Reservatórios da Grande SP têm pior nível desde a crise hídrica de 2015; governo autorizou redução da pressão à noite

Os mananciais que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo operam hoje com 38,4% da capacidade, o menor índice em dez anos. O volume armazenado está acima apenas dos níveis registrados durante a crise hídrica de 2015. A trajetória de queda vem desde 2023, quando os reservatórios estavam em 72,5%. No ano passado, o índice recuou para 59,6% e, em agosto deste ano, chegou a 38,4% — perda de 34,1 pontos percentuais em dois anos. Leia mais: Em meio a falta de chuvas, São Paulo autoriza redução na pressão da água durante a madrugada Veja também: Saneamento avança entre famílias mais pobres e cobertura nacional chega a quase 70% dos lares, indica estudo A região da Grande São Paulo é abastecida pelo Sistema Integrado Metropolitano (SIM), que interliga diversos mananciais e permite a transferência de água entre os sistemas, fator crucial para a regularidade no abastecimento mesmo em cenários de estiagem. Mesmo assim, em meio a falta de chuvas e o estado de atenção no nível dos reservatórios, o governo de São Paulo anunciou o início de medidas de contingência como a redução da pressão do fornecimento de água durante a madrugada. Reservatório da Cantareira, em Nazaré Paulista (SP), em 2023 Edilson Datas/ O Globo No que diz respeito ao clima, os dados meteorológicos indicam que a estiagem deste inverno deve ser mais rigorosa do que a média histórica, o que agrava o quadro. Agosto tende a terminar com acumulados de chuva muito abaixo do esperado e, segundo as projeções, somente a partir da segunda quinzena de setembro, com a chegada da primavera, é que os volumes de precipitação devem ganhar força suficiente para reverter a tendência de queda. Até lá, o nível dos reservatórios deve continuar recuando diariamente. — As chuvas regulares devem voltar apenas na primavera, de modo que a manutenção de volumes baixos pode pressionar o abastecimento e exigir medidas preventivas para evitar maiores impactos no fornecimento de água à população — afirma Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo. A situação do sistema Cantareira, considerado o maior da região, é de atenção, já que opera atualmente com apenas 35,9% de sua capacidade. Mantido o ritmo atual de perda, de 0,3 ponto percentual por dia, o volume útil pode despencar para a faixa de 15% no início da temporada de chuvas. O Alto Tietê tem 30,5% de volume armazenado, 0,3% a menos do que no dia anterior. No mês, acumula 2,5 mm de chuva, bem abaixo da média de 30 mm. O Guarapiranga opera com 55,3% da capacidade, uma queda de 0,3%. A pluviometria do mês é de 4 mm, muito inferior à média de 39,8 mm. Volume no Sistema Integrado Metropolitano Sabesp O Cotia, com 60,1% de volume armazenado, reduziu 0,4% e registrou pluviometria de apenas 3,6 mm no mês. A média histórica é de 40 mm. O Rio Grande, com 59,2% armazenado, caiu 0,3%. A média histórica de chuvas em agosto é de 48,4 mm, porém choveu apenas 8,2 mm. O sistema Rio Claro foi o que recebeu mais chuva até o momento, com 25,4 mm registrados, frente à média histórica de 100,1 mm. Está operando com 23,2% da capacidade, 0,5% a menos que o dia anterior. Já o sistema São Lourenço tem uma média histórica de 60,7 mm de chuva e só registrou 2,8 mm. Encontra-se com 56,6% de armazenamento, 0,5% a menos que o dia anterior. — A falta de chuvas significativas agrava a queda nos níveis de armazenamento, situação que é típica para o período seco, mas que preocupa pelo ritmo de redução dos índices pluviométricos — afirma Borges. Mananciais interligados A Sabesp afirmou ao GLOBO que não há risco de desabastecimento e argumentou que a estrutura formada por sete mananciais interligados garante maior segurança e flexibilidade no abastecimento da Grande São Paulo. Essa estrutura permite atender diferentes regiões a partir de mais de uma fonte, com o apoio de reservatórios importantes que ajudam a equilibrar a distribuição. O mecanismo foi aprimorado em especial após a crise hídrica que atingiu São Paulo e levou a ações de racionamento de água. A Sabesp iniciou a operação do Sistema São Lourenço, a interligação Jaguari-Atibaia e a modernização de estações de tratamento, como as do Guarapiranga e do Rio Grande. Apesar de os índices atuais serem os menores dos últimos dez anos, a companhia afirma que a situação é distinta da de 2015, devido à robustez alcançada pela rede nos últimos anos. Vista aérea da reserva do Cantareira, o maior reservatório de São Paulo Edilson Dantas O governo do Estado de São Paulo, por meio da Semil e da Arsesp, afirmou que monitora diariamente os dados e projeções dos mananciais. O Executivo declarou ter confiança na resiliência do SIM, mas reforçou a importância do consumo consciente durante o período de estiagem. Uma campanha de conscientização será lançada nos próximos dias para orientar a população sobre o uso racional da água. Como vai funcionar a redução da pressão? Diante do cenário de estiagem, medidas paleativas como a redução da pressão da água durante a madrugada começam a ser colocadas em prática. Segundo o governo, a Sabesp poderá definir um período de oito horas, com intervalo que será definido pela companhia, em que a diminuição na pressão fica autorizada de forma excepcional. A medida ficará válida até que os níveis dos reservatórios que abastecem a Região Metropolitana sejam recuperados. A ação, segundo a Sabesp, pode gerar uma economia de 4 metros cúbicos de água (ou 4.000 litros) por segundo. A agência de Águas do Estado de São Paul, a SP Águas, recomendou para a Arsesp a adoção de medidas que reduzam o volume de retirada de água dos reservatórios. Segundo a agência, a Grande São Paulo enfrenta uma sequência de anos com chuvas abaixo da média. Em nota, a Sabesp confirmou que fará a redução da pressão noturna para minimizar as perdas e que os imóveis residenciais que possuem caixa d’água não devem sentir os efeitos desta ação. "Diante dos eventos climáticos, cenário de chuvas abaixo do esperado e da variação no nível dos mananciais, a Sabesp adotará as manobras operacionais temporariamente, evitando perdas de água por vazamentos e rompimento de tubulações. A iniciativa terá início após 48 horas da deliberação da Arsesp", informou a Sabesp.