Estrela dos anos 1980, Amy Madigan é a arma secreta de 'A hora do mal'; saiba mais

"A Hora do Mal" é um filme de terror cheio de reviravoltas, e a campanha promocional inicial teve o cuidado de proteger parte das maiores surpresas. De fato, uma delas foi tão bem guardada que um membro importante do elenco ficou de fora da turnê de divulgação, recusando-se a dar qualquer entrevista — até agora. O longa do roteirista e diretor Zach Cregger conta a história dos moradores de uma pequena cidade da Pensilvânia, abalados quando 17 crianças da mesma classe da terceira série desaparecem no meio da noite. Um pai enlutado (Josh Brolin) suspeita do envolvimento da professora, Justine Gandy (Julia Garner), mas ela tenta buscar respostas com Alex (Cary Christopher), único aluno que não desapareceu. A verdadeira vilã é Gladys (Amy Madigan), que chegou à cidade alegando ser tia do garoto. Usando bruxaria, a velhota mirrada drena a força vital dos pais dele e, em seguida, atrai os colegas de classe do garoto para sua casa para fazer o mesmo. Cregger demora para revelar completamente a personagem, mas ainda assim Gladys causa uma boa impressão, a começar pela aparência excêntrica: sempre que se aventura na cidade para esconder seus crimes, ela passa batom, usa uma peruca vermelha berrante e óculos com lentes verdes. O grande destaque, porém, é a atuação de Madigan, pois a atriz de 74 anos consegue passar com facilidade do absurdo exagerado para a ameaça repentina e assustadora. Mais conhecida pelos papéis em "Campo dos sonhos" e "Quem vê cara não vê coração", ela mal consegue crer na rapidez com que sua personagem se tornou uma sensação do gênero. "Está difícil até de processar a coisa toda. Tem gente com quem trabalhei, pessoal que conheço vem me dizer que só ficou sabendo que era eu no fim do filme!", disse em uma videochamada de sua casa, em Los Angeles, onde mora com o marido, o ator Ed Harris. Acima de tudo, ela torce para que o papel lembre ao público que ainda tem muito a oferecer como atriz. "Sou realista em relação à minha capacidade. Não tenho tantas oportunidades quanto antes nem tantas quanto outras pessoas, mas ter uma chance como essa e criar uma personagem com Zach do zero foi muito especial." Amy Madigan, que interpreta a vilã/bruxa Gladys no terror "A hora do mal", em casa em Malibu, na Califórnia Ryan Pfluger/The New York Times Aqui estão trechos editados de nossa conversa. Como "A hora do mal" chegou até você? Recebi o roteiro e já de cara me identifiquei. Adorei a Gladys e a partir daí achei que seria interessante conhecer Zach. Combinamos de almoçar e ele chegou com a ideia de não me oferecer o papel ali, o que eu não sabia. Mas nós nos demos muito bem e ele abriu o jogo. Foi um lance bem natural — o que foi ótimo, por que nem sempre é assim. O que a fez se apaixonar por Gladys? Acho que ela é uma mulher muito incompreendida! Por falta de um termo melhor, sou a vilã do filme, mas o fato é que ela só está tentando sobreviver. Tinha um plano, sim, mas talvez não soubesse muito bem como se desenrolaria. É meio como uma artista, improvisa bastante. Imagino também que não tenha tido raízes. Teve de se mudar para vários lugares e, quando um não dava certo, meio que apelava para invencionices, e entrava em contato com essa ou aquela família. É muito carente no sentido de precisar de outras pessoas, de não conseguir fazer nada sozinha, e achei isso muito intrigante. Manipula algumas pessoas... Ah, só algumas. Até entendo, viu? Mas é autoconfiante e charmosa de uma maneira quase doentia. Gladys despertou minha atenção. Eu me identifiquei bastante. Qual foi o primeiro passo para compô-la? Bom, Zach é um grande fã de Diane Arbus, assim como eu. Vimos alguns trabalhos dela como mulher decadente. Também pensei em Bette Davis interpretando Baby Jane. Para mim, lembra Ruth Gordon em "O Bebê de Rosemary". Sim, um filme sensacional, meu Deus. Aí conheci Jason Collins, da equipe de efeitos especiais, e Trish Summerville, a figurinista, e trocamos figurinhas em relação à sua aparência, discutindo se isso ou aquilo seria exagero, se o público rejeitaria esse ou aquele detalhe. Depois que consegui definir o visual, tudo se encaixou. Aquelas roupas, as cores extravagantes, o broche, tudo transmite confiança. Dá para ver que ela vai conseguir o que quer. Além disso, Gladys tem uma pinta ótima. Tipo, é fabulosa! Os óculos e todo o visual combinam perfeitamente. "Drag" é a palavra-chave aqui porque todos os gays que conheço vão se vestir como ela no Halloween. Brincamos com isso durante as filmagens, mas disse para o pessoal que era melhor esperar para ver. Depois nos reunimos e começamos a pensar se não dava para faturar algum. Tipo, será que dá para vender um monte