defesa disse que não iria “especular sobre operações futuras”, destacando que é “uma organização de planejamento [em] constante trabalho com outras agências parceiras em estratégias para proteger ativos e pessoal federal”. Apesar da rejeição aos relatos alarmistas de Trump sobre violência, os democratas têm evitado descartar por completo as preocupações com a criminalidade. Em Chicago, Rahm Emanuel afirmou que promotores devem aplicar punições para crimes com armas de fogo e que a polícia deve continuar agindo contra os roubos de veículos. Mas, segundo ele, as lideranças locais estão no caminho certo e não precisam do tipo de ajuda oferecida pelo governo federal. — Temos uma estratégia para combater o crime: mais policiais nas ruas e tirar crianças, gangues e armas das ruas — disse ele. — É isso que precisa ser feito. O deputado Hakeem Jeffries, líder da minoria democrata na Câmara e representante de Nova York, afirmou que seu partido entende que os eleitores querem ver os índices de criminalidade caírem em suas comunidades. Mas ressaltou que Trump “não tem base legal nem autoridade” para enviar tropas ou agentes federais a Chicago. — O povo americano, com razão, quer comunidades mais seguras — disse Jeffries. — Queremos garantir que a criminalidade continue caindo, como está acontecendo em Chicago, Nova York, Washington e outras cidades. E, para isso, devemos apoiar as forças de segurança locais. (Com Bloomberg e New York Times)