O Gabinete de Segurança de Israel concluiu uma esperada reunião de cúpula na noite desta terça-feira (começo de tarde em Brasília), no primeiro encontro do órgão desde que mediadores anunciaram que o grupo terrorista Hamas aceitou termos para um cessar-fogo parcial. Apesar da expectativa em torno de um decisão sobre o acordo, e de uma onda de protestos que levou milhares de pessoas às ruas do Estado judeu, a reunião se encerrou sem sequer colocar em pauta qualquer votação sobre o tema, segundo relatos da imprensa israelense. Sem nomeação de embaixador: Israel rebaixa relações com Brasil após impasse diplomático, dizem fontes da embaixada Duplo bombardeio: Premier de Israel classifica ataque que matou jornalistas em hospital no sul de Gaza como 'acidente trágico' A emissora de TV israelense Canal 12, citando fontes com conhecimento da reunião, noticiou que os termos do cessar-fogo em Gaza não foram colocados em discussão durante o encontro, que durou menos de três horas. O final da reunião foi antecipado para que ministros que integram o órgão, incluindo o premier Benjamin Netanyahu, pudessem comparecer a um jantar com colonos israelenses da Cisjordânia, em um restaurante de Jerusalém. Initial plugin text O desfecho do encontro é particularmente frustrante para milhares de civis israelenses, que desde as primeiras horas da manhã desta terça participam de atos e mobilizações para pressionar o governo a aceitar qualquer solução que liberte os reféns ainda em cativeiro no enclave palestino — ao todo, 50 pessoas ainda estão em Gaza, dos quais acredita-se que 20 estejam com vida. Os primeiros protestos começaram às 06h29 (00h29 em Brasília), mesmo horário que o Hamas lançou o atentado terrorista de 7 de outubro de 2023. Os atos foram convocados por organizações da sociedade civil, incluindo o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, fundada após o ataque para exigir que o foco das ações israelenses seja a recuperação dos sequestrados. Atos foram registrados em todo o país, com algumas das principais estradas intermunicipais sendo bloqueadas por pneus em chamas. Manifestação em Israel exige acordo para libertação de reféns antes de reunião no governo Em Tel Aviv, a maior manifestação começou por volta do fim da tarde, quando sobreviventes do cativeiro do Hamas, familiares de reféns ainda em Gaza e milhares de populares se dirigiram até a Praça dos Reféns. Em uma das cenas mais simbólicas, as ex-reféns Arbel Yehoud e Sharon Aloni-Cunio participaram de uma instalação, em que ficaram sentadas de frente para fotos de seus respectivos parceiros, os irmãos Ariel e David Cunio, que continuam em Gaza. Protestos também foram realizados em diferentes partes, incluindo do lado de fora do Gabinete de Segurança israelense e em frente ao restaurante em Jerusalém onde os representantes do governo são esperados pelos colonos. A imprensa israelense também relatou movimentações perto da sede da Embaixada dos Estados Unidos e diante das residências de vários ministros. — O primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu prioriza a destruição do Hamas antes da libertação dos reféns — afirmou Ruby Chen, que teve o filho sequestrado pelo grupo terrorista em outubro de 2023, em um discurso mais cedo. — Ele acredita que sacrificar 50 reféns por suas necessidades políticas é uma alternativa válida. Netanyahu, anunciou na semana passada, depois que o Hamas indicou estar disposto a um acordo final sobre os reféns, que havia autorizado a retomada das negociações diplomáticas. Todavia, o próprio premier pontuou que apenas uma solução definitiva interessaria ao Estado judeu — o que, nos termos do atual governo, incluem não apenas a volta dos reféns, mas uma rendição total do grupo terrorista palestinos, com a entrega de armas, e instauração de um novo governo sem sua participação. Murais montados em praia de Tel Aviv pedem solução para a questão dos reféns em Gaza Jack Guez/AFP O premier ainda acrescentou que a retomada de negociações não interromperia os planos já traçados para a frente militar, que incluem a tomada da Cidade de Gaza pelo Exército israelense — algo que a própria alta-cúpula militar considera arriscado para os reféns e para as tropas. Especialistas apontaram que o posicionamento do primeiro-ministro ao acenar à via diplomática parece uma tentativa de ganhar tempo, enquanto suas Forças Armadas se preparam para a nova incursão. Múltiplas fontes argumentam que uma vitória total em Gaza é a única forma vista por Netanyahu para recuperar o capital político perdido nos últimos anos, sobretudo após a falha de segurança que permitiu o atentado do Hamas. — Avançar com o plano de conquistar Gaza enquanto há um acordo em pauta para assinatura do primeiro-ministro é uma facada no coração das famílias e de toda a nação — disse Itzik Horn, pai de Iair Horn, que foi libertado em fevereiro, e de Eitan Horn, que ainda está refém. — Junte-se a nós hoje em nossa luta coletiva, porque somente o povo os trará de volta.7 Antes que a reunião começasse, o ministro das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, afirmou que o país mediador das conversas com o Hamas ainda aguardava uma resposta israelense sobre o cessar-fogo. Ele advertiu, porém, que as declarações ouvidas até o momento não passavam confiança de um desfecho positivo. Fontes israelenses ouvidas pelo New York Times em sigilo disseram o mesmo. 'Apoiador do Hamas': Ministro da Defesa de Israel chama Lula de antissemita em meio a crise diplomática Mudança de paradigma: Recrutamento de israelenses ultraortodoxos para a guerra em Gaza causa revolta e ameaça coalizão de Netanyahu — Corresponde à parte israelense responder à oferta que está na mesa. O restante não passa de jogo político — disse o diplomata. Enquanto isso, as ofensivas israelenses continuam a fazer vítimas nos territórios palestinos. A ONG Crescente Vermelho confirmou 14 feridos durante uma operação militar em Ramallah, na Cisjordânia, enquanto a Defesa Civil de Gaza, braço da administração do Hamas, afirmou que 75 pessoas morreram no enclave nas últimas 24 horas. (Com AFP e NYT)