Você pode fazer cara de espanto e olhar torto, mas Tanner Dam, escrivão de 38 anos, vai reagir com uma risada e dizer que se sente "à vontade com sua masculinidade". E daí se quiser passear pela Disneylândia com uma pelúcia presa ao ombro? "Não tenho vergonha, não", disse ele, mostrando indiferença, fazendo o acessório – Zazu, o mordomo de "Rei Leão" – subir e descer. "Além disso, a garotada descolada também tem um igual." Bom... não é bem assim. O suvenir com ímã que a Disney chama de Shoulder Plush é um sucesso nos parques temáticos da empresa espalhados pelo mundo, sim, mas não é a "garotada" que está impulsionando as vendas. O produto, lançado em 2018 com um único item – o Baby Groot – atraiu principalmente um subgrupo bem peculiar de visitantes. Fofos e sinceros aos olhos de alguns, alvos favoritos de piadas e memes de outros, os fãs adultos da Disney são supertietes superanimados. Muitos visitam os parques sozinhos, sem crianças. Alguns choram de alegria quando avistam o Castelo da Cinderela. Quase todos encontram meios cada vez mais criativos de demonstrar o fanatismo através de roupas, acessórios e arte corporal: são camisetas, orelhas de rato, pins, mochilas, amuletos, cordões, tamancos, adesivos, tatuagens... e os bonecos para colocar no ombro, mais e mais populares. "Orelha de rato já era, todo mundo tem. Eu queria algo mais engraçado", declarou David Gallegos, de 23 anos, ao sair da Disneylândia, em meados de julho, com a namorada, Joshelyn Rodriguez, de 22 anos, apontando para o ombro dela, onde Zero, o cachorro fantasma de "O Estranho Mundo de Jack", estava acomodado. A Disney se recusou a fornecer os dados de vendas, mas afirmou estar expandindo a categoria devido à forte demanda. O fato é que a Disney Consumer Products pretende lançar 45 opções até o final do ano que vem, com o Grilo Falante, de "Pinóquio", e uma versão nova e repaginada de Sininho se juntando a Tatá, o rato gordinho de "Cinderela", e Raiva, de "Divertida Mente". "Toda vez que lançamos um novo personagem, ele dispara para o topo da lista dos mais vendidos", confirmou Monty Maldovan, gerente de design de produtos dos parques temáticos da Disney e da DisneyStore.com. Tony, de East Wenatchee, Washington, usa um suéter de pelúcia da Groot no ombro, no Walt Disney World, perto de Orlando, Flórida, em 3 de agosto de 2025 Todd Anderson/The New York Times A pelúcia tem pouco mais de 12 cm de altura, custa entre US$ 25 e US$ 30 e não cai graças ao ímã no seu interior, que se atrai a outro, preso sob a roupa. "Ele fica quietinho, a menos que eu vire o ombro muito rápido; aí ele sai voando." (Talvez fosse bom esconder Zazu em certos brinquedos para ele não acabar sendo atropelado.) O Disney Shoulder Plush foi um dos finalistas na categoria de melhor pelúcia da edição deste ano do Prêmio Brinquedo do Ano, organizado pela Toy Foundation, braço filantrópico de uma associação comercial do setor de brinquedos – mas acabou perdendo para o Emotional Baggage, conjunto educativo de bolas de pelúcia projetado para ajudar as crianças a discutir os próprios sentimentos. Os produtos estão ganhando popularidade em parte graças à onda dos "kidults" – os adultos que tentam recapturar a magia da infância com brinquedos e fantasias. A Pop Mart, varejista chinesa de itens colecionáveis, calcula que os Labubu vão gerar um lucro de US$ 1 bilhão só este ano, mais do que o dobro do volume de 2024. Os bonequinhos viraram febre entre as mulheres, que os levam pendurados na bolsa. "A pelúcia de ombro ainda não é superpopular, mas acho que vai chegar lá. As pessoas adoram se sentir especiais e diferentes, e esse é um meio de se destacar, mesmo entre outros fãs", opinou AJ Wolfe, autor do livro "Disney Adults: Exploring (and Falling in Love With) a Magical Subculture". Milton Magana, de San Leandro, Califórnia, acompanhado de uma pelúcia de ombro no Walt Disney World, perto de Orlando, Flórida, em 3 de agosto de 2025 Todd Anderson/The New York Times A origem exata dos brinquedos magnéticos é obscura. Há quem mencione a Shoulder Fun USA, pequena empresa da Flórida, que começou a vender o chamado Shoulder Buddy no início da década de 2010, mas Maldovan revelou ter se inspirado em "Guardiões da Galáxia Vol. 2", lançado pela Walt Disney Studios em 2017. Viu no pôster do filme da Marvel a mudinha antropomórfica Baby Groot em pé no ombro de outro personagem e pediu a uma loja de brinquedos que fizesse o protótipo. Quando chegou, ele o usou no escritório. "A reação foi incrível." A tendência se espalhou. Para se promover, em abril, o Seattle Mariners lançou a versão alce, mascote do time de beisebol; a loja on-line Streamline Imagined vende opções próprias, inclusive um nacho de ombro, por US$ 14. ("A companhia perfeita para um programa nada comum!") Pelúcias da Stitch à venda no Walt Disney World Todd Anderson/The New York Times Mas foram os parques temáticos e produtos da Universal que lançaram o desafio, com vários amigos de ombro elaborados e interativos, incluindo Snowy Owl, a coruja-das-neves de "Harry Potter" (US$ 59) que chilreia, move a cabeça e bate as asas. Um dinossauro bebê chamado Dolores (US$ 55), inspirado na personagem do recente "Jurassic World: Recomeço", mexe o pescoço, a boca e os olhos e faz barulhos de mastigação. "Estamos correndo para acompanhar a demanda. Os visitantes amam e é um meio de ampliar nossa narrativa", declarou Justin LaFoe, diretor global de vendas e varejo da Universal Parks & Experiences. As pelúcias de ombro também contam a história dos fãs. Chris Pattuinan, de 35 anos, foi à Disneylândia em julho acompanhado de Stitch, o alienígena azul destruidor, empoleirado no ombro. "Ele representa meu lado mais esquisito", confessou.