A Academia Americana de Pediatria (AAP) passou a recomendar a triagem anual de crianças para detectar transtornos de saúde mental, emocional ou comportamental. O novo relatório com a orientação foi publicado nesta segunda-feira na revista científica Pediatrics. De acordo com a academia, os transtornos do tipo têm aumentado significativamente, “atingindo níveis de crise”. A entidade afirma que até 1 em cada 5 crianças a partir de 2 anos nos EUA vive com algum transtorno mental, emocional ou comportamental em algum momento da infância. Aos 16 anos, quase 40% dos jovens americanos terão recebido algum diagnóstico do tipo. A AAP diz que a pandemia agravou o cenário, assim como evidenciou “inadequações na força de trabalho e na infraestrutura médica”. O suicídio, por exemplo, aumentou em 41% de 2000 a 2017 e tornou-se a segunda principal causa de morte entre jovens de 10 a 14 anos no país em 2020, e a terceira entre os de 15 a 24 anos. Segundo a academia, as pesquisas mostram que é comum haver uma janela de 2 a 4 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o desenvolvimento de um transtorno completo. Neste contexto, reconhece que os pediatras estão “na melhor posição para identificar preocupações precoces e intervir rapidamente”. “Assim como um pediatra avalia a saúde física e o desenvolvimento de cada criança, ele precisa sentir-se preparado para identificar questões de saúde mental, emocional e comportamental durante os exames de rotina”, diz Carol Weitzman, autora principal do relatório, co-diretora do Centro do Espectro Autista do Hospital Infantil de Boston e professora da Universidade de Harvard, em nota. O documento orienta que a triagem tenha início aos 6 meses de idade e continue nas consultas de acompanhamento infantil aos 12, 24 e 36 meses, alternando com rastreios específicos recomendados nos EUA para desenvolvimento e transtornos do espectro autista em cada visita. Após os 3 anos, a triagem deve se manter anualmente. O relatório foi desenvolvido pela Seção de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento, pelo Conselho de Primeira Infância e pelo Comitê de Aspectos Psicossociais da Saúde Infantil e Familiar da AAP junto à Sociedade de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento. “As condições de saúde mental podem afetar seriamente a capacidade da criança de aprender, crescer e se conectar com os outros, e, ainda assim, muitas vezes passam despercebidas ou sem tratamento”, afirma James Guevara, coautor do relatório e pediatra do Hospital Infantil da Filadélfia. “Existem novas estratégias que podem ajudar os pediatras a conectar famílias com apoio em saúde mental diretamente em seus consultórios. Isso inclui consultas com especialistas, cuidados em equipe e programas de treinamento que ajudam os médicos a responder de forma mais eficaz”, continua. O novo documento observa ainda que fortalecer os pontos fortes e a resiliência da criança e da família é tão importante quanto identificar preocupações, explica Weitzman: “Pediatras e famílias podem trabalhar juntos para construir resiliência e promover o bem-estar de crianças e adolescentes em cada encontro. Apoiar a saúde mental das crianças agora ajuda-as a crescer como adultos saudáveis e capazes. É um dos investimentos mais importantes que podemos fazer.”