Após Intel, governo Trump mira agora setor de defesa. Entenda

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, sugeriu nesta terça-feira que o governo está observando o setor de defesa e outras indústrias em busca de participações potenciais em empresas após um acordo não ortodoxo que fez os EUA obterem uma fatia de 10% na fabricante de chips Intel. Empresas americanas têm novo investidor ativista: Donald Trump Trump afirma que Intel concordou em ceder 10% de participação acionária aos EUA. Entenda — Ah, há uma discussão monstruosa sobre defesa — disse Lutnick ao ser questionado no canal de notícias CNBC se o governo considera arranjos semelhantes com empresas que se beneficiam de políticas públicas, incluindo no setor de defesa. Lutnick destacou a fabricante de produtos de segurança, defesa e aeroespaciais Lockheed Martin, afirmando que a empresa obtém grande parte de sua receita por causa do governo dos EUA. — Eles são basicamente um braço do governo dos EUA, fabricam munições requintadas — afirmou, antes de questionar: — Qual é a economia disso? Vou deixar isso para o meu secretário de Defesa e o secretário adjunto de Defesa. Esses caras estão cuidando disso e estão pensando sobre isso. Mas digo uma coisa: há muita conversa que precisa ser feita sobre como financiamos nossas aquisições de munições. Diretora do Fed demitida por Trump diz que vai à Justiça contra decisão: 'Medida é ilegal' O governo dos EUA respondeu por cerca de 73% das vendas líquidas da Lockheed Martin no ano passado, de acordo com documentos regulatório. A empresa de segurança e aeroespacial é uma grande fornecedora das Forças Armadas dos EUA, incluindo dos caças F-35 e F-22. "Assim como fizemos no primeiro mandato, estamos dando continuidade ao nosso forte relacionamento de trabalho com o presidente Donald Trump e seu governo para fortalecer nossa defesa nacional”, disse a Lockheed Martin em comunicado enviado por e-mail. Porta-vozes da Boeing e da RTX se recusaram a comentar as declarações de Lutnick ou a responder perguntas sobre eventuais discussões com o governo dos EUA sobre o assunto. Já representantes da General Dynamics, Northrop Grumman e SAIC não responderam. Initial plugin text As ações de empresa americanas de defesa subiram após as declarações de Lutnick. As ações da Lockheed Martin avançaram até 1,7%, registrando seu maior ganho intradiário em quase duas semanas, enquanto a Northrop Grumman ganhou 1,2%. Os comentários do secretário de Comércio acontecem após um acordo firmado na última sexta-feira garantir ao governo dos EUA participação na Intel, numa tentativa de reerguer a fabricante de chips em dificuldades. Pelo acordo, os Estados Unidos receberão 433,3 milhões de ações ordinárias, quase 10% do total de ações da empresa. Trump pode demitir a diretora do Fed? O que está em jogo: Veja perguntas e respostas O investimento de US$ 8,9 bilhões será financiado por subsídios da Lei dos Chips e da Ciência dos EUA e do programa Secure Enclave, que haviam sido previamente aprovados, mas ainda não pagos, segundo informou a Intel. Somados aos US$ 2,2 bilhões já recebidos pela empresa da Lei dos Chips e da Ciência, o investimento totalizou US$ 11,1 bilhões. O governo será um proprietário passivo, sem assento no conselho ou outros direitos de governança ou de informação. Ainda assim, a medida surpreendeu Wall Street e Washington, destacando como o presidente Donald Trump adotou uma nova forma de diplomacia econômica em seu segundo mandato. Na entrevista à CNBC, Lutnick também mencionou o financiamento dos EUA a universidades cujas pesquisas posteriormente levam a patentes e casos em que os EUA “estão completamente fazendo o seu negócio”, como ao facilitar cadeias de suprimento americanas para empresas dependentes de ímãs de terras raras atualmente dominados pela China. O Departamento de Comércio, no início deste mês, ameaçou os programas de pesquisa financiados pelo governo federal em Harvard e a propriedade intelectual deles decorrente, incluindo patentes. Embora Lutnick tenha parecido descartar a possibilidade de movimentos abrangentes do governo dos EUA para adquirir participação em empresas privadas, ele enfatizou repetidamente os benefícios do acordo da Intel para os contribuintes americanos. Quando empresas americanas recebem investimento do governo, faz sentido que os líderes busquem um acordo melhor, disse ele. — Vamos obter o benefício da barganha — afirmou. — Você tem que pressionar essas pessoas. Não pode ser alguém que aceita tudo passivamente.