Cavalo-marinho-pigmeu: conheça o minúsculo peixe que engana predadores e desafia a ciência com suas bizarras adaptações

O cavalo-marinho-pigmeu é um peixe de 2,5 cm de comprimento que vive entre corais no Pacífico. Os corais, em forma de leque e nodosos, são venenosos, mas o pequeno cavalo-marinho consegue enrolar a cauda em um galho com segurança para se alimentar de pequenos animais que passam por perto. Do vinil aos tabuleiros: estudo explica por que a Geração Z está ressuscitando a década de 1990 Leitura por prazer despenca nos EUA: estudo aponta queda de 40% em duas décadas Algumas espécies são rosadas, outras amarelas, cada uma combinando perfeitamente com a espécie de coral em que habita. O cavalo-marinho também possui protuberâncias no corpo que reproduzem o tamanho e o espaçamento dos corais. Diferentemente do focinho típico da espécie, o cavalo-marinho-pigmeu apresenta um focinho de pug, que se assemelha a mais uma protuberância de coral. Por mimetizar tão bem os corais, consegue se esconder de predadores. Além disso, como é imune ao veneno das estruturas onde vive — cada pedaço de coral abriga pólipos que matam presas disparando arpões venenosos —, o animal ganha uma espécie de escudo protetor. Uma biologia fora do comum Os cavalos-marinhos-pigmeus também invertem os papéis sexuais tradicionais. Após o acasalamento, a fêmea deposita os ovos fertilizados no corpo do macho, que carrega os embriões. Enquanto um cavalo-marinho macho típico possui uma bolsa na cauda, nos pigmeus a bolsa incubadora se assemelha a um útero, crescendo dentro da cavidade corporal, próximo aos rins e intestinos. O macho nutre os filhotes com um órgão especial, semelhante a uma placenta, e, quando eclodem, eles saem por uma pequena fenda e nadam para longe. Para compreender como evoluíram, cientistas chineses e alemães sequenciaram o genoma do cavalo-marinho-pigmeu pela primeira vez. “Eles são simplesmente muito estranhos e interessantes, e precisam de explicação”, disse Axel Meyer, biólogo evolucionista da Universidade de Konstanz, na Alemanha, autor do estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Meyer e colegas compararam o DNA de cavalos-marinhos-pigmeus com outras espécies, estimando que se separaram dos cavalos-marinhos comuns há cerca de 18 milhões de anos. Algumas mutações alteraram letras genéticas únicas, provocando mudanças sutis em proteínas, incluindo as do sistema nervoso. Segundo os pesquisadores, isso pode explicar a imunidade ao veneno dos corais. Além disso, genes antigos podem ter aprendido novas funções, permitindo a formação dos nódulos exclusivos do cavalo-marinho-pigmeu, ativando genes normalmente restritos a órgãos como cérebro, olhos e rins. Outro aspecto surpreendente foi a perda de DNA: 438 genes inteiros desapareceram, 635 perderam função e 5.135 tiveram seus interruptores genéticos desativados. Essas perdas moldaram características únicas, como o focinho arredondado, e podem ter contribuído para a forma radical de gravidez masculina, evitando que o sistema imunológico atacasse os embriões. Apesar de muitas perdas no sistema imunológico, os cavalos-marinhos-pigmeus não parecem mais vulneráveis a doenças, possivelmente graças às moléculas protetoras dos corais. Cristian Cañestro, geneticista da Universidade de Barcelona, destacou que “as perdas genéticas são comuns na evolução, mas os cavalos-marinhos-pigmeus mostram que elas podem gerar inovações adaptativas”. No entanto, essa especialização criou vulnerabilidades. Dependentes dos corais, estão ameaçados pelas mudanças climáticas. Uma espécie foi classificada como criticamente em perigo. “A pesquisa revela uma ironia cruel”, observa Richard Smith, biólogo marinho independente. “As características que garantiram sucesso evolutivo agora se tornaram sua maior fragilidade.”