O governo de Donald Trump está analisando opções para exercer maior influência sobre os 12 bancos regionais que compõem o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o que potencialmente ampliaria seu alcance além das nomeações de diretores em Washington, segundo pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela agência Bloomberg. Sai ou não sai: Trump diz estar preparado para uma batalha judicial com a diretora do Fed Lisa Cook Trump x Cook: Fed diz que diretora só pode ser demitida por 'justa causa' e que 'cumprirá qualquer decisão judicial' A decisão do presidente Donald Trump, anunciada na segunda-feira, de destituir a diretora do Fed Lisa Cook — caso se sustente judicialmente — daria a ele a oportunidade de garantir a maioria no Conselho de Governadores, que é composto por sete membros. No entanto, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, equivalente ao Copom no Brasil), responsável por definir as taxas de juros, também inclui cinco dos 12 presidentes de bancos regionais do Fed, em esquema de rodízio. Ao contrário dos governadores do Fed em Washington, os presidentes regionais não são indicados pela Casa Branca nem confirmados pelo Senado. Veja perguntas e respostas: Trump pode demitir a diretora do Fed? O que está em jogo? Um exame por parte do governo sobre o processo de seleção e recondução dos presidentes dos bancos regionais — cuja responsabilidade é compartilhada entre os conselhos diretores do setor privado desses bancos e o Conselho de Governadores — representaria mais um passo extraordinário na campanha contínua de Trump para influenciar a política monetária, que tradicionalmente tem independência e proteção contra pressões políticas. Presidente Donald Trump demite a governadora do Fed, Lisa Cook, que , por sua vez, disse que a demissão é ilegal e que vai recorrer à Justiça Montagem com fotos da Bloomberg O Conselho de Governadores está programado para renovar os mandatos dos atuais presidentes dos bancos regionais em fevereiro, em um exercício que ocorre a cada cinco anos. Esse evento ganhou importância após o anúncio da destituição de Cook, feito por Trump, o qual veio após alegações do governo de que ela teria cometido fraude hipotecária. Disputa no banco central dos EUA: Quem é Bill Pulte, que iniciou investigação sobre a diretora Lisa Cook? Cook pretende contestar a decisão, segundo seu advogado afirmou na terça-feira. Preocupação crescente Vários presidentes regionais do Fed começaram a ficar preocupados no início do verão (nos EUA) com o que os planos de Trump para o banco central poderiam significar para seus cargos, segundo fontes próximas ao assunto. O anúncio de segunda-feira à noite agravou essas preocupações, com presidentes ligando uns para os outros para discutir o que a demissão de Cook poderia representar para eles, segundo uma dessas pessoas. Lisa Cook: Quem é a primeira diretora negra do Fed que enfrenta acusações de Trump sem provas Um porta-voz do Fed se recusou a comentar. A Casa Branca também não respondeu a um pedido de comentário. ‘Inspeção exaustiva’ "A Casa Branca está fazendo uma inspeção exaustiva para ver onde estão as alavancas para mudar o Fed", disse Derek Tang, economista da LHMeyer/Monetary Policy Analytics. Desde que voltou à Casa Branca, Trump tem feito exigências constantes ao Fed por taxas de juros mais baixas. O bc, sob a liderança de Jerome Powell, até agora ignorou essas pressões, mantendo a taxa básica estável Getty Image via Bloomberg Uma dessas alavancas poderia ser o voto para reconduzir os presidentes dos bancos regionais. Assim que o governo garantir a maioria no Conselho de Governadores, poderia pressionar indiretamente autoridades do Fed percebidas como mais “hawkish” (favoráveis a juros mais altos), usando o voto de recondução como uma nova ferramenta à sua disposição, segundo Tang. “No passado, meio que presumíamos que esse processo acontecia normalmente”, disse ele sobre as reconduções. Howard Lutnick: Recusa de Lisa Cook em aceitar a demissão do Fed reforça a suspeita de fraude, diz secretário de Trump Uma pessoa familiarizada com o assunto disse que o objetivo do governo não é tornar o banco central mais “dovish” (favorável a juros mais baixos), mas examinar com mais rigor como os presidentes regionais são avaliados e escolhidos, já que eles não passam por confirmação do Senado. Os cinco presidentes que compõem o FOMC são o chefe do Fed de Nova York e quatro dos outros 11 presidentes de bancos regionais, que servem em esquema rotativo anual. A ex-vice-presidente do Fed Lael Brainard alertou que qualquer esforço político para reformular o FOMC demitindo vários presidentes de bancos regionais correria o risco de provocar inflação e aumento das taxas de juros de longo prazo. ‘Ataque sem precedentes’ Tentar "alterar a maioria de votos no FOMC — isso é um ataque sem precedentes à independência do Federal Reserve", disse Brainard, indicada ao conselho do Fed pelo presidente Barack Obama, à Bloomberg Television na terça-feira. Nova ameaça: Trump quer retaliar países que impõem taxas sobre gigantes da tecnologia americana Desde que voltou à Casa Branca, Trump tem feito exigências constantes ao Fed por taxas de juros mais baixas. O banco central, sob a liderança de Jerome Powell, até agora ignorou essas pressões, mantendo a taxa básica estável em meio a preocupações de que as tarifas impostas por Trump poderiam elevar a inflação. O mandato de Powell como presidente termina em maio, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, está conduzindo entrevistas para escolher seu substituto. Os candidatos que não forem escolhidos para o cargo podem ser considerados para os cargos de presidente de bancos regionais do Fed, segundo uma fonte próxima aos esforços da administração. Como os candidatos aprovados pela Casa Branca conseguiriam, de fato, assumir essas posições ainda não está claro. Os conselhos dos bancos regionais do Fed, responsáveis pela escolha dos presidentes, são compostos por três classes de diretores, das quais duas participam do processo. Bill Pulte, chefe da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA, em sua sabatina no Senado americano. Ele iniciou investigação sobre Lisa Cook Al Drago/Bloomberg Entre essas duas classes, três diretores da chamada Classe B são eleitos por bancos-membros no distrito do banco regional, enquanto três diretores da “Classe C” são nomeados pelo Conselho de Governadores do Fed em Washington. Embora alguns bancos regionais do Fed tenham tentado, nos últimos anos, reduzir as críticas sobre o processo de escolha dos presidentes — promovendo eventos abertos ao público, como assembleias comunitárias —, as buscas por candidatos historicamente ocorrem de forma bastante reservada. Os governadores do Fed recebem US$ 225.700 por ano, como executivos de nível II do governo federal, segundo o Escritório de Gestão de Pessoal. Já os presidentes dos bancos regionais podem ganhar até US$ 551.000, de acordo com o relatório anual de 2023 do Fed. Membros da equipe econômica de Trump e conselheiros externos argumentam que o Fed falhou na supervisão da economia dos EUA antes da crise financeira de 2008, mas que o resultado foi apenas mais autoridade para o banco central. Eles também o culpam por responder tarde ao surto inflacionário de 2021–22 e pelas falências do Silicon Valley Bank e de outras instituições financeiras em 2023. Initial plugin text