ADRIANA FERNANDES, BRUNO BOGHOSSIAN, VICTORIA AZEVEDO E MARCOS HERMANSON BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) O secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Dudena, acenou com a possibilidade de o governo federal estabelecer uma maior restrição à publicidade das bets no Brasil. Ao C-Level, videocast da Folha, o secretário comentou as críticas em relação ao excesso de publicidade no setor por parte de influenciadores, apresentadores de TV, canais esportivos e até mesmo atletas. "Quando se faz a crítica muitas vezes se está a olhar para a ativação em estádio, camiseta de clube de futebol, propaganda na televisão, que obviamente isso talvez em algum momento precise ser controlado um pouco mais, algumas restrições", disse Dudena, responsável no governo pela área que regula e autoriza as apostas esportivas. Uma das possibilidades é restringir a participação de atletas na publicidade de bets. "A exposição de atletas, por exemplo, se for algo que a gente reconheça como não desejável, eventualmente a gente vai restringir. Se a atuação de pessoas públicas tenha que ser restringida, eventualmente vai se restringir. O que a gente não pode é querer fazer tudo de uma vez ao mesmo tempo." Para ele, fazer tudo ao mesmo tempo é uma receita para uma regulação que não se estabiliza no tempo. "Não traz segurança jurídica para quem precisa ter essa segurança, que são as pessoas e a economia popular", ressaltou. O secretário do ministro Fernando Haddad (Fazenda) ponderou, no entanto, que nesse primeiro momento de abertura do mercado faz sentido a exposição das bets via publicidade para que o apostador saiba diferenciar as casas de apostas legais das ilegais. Dudena avaliou que a publicidade mais relevante no combate aos ilegais é a disponibilização do link para o site de apostas. "Como é que, normalmente, uma pessoa chega numa casa ilegal? Ela está navegando por perfis de redes sociais ou por sites de busca e se depara com um link, seja divulgado por um influenciador, seja dentro de alguma campanha fingindo não ser uma campanha. Ela clica nesse lugar, é direcionada para uma casa de aposta, e, então, se engaja nessa atividade de aposta do ilegal", afirmou. O secretário disse que não vê com bons olhos "neste momento" uma restrição absoluta de publicidade. Ele explicou que hoje há restrições à mensagem do conteúdo da publicidade. "Não pode, por exemplo, falar que aposta é algo diferente daquilo que ela é. Aposta é entretenimento, é gasto de dinheiro. Falar que você vai ficar rico, falar que você vai ser mais bonito, falar que você vai ter sucesso social, que vai ter complementação de renda, é proibido", disse. O apresentador de TV, o influenciador e outros contratados para fazer a propaganda também são atingidos por essa proibição. Crianças e adolescentes também não podem participar da propaganda e nem ser destinatárias da publicidade. "É uma curva no tempo. Eu não consigo imaginar que esse investimento publicitário perdure. Haverá uma acomodação no tempo dos investimentos em publicidade e isso tende a arrefecer." O secretário ressaltou que o Conar, conselho responsável pela autorregulação publicitária, também traz regras publicitárias para a atividade de aposta. "Talvez a gente tenha que pensar detalhes dessa regulação sempre, como um ciclo regulatório", disse. Segundo ele, o Ministério da Fazenda assinou um acordo de cooperação com o Conselho Digital, a associação que congrega as principais redes sociais e plataformas de busca do Brasil, a fim de se engajarem na atividade de derrubada de links dos ilegais. "Se a gente conseguir cortar o fluxo financeiro, e de acesso das casas de apostas ilegais via redes sociais, a gente mata esses ilegais", disse. Dudena reconheceu, no entanto, que o trabalho de "seguir o dinheiro" para cortar recursos das bets ilegais não será feito da noite para o dia, mas já começou no Brasil. "Se a gente conseguir impedir que esse fluxo se dê, a tendência é que a gente consiga fazer uma boa restrição dos ilegais."