Discurso de 'conselheiro ambiental' de Trump causa surpresa em evento sobre a COP30: 'errando o alvo'

Mesmo fora do Acordo de Paris, crítico da agenda ambiental global e distante das discussões da COP30, o governo Donald Trump, do EUA, esteve representado na abertura do Rio Climate Action Week, evento independente de apoio à conferência climática de Belém. Em um vídeo, o "conselheiro ambiental" da Casa Branca, Ed Russo, disse que hoje há um foco errado no combate às mudanças climáticas e cobrou ações contra a poluição. Russo enviou um vídeo para a organização do evento, em que defendeu gestão ambiental dos governo dos EUA. — Sob liderança de Trump, o governo dos EUA está lançando ações ousadas em prol do meio ambiente. Estamos lançando iniciativas para água e ar limpos e construindo comunidades resilientes — afirmou Russo, que é amigo e conselheiro de Trump há 25 anos, cofundador de uma empresa que transforma umidade em água potável e escreveu um livro chamado "Donald J. Tump: herói ambiental". Russo ainda afirmou que o governo dos EUA, que é acusado de negacionismo climático por rejeitar metas e acordos internacionais, apoia "ONGs sérias e soluções inovadoras do mercado". Problemas, soluções, dinheiro e liderança O empresário disse que o foco da agenda deveria ser os impactos atuais das mudanças climáticas e não as "ameaças de impacto", sem aprofundar seu argumento. Como exemplo de principais problemas atuais, ele citou a má gestão de aterros sanitários, poluição oceânica e a seca na África Subsaariana, o que vem resultando em migração em massa de populações da região. — Estamos indo a essas reuniões e falando sobre os problemas das mudanças climáticas, mas, na realidade, estamos errando o alvo — afirmou Russo, sem especificar qual seria o alvo errado. — Temos que limpar a bagunça que fizemos e parar a poluição na fonte. As coisas estão piores do que a maioria imagina, mas as soluções para esses problemas também são muito empolgantes. Sabemos quais são os problemas. Identificamos as soluções. Certamente temos o dinheiro. O que nos falta é liderança. Ao final do vídeo, Malini Mehra, organizadora e curadora do RCAW (Semana de Ação Climática de Londres), a entidade que organiza o evento desta semana no Museu do Amanhã, brincou com a situação e disse que o seminário está "repleto de surpresas". Ela ainda defendeu a independência do Rio Climate Week e afirmou que os problemas climáticos precisam ser combatidos em um espírito que vá além de "nacionalismos e bandeiras". Antes da fala de Ed Russo, Gonzalo Muñoz, que foi "Campeão Climático da COP25", cargo que aproxima demandas da sociedade civil à presidência da COP, afirmou que hoje existe um cenário político de "ideologização de problemas que não deveriam ter ideologia". Trump e a COP O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, há duas semanas, que enviou uma carta a Trump para convida-lo para a COP30. O convite, no entanto, não foi respondido pelo americano. Segundo Ana Toni, CEO da conferência, os indicativos da participação dos EUA não são positivos. Na semana passada, ela também ressaltou que o país "não mostrou nenhum interesse" pelo evento. Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris no primeiro dia do seu segundo mandato, em janeiro deste ano. Sobre o assunto, a executiva ponderou que "são 198 países que fazem parte do acordo, e 198 menos 1, não é igual a zero, então temos muitos países com quem trabalhar”. Além do convite, Lula já declarou que pode se encontrar com o mandatário americano na Assembleia Geral da ONU, em setembro, quando tradicionalmente o presidente do Brasil abre as sessões de discursos antecedendo o dos EUA.