A presença de veículos elétricos no Distrito Federal já não é uma raridade, mas ainda está longe de ser maioria nas ruas. De acordo com dados do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), o número de registros saltou de 154 em 2020 para 14.715 em agosto deste ano, um crescimento de 9.455% em apenas cinco anos. Mesmo com a disparada, os elétricos correspondem a apenas 0,68% da frota de mais de 2,1 milhões de veículos registrados no DF. O avanço foi puxado sobretudo pelos automóveis, que hoje concentram 79% da frota elétrica. Em 2020, eram apenas 59 unidades; agora, já somam 11.683 — alta de quase 20 mil por cento. Já as motocicletas, que tinham peso semelhante ao dos carros no início da série histórica, perderam fôlego e chegaram a pouco mais de mil unidades. Utilitários também vêm ganhando espaço, alcançando 1.696 registros, o que pode indicar maior adesão de empresas à mobilidade elétrica. No entanto, ônibus e caminhões ainda têm presença tímida, com apenas sete e 12 unidades, respectivamente. Após três anos seguidos de saltos percentuais superiores a 200%, 2025 aponta para uma desaceleração no ritmo de expansão. O movimento sugere que o mercado começa a amadurecer e já enfrenta obstáculos como o preço elevado dos modelos, a infraestrutura de recarga limitada e o acesso restrito às camadas populares. Economia no bolso, mas desafios na recarga Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília A transição para a mobilidade elétrica já é realidade para Rogério Gomes Nunes, 36 anos, motorista de aplicativo e morador da Vila Planalto. Formado em técnico de Recursos Humanos, ele encontrou no carro elétrico uma maneira de economizar e otimizar sua rotina de trabalho. “Eu rodava em um Fiat Mobi, até que surgiu a oportunidade de alugar um elétrico, e já estou há seis meses. A diferença financeira é significativa: não gasto com revisões caras, apenas com pneus”, contou Rogério, que atualmente dirige um JAC JS1, carro compacto elétrico lançado no Brasil pela parceria entre a JAC Motors e a Volkswagen. Apesar da economia, ele destaca os obstáculos da nova tecnologia, principalmente a falta de pontos de recarga rápida no DF. “As empresas começaram cobrando menos, mas já estão pedindo R$ 2,40 o quilowatt. Para quem trabalha com Uber pesa no bolso. Em casa, é mais barato, pago cerca de R$ 0,90, e quem tem energia solar praticamente não sente o custo”, declara o motorista Rogério. Outro problema, segundo Rogério, é o pós-venda das montadoras. “Se dá defeito na bateria ou em alguma peça, precisa importar da China. Já existem mecânicos independentes tentando atender, mas o mercado ainda engatinha. Dizem que motor de elétrico não quebra, mas quebra sim, só que demora. A diferença é que ele já se paga antes de dar problema.” O motorista também aponta a baixa autonomia como desafio. Embora o modelo prometa rodar 300 km, na prática alcança pouco mais de 220 km. “Hoje só indico híbrido para pegar estrada. Mas, para trabalhar em Brasília, o elétrico dá conta e ainda abre espaço para outras atividades, como entregas e serviços particulares.” Na visão dele, os elétricos devem se popularizar rapidamente e transformar a relação do consumidor com o automóvel. “Ele é como um celular, você usa, aproveita ao máximo e troca por outro modelo melhor. A ideia de comprar e revender carro usado vai perder força. Isso vai incomodar os lojistas, mas é a nova realidade. A mídia tem papel importante em conscientizar a população de que o carro elétrico não é luxo, é tendência inevitável”, aponta Gomes. Rede elétrica preparada Foto: José Cruz/Agência Brasília Se a infraestrutura de recarga pública ainda preocupa, pelo menos a rede elétrica do Distrito Federal não deve ser um gargalo para a expansão da frota, segundo a Neoenergia Brasília. Em nota, a companhia informou que “as subestações operam com folga e estão longe de atingir sua carga máxima, garantindo flexibilidade para atender a aumentos graduais na demanda”. O DF também se destaca no cenário nacional pela geração distribuída. Hoje, são mais de 30 mil unidades consumidoras com sistemas de energia solar conectados à rede, o que corresponde a 12% do total local. “Essa geração ajuda a aliviar a carga do sistema e aumenta a confiabilidade do fornecimento”, destacou a empresa. A concessionária afirmou ainda que vem investindo na modernização da rede, na automação das subestações e na implementação de tecnologias inteligentes. “Estamos totalmente preparados para atender, com segurança, a expansão da mobilidade elétrica no Distrito Federal”, concluiu. Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília