Na mochila de Antônio (nome fictício) cabiam apenas um par de roupas, alguns trocados e a vontade de recomeçar. Serralheiro de profissão e adestrador de cavalos por vocação, ele decidiu deixar para trás uma vida marcada pelo uso de drogas e pela dor da separação da família. “Meu maior sonho hoje é sair das drogas. Estou dando o primeiro passo, e o apoio do governo vai me ajudar muito nesse objetivo”, disse, ao lado de outros sete colegas em situação de rua, que aceitaram voluntariamente o acolhimento em uma comunidade terapêutica conveniada pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A iniciativa integra o Acolhe DF , coordenado pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF), que oferece tratamento de até 12 meses a pessoas em situação de rua com dependência química. O programa reúne equipes multiprofissionais de saúde, assistência social, cidadania e educação, combinando acolhimento com respeito à dignidade. Desde julho, quando foi reestruturado pelo Decreto nº 47.423, foram realizadas mais de 300 abordagens, com cerca de 50 pessoas encaminhadas a uma das seis comunidades terapêuticas conveniadas. Para a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani , o Acolhe DF é referência nacional. “O programa garante que pessoas em situação de rua encontrem no Estado a força que faltava para dar o pontapé e sair desse momento. É uma chance real de reescrever uma nova história e salvar vidas”, afirmou. A secretária destacou que a inauguração do Hotel Social , em julho, ampliou a adesão ao permitir pernoite junto aos animais de estimação, facilitando o trabalho de busca ativa do GDF. O secretário-chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha , que coordena o Plano de Ação para a Efetivação da Política Distrital para a População em Situação de Rua, reforçou a integração das ações. “Dentro da Política Distrital para a População em Situação de Rua, o Acolhe DF une saúde, assistência social e cidadania em um trabalho articulado. Cada encaminhamento é uma oportunidade de transformar uma realidade e abrir caminhos para que essas pessoas tenham um futuro mais digno”, afirmou. A chegada ao Centro de Reintegração Deus Proverá (CRDP) , em Planaltina, marca o início da reconstrução da vida dos acolhidos. No local, eles recebem acompanhamento terapêutico, participam de atividades de formação, têm acesso a cuidados de saúde e oportunidades de capacitação para o retorno ao mercado de trabalho. “O grande desafio é convencê-los a aceitar o acolhimento, porque muitos ainda estão sob efeito das substâncias. Voltamos duas, três vezes até que estejam lúcidos e dispostos. O acolhimento é sempre voluntário”, explicou o subsecretário de Enfrentamento às Drogas da Sejus, Diego Moreno . Histórias como a de Antônio ganham visibilidade com exemplos de sucesso, como o de Patrick Rodrigues, de 31 anos , hoje universitário e voluntário do CRDP. “Cheguei aqui com a vida destruída, em situação de rua e dependente de álcool e drogas. Hoje faço faculdade e meu propósito é cuidar das pessoas, assim como fui cuidado aqui”, disse. O Hotel Social , primeiro equipamento permanente da capital voltado ao pernoite de pessoas em situação de rua, realizou mais de 3,1 mil atendimentos desde a inauguração, em 23 de julho, até 18 de agosto. Com 200 vagas, o espaço oferece noites de sono seguras, banho quente e duas refeições — jantar e café da manhã —, além da possibilidade de pernoitar com animais de estimação. Ônibus saindo do Centro Pop, na Asa Sul, transportam os interessados até o local. O GDF também mantém ações integradas, como a Ação Contra o Frio , que oferece pernoite, agasalhos e cobertores durante baixas temperaturas, e a distribuição de refeições gratuitas em restaurantes comunitários. Em 2024, foram servidas 1,2 milhão de refeições , contra 200 mil em 2021, reforçando o compromisso do governo com a assistência social e a reintegração da população em situação de rua. Com informações da Agência Brasília