Frase de Milei em comício vira munição para oposição na Argentina em meio a suspeita de corrupção

Em meio à investigação de um suposto esquema de pagamento de propina na administração federal que envolveria sua irmã, Karina Milei, o presidente da Argentina, Javier Milei, evitou abordar o tema em um evento eleitoral de seu partido na noite de segunda-feira. Ainda assim, uma frase dita de improviso foi apontada por opositores como uma admissão de culpa — em um momento em que novos áudios que estão sendo atribuídos a um ex-gestor próximo a Milei são publicados pela imprensa do país. Casa Rosada sob pressão: Escândalo de subornos envolvendo irmã do presidente argentino abala governo Milei antes de pleito Análise: Em pânico, Milei teme mais vazamentos O presidente foi o último a discursar durante o evento de seu partido, A Liberdade Avança (LLA, na sigla em espanhol), na cidade de Junín, para apresentar candidatos das eleições legislativas na província de Buenos Aires. Ele criticava a atuação da base kirchnerista no Congresso, acusando os opositores de passarem medidas contrárias a sua política de controle de gastos, quando um partidário na plateia o interrompeu gritando "ladrões filhos da p...". Foi quando Milei saiu do roteiro e respondeu: — [Eles] estão irritados porque estamos roubando o roubo deles — disse o presidente. Initial plugin text A frase rapidamente repercutiu entre representantes da oposição não ligados ao kirchnerismo como uma admissão de culpa por parte do presidente, de que seu governo estaria envolvido com esquemas de corrupção. O presidente da centrista Coalizão Cívica, Maximiliano Ferraro, declarou que "o subconsciente" de Milei "o traiu", e usou um axioma jurídico para sugerir que a confissão de uma parte libera a outra de ter que provar suas alegações. Outras lideranças também se manifestaram. "Milei assume publicamente que [ele e seus aliados] são o mesmo que o kirchnerismo, que fazem o mesmo que eles. Disse textualmente: "Estamos roubando o roubo deles". Mais claro não é possível", escreveu a deputada Margarita Stolbizer, do partido de centro-esquerda GEN, em uma publicação nas redes sociais. Em uma manifestação a parte, o deputado Facundo Manes, do União Cívica Radical, de esquerda, ironizou a fala do presidente: "agora ficamos mais tranquilos". Initial plugin text O governo Milei foi pego de surpresa na semana passada por áudios vazados na imprensa argentina, atribuídos ao ex-chefe da Agência Nacional de Deficiência (Andis), Sergio Spagnuolo, figura próxima ao presidente. A autenticidade das gravações — que sugerem que a irmã do presidente e pelo menos um ministro de se beneficiariam de um esquema de propina envolvendo uma rede de farmácias que fornece produtos à agência — não foi atestada até o momento pelas autoridades responsáveis pela investigação, mas o silêncio do próprio Spagnuolo sobre o caso colocou dúvidas sobre o caso. A Casa Rosada também adotou uma estratégia de silêncio, ao menos nos primeiros dias. No evento eleitoral em Junín, nem Milei nem Karina, que também discursou perante o público, falaram sobre a suposta trama — que não se converteu em acusação formal contra nenhum dos supostos envolvidos. Em parte do discurso, Milei chegou a exaltar a irmã e pedir aplausos para ela. Diego Spagnuolo e Karina Milei durante a campanha eleitoral em 2023 Reprodução/La Nacion No âmbito da investigação, as apurações continuam. O juiz federal Sebastián Casanello ordenou na segunda-feira o congelamento de cofres de Spagnuolo e outros supostos envolvidos no esquema, incluindo empresários e agentes públicos, a fim de que nenhum item que possa ter valor de prova seja retirado. Alguns suspeitos estão proibidos de viajar, e autoridades judiciais estão em posse de celulares ligados aos investigados. Apenas um deles, porém, aceitou informar a senha de acesso aos investigadores, o que pode fazer com que o trabalho de coleta de dados demore mais que o usual. Enquanto isso, novas gravações de áudio atribuídas a Spagnuolo foram publicadas por contas de streaming e plataformas de mídia argentina. As gravações, de origem desconhecida, fazem referências depreciativas e críticas a vários funcionários do governo. O vazamento das novas gravações foi apontado por periódicos argentinos como um indício de que Spagnuolo poderia ter sido gravado de forma sistemática e clandestina. (Com La Nacion)