Presença de Bolsonaro no julgamento da trama golpista divide filhos, Michelle e aliados do PL

A uma semana do início do julgamento sobre a trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), a intenção do ex-presidente Jair Bolsonaro de acompanhar no plenário da Corte a análise da ação penal da qual é réu divide parlamentares aliados, familiares e integrantes do PL. De um lado, parte do seu entorno acredita que a presença no plenário teria valor simbólico. De outros, familiares e advogados alertam para riscos de exposição, desgaste político e o estado de saúde fragilizado de Bolsonaro, que enfrenta crises recorrentes de soluço, que muitas vezes desencadeiam em vômitos. Entre parlamentares mais próximos, a avaliação é que Bolsonaro deveria comparecer para reforçar sua narrativa de enfrentamento e perseguição política, que mobiliza sua base mais fiel. Para esse grupo, a imagem do ex-presidente no plenário poderia ser explorada como demonstração de coragem, sinalizando que ele não teme enfrentar as acusações. Deputados e senadores da ala mais radical do PL argumentam que a ausência poderia ser interpretada como sinal de fragilidade política. Já aliados com visão mais pragmática argumentam no sentido contrário. Para eles, a presença não traria qualquer vantagem jurídica e poderia gerar desgaste adicional junto ao STF. Esse grupo avalia que a cena do ex-presidente sentado no banco dos réus poderia ser usada politicamente por adversários, além de estimular manifestações inflamadas em um momento considerado delicado. A família de Bolsonaro também apresenta divisões. A mulher, Michelle Bolsonaro, tem se posicionado a favor de uma postura mais discreta, evitando a exposição do marido. Parte do argumento envolve a saúde do ex-presidente: assistir às sessões em casa, em um ambiente controlado e acompanhado por advogados, permitiria que ele fizesse pausas durante as longas sessões. Entre os filhos que atuam politicamente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador e responsável por parte da articulação institucional da família, tem recomendado cautela, sinalizando que a ausência pode ser mais prudente. Carlos e Eduardo, por outro lado, já indicaram inclinação pela presença do pai no STF. A defesa de Bolsonaro ainda não tem um posicionamento formal, mas tem reforçado que o comparecimento não traria qualquer benefício processual. A participação no julgamento não altera os rumos da ação nem interfere nas decisões dos ministros, tornando a decisão sobretudo política e estratégica.