Sol mortal: estudo mostra que calor extremo acelera envelhecimento

Viver em meio a ondas de calor extremas pode acelerar o envelhecimento, aponta pesquisa publicada nesta segunda-feira (25). Cientistas analisaram 15 anos de dados de saúde de quase 25 mil adultos em Taiwan e descobriram que dois anos de exposição a ondas de calor podem acelerar o chamado envelhecimento biológico em oito a 12 dias extras. Termômetro do planeta: novo estudo revela mudanças abruptas e irreversíveis na Antártida Homem de Tollund: enforcado há mais de 2 mil anos, múmia revela como a Idade do Ferro se conectava ao mundo espiritual Pode parecer pouco, mas o efeito se acumula ao longo do tempo, afirma Cui Guo, professora assistente da Universidade de Hong Kong e líder do estudo, publicado no periódico Nature Climate Change. "Esse pequeno número realmente importa", disse ela. "Este estudo analisou apenas dois anos de exposição, mas sabemos que as ondas de calor já ocorrem há décadas." O calor extremo e suas consequências A pesquisa surge em um momento em que as mudanças climáticas impulsionadas pelo homem tornam as ondas de calor mais intensas e duradouras. A costa oeste dos Estados Unidos sofre com temperaturas sufocantes, enquanto o Irã enfrenta calor escaldante. Recordes recentes também foram registrados na Europa, Japão e Coreia. Na França, a segunda onda de calor do verão provocou debate sobre o uso do ar-condicionado. Em 2024, o ano mais quente já registrado, a mudança climática foi responsável por 41 dias extras de calor extremo no mundo, segundo análise da World Weather Attribution. O estudo identificou grupos mais vulneráveis a um envelhecimento acelerado devido ao calor. Idosos que já enfrentaram muitas ondas de calor podem envelhecer mais rápido do que jovens expostos às mesmas condições, explicou o Dr. Guo. Fatores como viver sem ar-condicionado ou trabalhar ao ar livre podem aumentar significativamente a taxa de envelhecimento. Ele alerta que isso não significa perder dias de vida literalmente; trata-se de mudanças mensuráveis nos marcadores biológicos do envelhecimento, e não no calendário. Medindo o impacto do calor O estudo definiu ondas de calor como períodos de pelo menos dois dias consecutivos de temperaturas anormalmente altas ou momentos em que autoridades emitiam alertas de calor, considerando também a soma da exposição de cada pessoa. Os pesquisadores compararam a idade biológica — que mede a saúde de pulmões, fígado e células — com a idade cronológica dos participantes. Para isso, usaram 12 biomarcadores de saúde, levando em conta fatores individuais que afetam o envelhecimento, como exercícios, tabagismo e doenças preexistentes. "A maioria dos países enfrenta o envelhecimento populacional", disse o Dr. Guo. "Como o envelhecimento biológico está ligado a mortes e muitas doenças, acelerá-lo pode indicar sérios problemas de saúde." Taiwan, Itália, Espanha e Hong Kong estão entre as populações mais envelhecidas do mundo. Nos Estados Unidos, espera-se que quase um quarto da população tenha 65 anos ou mais até 2050. Pesquisas anteriores reforçam os achados. Um estudo com 3.600 idosos nos EUA revelou que viver a 32°C por ao menos 140 dias ao ano pode causar até 14 meses de envelhecimento adicional. Diferentemente do estudo taiwanês, a pesquisa americana não considerou fatores individuais como tabagismo. "Esses fatores têm grande impacto na saúde e precisam ser levados em conta para analisar corretamente os efeitos do calor", destacou Kristie Ebi, professora da Universidade de Washington, que não participou de nenhum dos estudos. Ao longo de 15 anos, populações podem se aclimatar a temperaturas mais altas, criando estratégias para lidar com o calor. Os autores do estudo de Taiwan sugerem que um aumento moderado no número de residências com ar-condicionado correlaciona-se à redução do envelhecimento causado pelo calor. "Os resultados podem orientar intervenções de saúde pública", disse a Dra. Ebi. Em Oregon, por exemplo, o financiamento do Medicaid permite a compra de ar-condicionado para pessoas com problemas de saúde agravados pelo calor. No entanto, ela alerta que aparelhos não são solução ideal, pois consomem energia e podem contribuir para o aquecimento global. O calor extremo ainda aumenta outros riscos à saúde, como a piora da qualidade do ar e o risco de incêndios florestais, secas e tempestades. "As pessoas muitas vezes não percebem que o calor mata ou tem consequências graves à saúde", disse a Dra. Ebi. "Esse tem sido um desafio persistente."