A princípio, Silvia Cruz, de 41 anos e mãe de cinco filhos, ficou cética quando suas crianças pediram para assistir a "Guerreiras do K-Pop", cujo título original é "KPop Demon Hunters". — Primeiro, o nome do filme já assusta. Não, vocês não vão ver nada que tenha "demônio" no título. E depois pensei: "K-Pop. O quê?" — contou Cruz, moradora de Wake Forest, na Carolina do Norte, em uma entrevista. Quem é Naomi Campbell? Lenda das passarelas, modelo lembrou amizade com Cauã Reymond no 'Domingão com Huck' Novos documentos: livro ilumina origens de Luiz Gama e reforça hipótese de engajamento político de sua mãe Agora, pelas suas contas, já assistiu à animação da Netflix, que é um grande sucesso, pelo menos uma dúzia de vezes desde o lançamento em junho. Disse que os filhos, com idade entre dois e 13 anos, já viram cerca de 30 vezes, e, quando não estão assistindo, geralmente estão ouvindo a trilha musical. O filme, que se tornou um sucesso inesperado, deve atingir em breve a repercussão cultural anteriormente alcançada por obras da Disney como "Encanto" e "Frozen — Uma aventura congelante". O musical de fantasia acompanha os membros de um grupo fictício de K-Pop, o Huntrix, cujo trabalho consiste em entreter os fãs com sua música e protegê-los de demônios. — Basicamente, eu estava tentando fazer algo que eu mesma quisesse ver: um filme que celebrasse a cultura coreana. E, por alguma razão, acabei escolhendo a demonologia — declarou ao jornal The New York Times, no mês passado, Maggie Kang, que escreveu e dirigiu o longa-metragem com Chris Appelhans. Cena de 'Guerreiras do K-Pop' Divulgação/Netflix O musical obteve sucesso imediato, e seu alcance disparou desde o lançamento. De acordo com dados fornecidos pela Nielsen, "Guerreiras do K-Pop" foi transmitido por cerca de 250 milhões de minutos durante a semana de lançamento, colocando-o diretamente no Top 10 de todos os filmes em streaming daquela semana. Mas, em vez de diminuir à medida que novos títulos iam sendo disponibilizados, como costuma acontecer, o longa ganhou mais força. No fim de julho, a audiência de "Guerreiras do K-Pop" quase quadruplicou, chegando a 949 milhões de minutos apenas na terceira semana do mês, contribuindo para um aumento geral nos números de audiência da Netflix. Mas o fenômeno não se limitou às crianças. Os pais também estão assistindo com entusiasmo. Já surgiu um meme recorrente nas redes sociais que diz que as mães e os pais estão se envolvendo com o filme tanto quanto os filhos — ou até mais do que eles. — Uma vez por ano, alguma coisa viraliza na internet, e "Guerreiras do K-Pop" é o viral de 2025. E, quando algo é tão dominante, você não pode ignorar. Como criador de conteúdo, foi a tempestade perfeita para mim. Sou um pai que literalmente experimenta esse vício na vida real — afirmou Chris Mann, criador de conteúdo de Los Angeles e pai de dois meninos de quatro e oito anos, em uma entrevista. O comediante Andy Samberg revelou, no programa "Jimmy Kimmel Live" nesta semana, que está vivendo atualmente uma "fase de 'Guerreiras do K-Pop'". — Estou totalmente imerso nisso. Achei que seria algo que eu poderia compartilhar com minha filha, que tem oito anos. Tentei fazê-la ouvir, mas ela falou: "Não, tô de boa'" — contou Samberg a Tiffany Haddish, apresentadora convidada do programa de Kimmel. A mania não se limita à tela. Sua trilha sonora colocou várias músicas no Top 10 da "Billboard", incluindo "Golden", "Your idol" e "Soda pop". A popularidade de "Guerreiras do K-Pop" é a mais recente indicação do crescimento da comunidade de fãs do K-Pop no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos, e do aumento das exportações culturais da Coreia do Sul. De acordo com uma pesquisa divulgada no ano passado pelo governo sul-coreano, mais de 200 milhões de pessoas em 119 países se consideram fãs da Hallyu, termo que se refere à cultura coreana que se espalhou para além da região, com 68% dos fã-clubes dedicados ao K-Pop. A especificidade cultural do filme é uma das principais razões para seu sucesso, observou Melissa Martinez, professora assistente de mídia na Universidade de Syracuse. E Kang, a codiretora do filme, informou que a trilha sonora foi inspirada em gigantes do K-Pop como BTS, Blackpink e Stray Kids. — A equipe se certificou de que fosse o mais autêntico possível, não apenas nos detalhes da história e nos elementos culturais coreanos, mas também na referência musical, o K-Pop, que não serviu só como imitação — comentou Martinez. "No particular está contido o universal", como ensinou James Joyce, e talvez nenhum filme recente incorpore esse sentimento tanto quanto "Guerreiras do K-Pop". O longa atrai espectadores que nunca tiveram contato com esse gênero musical antes. Cruz, mãe de cinco filhos e novata no K-Pop, disse que assistiu muitas vezes ao filme por causa da trilha sonora. Afinal, todo mundo adora uma música que fica na cabeça: — Não são só músicas cativantes que mexem com a gente. As vozes são incríveis e as melodias são, de fato, ricas e complexas. O corpo não consegue evitar o balanço e você começa a cantar e a dançar junto. De acordo com Melissa Zaro, de 42 anos, mãe de duas filhas de sete e nove anos em Clifton, Nova Jersey, ver o filme com as filhas se tornou uma experiência de aproximação, apesar de ela não saber muito sobre K-Pop. Uma de suas meninas está aprendendo a tocar a trilha sonora ao piano com um professor: — E estou cantando na casa de um amigo enquanto ela aprende piano. O ritmo acelerado do musical o torna ideal para crianças que estão crescendo na era do TikTok. — Assisto a programas com elas desde pequenas. Não conseguem ver até o fim porque dizem que são muito chatos, muito lentos. Esse filme é muito mais agitado. Acho que elas estão acostumadas com tudo mais rápido — afirmou Zaro.