Noivado de Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez desafiam costumes na Arábia Saudita; entenda

O casal formado por Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez, que acaba de anunciar seu noivado, ilustra uma abertura em duas velocidades na Arábia Saudita, onde a convivência fora do casamento é tolerada para estrangeiros, mas ainda é impensável para os locais. Embora a lei deste reino conservador, que abriga os lugares mais sagrados do islã, proíba formalmente relações extraconjugais, sua aplicação tem sido flexibilizada nos últimos anos, segundo especialistas. Cristiano Ronaldo: jogador é ovacionado por torcida em Hong Kong, onde Messi foi vaiado Leia também: relembre a trajetória de amor de Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez, noivos após nove anos Atualmente, casais estrangeiros podem viver juntos ou compartilhar quartos de hotel sem serem casados, e jovens sauditas das grandes cidades podem se encontrar livremente em locais públicos mistos, depois de décadas de estrita separação entre os sexos nesses mesmos espaços. A chegada, em janeiro de 2023, da estrela portuguesa e de sua namorada hispano-argentina — mãe de dois dos filhos do jogador — à Arábia Saudita gerou críticas de alguns internautas, que desaprovaram o fato de o casal não estar casado. O anúncio do noivado, no início de agosto, com a publicação de uma foto do anel avaliado em vários milhões de dólares, reacendeu o debate sobre a vida do casal em concubinato. Apesar das críticas, o casal continuou a exibir seu estilo de vida ostentoso e glamoroso no Instagram, onde o pentacampeão do Bola de Ouro é a personalidade mais seguida do mundo, com 662 milhões de seguidores, e na Netflix, onde Georgina é protagonista da docussérie "Soy Georgina". 'Mais flexibilidade e pragmatismo' "Como pôde a terra das duas mesquitas sagradas aceitar essa impureza por dois anos?", questionou Raad Mohammed no X. Comentários críticos como esse, no entanto, foram rapidamente abafados por uma avalanche de felicitações, enquanto a mídia saudita finge não ver. Os tempos mudaram em um reino onde 70% dos sauditas têm menos de 35 anos, uma evolução que, segundo Sebastian Sons, do think tank alemão CARPO, "se insere dentro de um quadro mais amplo de transformação social na Arábia Saudita". "Embora a regras conservadoras permaneçam, hoje elas são menos dominantes e aplicadas com mais flexibilidade e pragmatismo", acrescenta o especialista à AFP. A rica monarquia do Golfo decidiu, em 2016, reduzir drasticamente o poder de sua temida polícia religiosa, que até então aplicava rigorosamente a lei islâmica. E embora o concubinato continue sendo tabu, foram abolidas as leis que obrigavam a separação de sexos em locais públicos. Desde 2019, numerosos jovens sauditas das grandes cidades podem aparecer em público em pares, em cafés e restaurantes, onde antes havia entrada separada para homens e para famílias. Sob a liderança do príncipe herdeiro e dirigente de fato do reino, Mohamed bin Salmán, o ambicioso plano de reformas Visão 2030 pretende abrir o país e diversificar a economia, ainda fortemente dependente do petróleo. Nesse contexto, já é permitida a presença de turistas não muçulmanos e, desde 2018, mulheres podem legalmente dirigir. 'Embaixador ideal' Junto às estações balneárias luxuosas, foram criados bairros dedicados ao entretenimento, enquanto os petrodólares atraem estrelas internacionais e grandes eventos esportivos para o país. E Cristiano Ronaldo é o coração dessa estratégia. Desde sua chegada, no início de 2023, diversos jogadores de maior ou menor renome se juntaram à Saudi Pro League, e a Arábia Saudita conseguiu garantir a organização da Copa do Mundo de 2034. "Cristiano Ronaldo adquiriu um papel preponderante no futebol saudita, sendo visto tanto como modelo quanto como um embaixador ideal do ambicioso projeto governamental de colocar a Arábia Saudita no mapa mundial do futebol", afirma Sons. Nesse contexto, não é estranho que a convivência do casal seja tolerada, nem que os excessos de Cristiano Ronaldo com a camisa do Al Nassr sejam perdoados. Em fevereiro de 2024, o atacante foi suspenso por um jogo por ter se tocado diante do público, que cantava o nome de seu grande rival, o argentino Lionel Messi. Pequenos deslizes que, ainda assim, não impediram a estrela portuguesa de renovar seu contrato com o Al Nassr até 2027.