Milei defende irmã após suspeita de corrupção e acusa kirchnerismo de 'semear o caos'; entenda escândalo

O presidente argentino Javier Milei e sua irmã Karina Milei — secretária-geral da Presidência e sua principal conselheira política — permanecem sem dar explicações diretas sobre investigações que envolvem um suposto esquema de corrupção na Agência Nacional de Deficiência (Andis, na sigla original). Após cinco dias de silêncio, Milei fez uma defesa pública da irmã nesta terça-feira e acusou o kirchnerismo de “semear o caos”, mas sem mencionar o escândalo de propinas. A crise, detonada por áudios atribuídos a um ex-funcionário próximo ao presidente, já levou a buscas policiais, apreensão de celulares, bloqueio de bens e restrições de viagem para empresários. Contexto: Escândalo de subornos envolvendo irmã do presidente argentino abala governo Milei antes de pleito Análise: Em pânico, Milei teme mais vazamentos Veja o que se sabe até agora: O que desencadeou a crise? O caso começou com a divulgação, por um canal de streaming, de áudios que seriam de Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis e aliado político de Milei. Nessas gravações, ele descreve um suposto esquema de cobrança de propina liderado por Lule Menem para liberar pagamentos e contratos de fornecimento de medicamentos. Segundo os áudios, o percentual das propinas teria passado de 5% para 8%. Quem são os principais envolvidos? Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, supostamente beneficiária de parte dos valores. Eduardo “Lule” Menem, subsecretário de Gestão, apontado como organizador do esquema; nega envolvimento e acusa o kirchnerismo de operar politicamente. Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis, destituído após os áudios; central na divulgação das supostas irregularidades. Emmanuel e Jonathan Kovalivker, empresários da Drogaria Suizo Argentina, acusados de intermediar propinas; Emmanuel foi detido com US$ 266 mil e Jonathan, antes foragido, entregou o celular à Justiça. Daniel Garbellini, ex-encarregado de compras na Andis, destituído e com bens bloqueados. Como funcionaria o esquema? Segundo os áudios, empresas fornecedoras da Andis pagariam um percentual adicional — até 8% — para garantir contratos com o órgão. Parte desse valor seria repassada a funcionários e autoridades, incluindo Karina Milei. A Suizo Argentina, principal fornecedora, teria intermediado a cobrança e repasse dos valores. Entre 2024 e 2025, os contratos da empresa com o Estado saltaram de US$ 3 milhões para US$ 80 milhões. Em um trecho, a voz atribuída a Spagnuolo afirma: — A gente da Suizo liga para os outros fornecedores e diz: “Agora não é mais 5, é 8. Tem que trazer para a Suizo e nós subimos para Presidência”. A veracidade das gravações ainda não foi confirmada pela Justiça, mas também não foi desmentida. Qual foi a reação do governo? Após tentativas frustradas do governo de forçar uma demissão voluntária, Spagnuolo foi afastado “preventivamente”. Em seguida, a Casa Rosada decretou intervenção na Andis por 180 dias e nomeou o médico Alejandro Vilches como interventor, com a missão de auditar o órgão. O chefe de Gabinete, Guillermo Francos, foi o único integrante do governo a comentar, dizendo que confia em Karina, mas “não coloca as mãos no fogo por ninguém”. Javier e Karina Milei, por sua vez, seguem sem falar diretamente sobre as denúncias. Initial plugin text Nesta terça-feira, Milei compartilhou no Instagram um comunicado da Suizo Argentina. No texto, a companhia afirma estar “à plena disposição” da Justiça para “esclarecer os fatos” e ressalta sua atuação histórica “com transparência e responsabilidade social”. A empresa também destacou que seus diretores e acionistas “se encontram à disposição de qualquer poder do Estado” para colaborar com a investigação e insistiu que atua “com total apego às normas e leis vigentes”. Apesar de divulgar a nota, Milei não fez comentários próprios sobre o caso. O que diz a investigação judicial? A causa está sob segredo de Justiça e é conduzida pelo juiz federal Sebastián Casanello e pelo fiscal Franco Picardi. Até agora: Foram cumpridos 16 mandados de busca, incluindo sedes da Andis e casas de empresários. Houve apreensão de US$ 266 mil em espécie e cerca de 7 milhões de pesos com Emmanuel Kovalivker, quando ele tentava sair de Nordelta, além de anotações sobre pagamentos. Os suspeitos, incluindo Spagnuolo, Garbellini e os irmãos Kovalivker, estão proibidos de deixar o país e tiveram suas contas bloqueadas pela Justiça. Foram confiscados celulares, computadores e documentos; alguns aparelhos revelaram mensagens apagadas, e outros ainda estão sendo desbloqueados com ajuda de especialistas. O que o Ministério Público conseguiu acessar até agora? Foram apreendidos celulares de Diego Spagnuolo e dos irmãos Kovalivker, além de aparelhos de Daniel Garbellini. Todo o conteúdo de um dos celulares de Spagnuolo foi baixado, mas foram encontradas mensagens apagadas. O outro aparelho de Spagnuolo não estava funcionando e acredita-se que esteja quebrado. O celular de Emmanuel Kovalivker ainda não pôde ser aberto, já que ele não forneceu a senha. A Justiça está solicitando ajuda à empresa israelense Cellebrite, especializada em desbloqueio forense. Jonathan Kovalivker entregou seu aparelho, que ainda será analisado. Houve alguma prisão? Até o momento, não houve prisões nem acusações formais contra Karina Milei ou qualquer outro dos citados. Por que uma frase de Milei aumentou a polêmica? Em um comício do partido A Liberdade Avança, na província de Buenos Aires, na noite de segunda-feira, Milei reagiu a um grito da plateia chamando seu governo de “ladrões filhos da p...”, enquanto ele criticava a atuação da base kirchnerista no Congresso. De improviso, respondeu que “eles estão irritados porque estamos roubando o roubo deles”. A frase foi interpretada por adversários como uma confissão velada de corrupção. O presidente da Coalizão Cívica, Maximiliano Ferraro, disse que “o subconsciente o traiu”, e a deputada Margarita Stolbizer afirmou: “Mais claro impossível”. Milei não comentou as críticas, nem mencionou as investigações em seu discurso, no qual chegou a pedir aplausos para Karina. Qual o impacto político do caso? O escândalo ocorre a dois meses das eleições legislativas de 26 de outubro, em que Milei tentará consolidar apoio no Congresso. Além disso, coincide com uma derrota recente do presidente, que teve um veto derrubado pelo Parlamento em um projeto que aumenta recursos para pessoas com deficiência — área justamente ligada à Andis. A crise coloca em xeque o discurso anticorrupção do governo e abre espaço para ataques da oposição, que promete convocar autoridades ao Congresso para dar explicações. Reforça também debates sobre a influência do clã Menem, histórico na política argentina. (Com La Nación)