Secretária-geral da Presidência e irmã mais nova de Javier Milei, Karina Milei é considerada uma das figuras mais influentes do governo argentino. Agora, no entanto, seu nome tem sido abordado por outro motivo: ela está no centro de um escândalo de corrupção que envolve um suposto esquema de propinas na compra de medicamentos para a rede pública de saúde. Entenda: Escândalo de subornos envolvendo irmã do presidente argentino abala governo Milei antes de pleito Contexto: Polícia argentina cumpre mandados de busca após áudios ligarem irmã de Milei a suposta cobrança de propina As acusações vieram à tona após a divulgação de áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis, na sigla original em espanhol) e antigo aliado de Milei. Nos registros vazados, Spagnuolo afirma ter provas do envolvimento de Karina e de Eduardo “Lule” Menem, outro assessor próximo ao presidente. Segundo ele, até 8% do faturamento de indústrias farmacêuticas eram desviados para garantir contratos com o governo. As gravações já estão sob investigação judicial e indicam que Karina seria a principal beneficiária dos valores arrecadados. Embora os áudios ainda não tenham sido oficialmente autenticados pela Justiça, o caso levou à abertura de uma investigação federal, com buscas em empresas suspeitas e apreensão de dólares em espécie. Mesmo diante das denúncias, Javier Milei demonstrou apoio público à irmã, aparecendo sorridente ao lado dela em compromissos recentes. O governo alega que se trata de uma perseguição política, mas a pressão deve crescer. Parlamentares cogitam instalar uma CPI, e a Justiça avança na apuração do suposto esquema. Quem é Karina Milei? Reservada e avessa a entrevistas, Karina sempre atuou nos bastidores do projeto político do irmão. Já foi chamada pelo líder argentino de “O Chefe” e é vista como a “grande arquiteta” de sua campanha presidencial. É ela quem organiza a agenda do presidente e controla quem tem acesso direto a ele — função que lhe garante enorme poder dentro do governo. Análise: Em pânico, Milei teme mais vazamentos Antes de entrar para a política, Karina se dedicou a negócios próprios, como uma confeitaria e uma oficina de pneus, além de ter estudado Relações Públicas. Sua trajetória mudou radicalmente quando decidiu apoiar o irmão em suas primeiras palestras como economista, assumindo papel central na escalada que o levou à Casa Rosada. Magra, pequena, loira tingida, muitos na Argentina consideram que Karina é a pessoa em quem Milei mais confia, sua estrategista de campanha, sua estilista, alguém que ele chama de “o Messias”. No momento mais importante de sua vida — a vitória presidencial —, a primeira pessoa a quem Milei agradeceu por foi a caçula. Karina e Javier Milei são filhos de um motorista de ônibus e uma dona de casa. Cresceram no bairro de Villa Devoto, em Buenos Aires, e estudaram na mesma escola católica. Ambos são solteiros, sem filhos, e atuam como parceiros profissionais há anos. Ela, porém, mantém um perfil discreto. Não dá entrevistas, poucos ouviram sua voz. Aliança transnacional: Ascensão de direita inspirada por Trump na América do Sul fomenta riscos para região Karina sempre teve um relacionamento próximo com o irmão, que quando criança foi maltratado pelo pai com o silêncio cúmplice da mãe — algo pelo qual ele nunca os perdoou — e que sofria bullying na escola. Enquanto Milei passou a chamar os pais de “progenitores”, no entanto, Karina nunca rompeu o relacionamento com eles. Formada em relações públicas, ela estudou confeitaria, é escultora amadora e foi co-proprietária de uma loja de pneus. Quando seu irmão começou a aparecer na TV como apresentador de talk show, ela ficou encarregada de administrar seus bens. Dias de tensão O escândalo envolvendo a irmã do presidente argentino estoura em um momento sensível para o governo: a duas semanas das eleições provinciais em Buenos Aires e a menos de dois meses do pleito legislativo nacional. A crise ameaça enfraquecer Milei diante de um Congresso já hostil e pode desgastar o discurso anticorrupção que o impulsionou. Na segunda-feira, veículos de imprensa locais divulgaram novos áudios de Spagnuolo, até pouco tempo muito próximo de Milei, nos quais o ex-funcionário faz revelações sobre uma denúncia que já está sendo investigada pela Justiça. Paralelamente, Karina poderá ser convocada para dar explicações sobre o escândalo no Senado, onde o partido de Milei, A Liberdade Avança (LLA), não tem sequer uma cadeira. Initial plugin text Ainda assim, Milei disse, também na segunda-feira, que jornalistas eram “mentirosos e rasteiros” e afirmou que parlamentares que estão indo contra suas decisões de governo estão prejudicando o país. (Colaborou Janaína Figueiredo)