Pela primeira vez, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration), autorizou o uso da aceclidina, conhecida comercialmente como Vizz, para o tratamento da presbiopia, condição popularmente chamada de “vista cansada”. A doença afeta milhões de pessoas a partir dos 40 anos, prejudicando atividades cotidianas simples, como ler livros, consultar cardápios ou conferir preços no supermercado. A presbiopia ocorre quando o olho perde a capacidade de focar objetos próximos, obrigando o indivíduo a afastar o celular, a bula de um remédio ou a linha da costura para enxergar claramente. Além do impacto físico, a condição tem efeito emocional, sendo um dos primeiros sinais perceptíveis do envelhecimento da visão. Embora a aceclidina não seja um medicamento novo — já utilizada na Europa desde a década de 1970 no tratamento do glaucoma —, esta é a primeira vez que é aprovada nos Estados Unidos para melhorar a visão de perto. Segundo a oftalmologista Stefânia Diniz, o mecanismo de ação do colírio se assemelha ao funcionamento de uma câmera fotográfica. “Ao reduzir o ‘diâmetro’ de entrada da luz, a aceclidina aumenta a nitidez da imagem. O colírio atua especificamente na pupila, contraindo-a de forma semelhante ao fechamento do diafragma de uma câmera. Isso reduz a dispersão dos raios de luz e aumenta a profundidade de foco, permitindo uma visão mais clara e precisa”, explica. No Brasil, a solução mais comum e acessível continua sendo o uso de óculos, seja para leitura ou multifocais, para quem também apresenta dificuldade de enxergar de longe. “Há ainda lentes de contato multifocais, indicadas para pacientes com estilos de vida que dificultam o uso de óculos, como atletas ou profissionais que exigem maior mobilidade. Para quem busca soluções mais permanentes, existem alternativas cirúrgicas, como o implante de lentes intraoculares durante a cirurgia de catarata ou técnicas a laser, como LASIK e PRK, adaptáveis para tratar a presbiopia”, complementa a médica. A especialista destaca a vantagem da aceclidina em relação à pilocarpina, outro colírio usado para a presbiopia: enquanto a pilocarpina precisa ser aplicada duas vezes ao dia e pode causar mais efeitos colaterais, a aceclidina oferece efeito prolongado, de 10 a 12 horas, com apenas uma aplicação diária. “Sua ação é altamente seletiva, atuando quase exclusivamente no músculo esfíncter da íris, proporcionando maior conforto visual e menor risco de impacto sobre a pressão intraocular — um ponto sensível para pacientes predispostos ao glaucoma”, afirma Stefânia. Com a aprovação da FDA, surge uma nova perspectiva para o tratamento da presbiopia, oferecendo mais liberdade e qualidade de vida para milhões de pessoas. A expectativa é que o colírio seja considerado também em outros países, como o Brasil, nos próximos anos.