As estimativas para inflação têm caído semanalmente, mas a desta semana é, finalmente, uma queda forte. A redução vinha sendo registrada na segunda casa depois da vírgula, agora a projeção para o IPCA ao fim deste ano foi de 4,95% para 4,83%. Há quatro semanas, era de 5,10%. Para 2026, a expectativa também recuou para 4,33%, abaixo do teto, o que não é o que o Banco Central quer, afinal a busca é pelo centro, que é de 3%. Mas, se a curva de queda desenhada pela pesquisa se mantiver, podemos chegar ao fim deste ano com inflação de 4,5%, ali na risca do giz, dentro do intervalo, no teto da meta, o que seria bom, pois não apresentaria aceleração em relação ao ano passado. A redução expectativa da inflação entre os analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central, mostra que a taxa para este ano está fazendo um movimento de convergência, o que se busca com o aumento da taxa de juros básica da economia brasileira. A política monetária de subir e manter a Selic em patamar elevado responde por parte desse movimento de baixa nas perspectivas para o IPCA, mas há outros fatores que impactam nessa curva, entre eles, o câmbio. A política de Donald Trump tem levado o dólar a se desvalorizar em todo mundo, aqui há um movimento forte de apreciação do real, após a divisa americana superar os R$ 6 em dezembro. Além disso, houve também uma queda do preço de alimentos, o que já é esperado nessa época do ano, mas que pode se prolongar sob efeito do tarifaço. A sobretaxa aos produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos tem um efeito deflacionário dentro do Brasil, já que parte dos produtos que deixarão de ser enviados aos americanos serão destinados ao mercado doméstico. No encontro anual do Federal Reserve (Fed), em Jackson Hole, na semana passada, que reúne todos os presidentes dos bancos centrais, uma reunião tradicional do mercado financeiro, Jerome Powell deu um recado forte de queda nos juros americanos em setembro. A União Europeia fez o movimento contrário, mas a taxa do bloco está em patamar mais baixo. Isso tudo aprecia o dólar e nos favorece aqui na busca da inflação mais baixa. Fora isso, quando são reduzidos os juros nos Estados Unidos, o diferencial em relação à taxa brasileira, que atrai o capital para os países emergentes, como o Brasil, aumenta e isso permite que se reduza a Selic, sem mudar essa distância. Há uma conexão entre os mercados. No Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, houve também um pequeno recuo na expectativa de PIB, de 2,18% para 1,86% este ano. E por enquanto, na projeção dos analistas ouvidos pelo Banco Central, tanto a economia quanto a inflação estão dando sinais de queda. A previsão para a Selic, no entanto, se manteve inalterada para este ano. Pela nona semana seguida, a estimativa foi de 15%. Alguns analistas e bancos chegaram a antecipar a previsão de corte dos juros para este ano. O próprio governo avalia que a desaceleração da economia será maior do que está previsto nos modelos atualmente, o que levaria a novas quedas nas projeções do IPCA. Mas, majoritariamente, o mercado financeiro ainda prevê a Selic em 15% até o fim do ano, com previsão de queda em ritmo menor do que se avaliava em 2026, quando chegaria a 12,5%.