Após tornar-se alvo de críticas por comparar pessoas em situação de rua a carros estacionados em locais irregulares, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), voltou a abordar o tema nesta segunda-feira. Ainda em junho, o político sugeriu a criação de leis mais rígidas para proibir essa população de dormir em vias públicas, afirmando que quando um veículo está em um lugar proibido, "ele é removido, guinchado". Desta vez, ao responder uma pergunta sobre a declaração anterior, Zema afirmou que o Brasil está criando "verdadeiros chiqueiros humanos". Leia mais: Zema lança pré-candidatura à Presidência: ‘Vamos acertar as contas com o lulismo, os parasitas do Estado e as facções criminosas’ Relembre frases controversas de Zema, de críticas a licitações à comparação entre moradores de ruas e carros Durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o governador foi questionado se o posicionamento não poderia denotar "insensibilidade social". Apesar de recuar sobre a declaração anterior, o político afirmou que certas cidades estão lidando melhor "com esse tipo de problema", enquanto outras nem tanto. "Pessoas não se guincham", afirmou, ponderando que o Governo Federal deve tomar à frente do enfrentamento da questão social. "Eu tenho 60 anos, isso não existia. Nós estamos criando verdadeiros chiqueiros humanos nas grandes cidades do Brasil por omissão do setor público, que fica só nessa 'guerrinha' de perseguir o adversário e esqueceu essas pessoas. Eu tive a coragem de falar sobre esse problema", completou. O governador alegou, ainda, que a maioria dos moradores de rua é de "dependentes químicos, pessoas que perderam a noção da realidade", o que na sua visão dificulta a aceitação do recebimento de tratamentos adequados. De acordo com Zema, as pessoas fazem "vista grossa" ao invés de tentar encontrar maneiras de solucionar o caso. Zema descarta concorrer como vice à Presidência e tenta se desvincular de Bolsonaro: 'Caminhei de um lado, ele de outro' "Esse pessoal de direitos humanos, que fala tanto que são os protetores dessas pessoas, eles deveriam fazer uma placa na porta da casa deles: 'sem-tetos, acampem aqui na porta da minha casa'. Aonde eles chegam, residência ou comércio, só causam perturbação. Um cheiro horrível". Relação com Bolsonaro Na mesma entrevista, Zema também abordou a relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Numa tentativa de desvincular sua imagem do ex-mandatário, o governador mineiro afirmou que nunca teve o apoio nem compartilhou palanque com o ex-presidente em primeiro turno de eleições, e restringiu a vinculação ao apoio mútuo de propostas de teor liberal e cristão. "Quem conhece minha história sabe que em 2018 eu caminhei de um lado e Bolsonaro, de outro. Em 2022, a mesma posição, exceto no segundo turno, quando já estava reeleito", disse. "Temos sim propostas que acreditamos e temos comum acordo. Queremos um estado mais leve, o combate a corrupção. Eu valorizo a família, sou cristão. Mas dizer que eu sempre caminhei com ele, quem sabe da minha vida, analisa perfeitamente que nunca estivemos no mesmo partido", completou. Declarações recorrentes No dia 5 de junho, em entrevista ao canal Jovem Pan, Zema fez a primeira declaração pública sobre a comparação entre moradores de rua e carros estacionados. Àquela altura, o posicionamento já havia gerado repercussão negativa na classe política. "Temos lá (em Belo Horizonte) moradores de rua ainda. Eu falo que no Brasil nós tínhamos que ter uma lei. Quando você para um carro em lugar proibido, ele é removido, guinchado. Agora, fica morador de rua às vezes na porta da casa de uma idosa, atrapalhando ela a entrar em casa, fazendo sujeira, colocando a vida dela de certa maneira em exposição", disse Zema. Depois, já no mês de agosto, o governador voltou a abordar o assunto em entrevista à BBC News Brasil. Na ocasião, ao ser questionado sobre como lidaria com essa população caso fosse eleito à Presidência, Zema voltou a fazer a mesma comparação: "Eu quero resolver esse problema. Se alguém deixa o carro estacionado num lugar proibido, o carro não é guinchado? Agora vai ficar alguém na porta de um comerciante que paga imposto, que gera emprego, fazendo sujeira, atrapalhando, ameaçando o cliente. Ninguém pode fazer nada", afirmou.