de perucas laranja-avermelhadas ou algo assim? Bom, em parte a maquiagem entra no campo do drag, sim. A intenção era valorizar, e não fazer piada. Você acha mesmo que Gladys é tia do Alex ou não passa de uma mentirosa que se insinua na vida das pessoas? Bom, o que você acha? Porque estou mais interessada na sua visão. Quem sou eu para dizer, sério? O pessoal não sabe se ela tem mesmo poderes mágicos, se é uma pessoa, se veio de outro planeta ou das profundezas da terra. Zach conta que lhe apresentou duas versões para Gladys e pediu que escolhesse; em uma, é humana, mas usa magia negra para prolongar a vida, na outra, não é. Por qual se decidiu? Eu diria que o resultado é uma mistura, não é só uma coisa nem só a outra. Prefiro combinar as duas; a ideia de mistério me agrada. Contanto que me dedique ao trabalho e ao que estou fazendo, o resto não interessa. Você é o tipo de atriz que gosta de sentar e escrever a história da personagem? Eu fazia isso mais quando trabalhava no teatro, mas é claro que faço alguns questionamentos. Sempre tento descobrir o tipo de música que essa pessoa ouviria ou de que roupa gosta. Gladys pode ser cômica e exagerada às vezes, mas, de repente, torna-se ameaçadora de uma forma assustadora. Essa é a graça de trabalhar com uma personagem incrível — porque ela é maleável, você pode criar o que quiser. Já fiz papéis cômicos, mas não sou chamada para eles com frequência, então foi bem legal. Mas você tem que caprichar para parecer real. Foi difícil interpretar a cena em que ameaça Cary Christopher, que interpreta Alex? Cary era a pessoa mais inteligente do set, e nem é mais criança, é um jovem muito fofo. Sei que Zach passou muito tempo com ele, fazia questão de entrar no trailer para ver a maquiagem, a falsa careca, conferir tudo. É preciso cuidado, principalmente com as crianças. Quando viu o filme pela primeira vez? Vi um trecho em um computador que não tinha a mixagem de som, música, nem nada disso, e mesmo assim me pegou de surpresa. Achei que estava muito bem. Perguntei para meu marido e para o Zach, e eles concordaram, o que foi muito legal. E aí voltou a ver na estreia, com uma plateia enorme. Teve festa depois? O pessoal comentando sua atuação? Teve, sim. Se bem que não vou a muitos eventos; não sou convidada com frequência. Diz a lenda que a Warner Bros. estaria explorando um prelúdio sobre Gladys. O que acha disso? Quer saber? Acho muito legal levantar esse tipo de conversa. Não descarto a ideia, mas como já estou no ramo há bastante tempo, sei que a coisa só acontece quando fecha, tipo, não tem volta. Adoro a Gladys, adoro alimentar a imaginação de Zach e estar na mesma sintonia que ele, mas do que as pessoas vão estar falando daqui a algumas semanas, alguns meses? É ótimo saber que estou na boca do povo, mas sou daquelas que acha melhor ir com calma, manter o pé atrás. Mas se fizessem um filme sobre a Gladys você gostaria de reencarná-la, não? Não sei responder agora. Não digo que não, mas gostaria muito que fosse com o Zach. Já estão falando também de premiações para seu desempenho. No Instagram, por exemplo, Sarah Paulson falou sobre "a performance do ano", e a Vulture publicou uma matéria intitulada "Deem um Oscar para Amy Madigan por 'A Hora do Mal'". Gostei muito da reportagem porque fala sobre o preciosismo da Academia, da qual aliás faço parte. Às vezes, ela exclui o terror, sabe como é. Sei também que tem muita gente falando sobre "Pecadores" e a atuação do elenco maravilhoso. Se você está falando do momento cultural atual, não sei se o sistema de premiação está mais aberto. Pode ser complicado, mas depois de "A Substância" ter recebido tantas indicações importantes ao Oscar no ano passado, talvez os membros eleitores tenham se tornado mais receptivos ao terror. Espero que tenha razão porque há atuações incríveis no gênero. Você já foi indicada ao Oscar de Melhor Coadjuvante pelo filme "Duas vezes na vida". Como se lembra dessa experiência? Ah, foi muito emocionante. E o engraçado foi que pensei: "Não tenho vestido." Isso foi muito antes de você ter um estilista que chegava e dizia: "Olha, aqui estão 50 opções." Eu mesma saí para comprar uma roupa. E se esse filme levar a outra indicação, o que você acha? Engraçado, meu marido vem me dizendo há anos que alguma coisa vai acontecer e será uma situação bem diferente. As oportunidades [como atriz mais velha] são mais raras e você só espera que algo apareça para se achar. Não dou nada por garantido porque sei perfeitamente que da mesma forma que você sobe, pode cair. Tenho a leve desconfiança de que seu futuro incluirá mais eventos, pelo menos na próxima temporada de premiações. Prepare-se. Ai meu Deus, será que vou ter de sair para comprar roupa de novo?