Tarcísio entra na mira da esquerda e de Eduardo Bolsonaro

Cortejado por caciques políticos para a disputa presidencial, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrou na mira da esquerda e do deputado Eduardo Bolsonaro (SP) no PL. Ontem, Tarcísio trocou afagos com o ex-presidente Michel Temer (MDB) na abertura de evento da Associação Paulista de Municípios e também acenou aos prefeitos. Após a solenidade, o governador jogou futebol na Arena Pacaembu com os participantes do encontro, que teve o secretário estadual de governo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, como árbitro da partida. Vídeo: Partida entre Tarcísio e prefeitos paulistas tem gol de pênalti, Kassab árbitro e presença de Temer no pré-jogo Risco de fuga: PF sugere a Moraes monitoramento 24 horas por dia dentro da casa de Bolsonaro As articulações na direita e na centro-direita para viabilizar Tarcísio como sucessor de Jair Bolsonaro tem irritado a família do ex-presidente. Após o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, declarar que se o governador disputar o Palácio do Planalto em 2026 vai migrar para o partido, Eduardo Bolsonaro reagiu. Aliado do deputado nos Estados Unidos, Paulo Figueiredo relatou à coluna de Bela Megale, do GLOBO, que o filho do ex-presidente “tem 90% de chance de sair do PL”. — Essa chance aumenta se Tarcísio for para o PL. Caso isso ocorra, Eduardo deixará o partido e irá para outra legenda para ser candidato à Presidência— disse Figueiredo. Além de Valdemar, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), citou publicamente na terça-feira, pela primeira vez, a possibilidade de Tarcísio ser candidato à Presidência. — Vamos ampliar nossas bancadas de deputados estaduais, federais, senadores, reeleger e eleger governadores. E quem sabe? Se a conjuntura dos acontecimentos permitir, teremos um candidato a presidente da República. Não é, Tarcísio? —afirmou ao discursar em um evento de aniversário do partido. Kassab apita jogo com Tarcísio e prefeitos no Pacaembu, em SP Samuel Lima / O GLOBO Embate com Boulos Em outra frente, o governador entrou em um embate de vídeos nas redes sociais com a esquerda. O cerne da discussão é o escândalo bilionário revelado pela Operação Ícaro, que apura supostas fraudes envolvendo empresas e servidores da Fazenda paulista suspeitos de manipular processos de ressarcimento de ICMS retido por Substituição Tributária em benefício próprio ou de terceiros. O Diretório Nacional do PT postou um vídeo, no sábado, associando o suposto esquema de corrupção envolvendo a Ultrafarma e um fiscal da Secretaria da Fazenda de São Paulo ao governador. Antonio Donato, líder do PT na Assembleia Legislativa (Alesp), já havia feito um vídeo denunciando a “corrupção bilionária no governo Tarcísio”. Ontem, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) foi na mesma linha, também em vídeo: —Estamos diante de um dos maiores escândalos de corrupção da história de São Paulo. Até agora, Tarcísio de Freitas não falou nada sobre o assunto. Por que ele não quer se posicionar? Cerca de uma hora depois, o governador respondeu com sua própria peça: — Em São Paulo, não haverá espaço para impunidade. No vídeo, Tarcísio anunciou o afastamento de seis auditores fiscais suspeitos de envolvimento no caso e destacou a abertura de sete processos administrativos disciplinares. O governador informou ainda que o estado já instaurou 20 investigações preliminares para apurar a evolução patrimonial de servidores e que empresas ligadas ao esquema também serão investigadas. Ele prometeu auditoria para calcular os prejuízos e recuperar os recursos. Elogios de Temer Ontem, na abertura do evento com prefeitos, Tarcísio trocou afagos com Temer. Foi o segundo dia seguido que o governador fez elogios ao emedebista — na véspera, durante palestra a empresários, defendeu as medidas executadas pelo emedebista após o impeachment de Dilma Rousseff, como a reforma trabalhista. Temer costuma ser lembrado entre os bolsonaristas como o presidente que indicou o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal da trama golpista, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem mesmo Eduardo Bolsonaro disse nas redes sociais que “o governo americano está sancionando o tirano transloucado que você indicou para a mais alta Corte do país”. Temer afirmou ontem que tanto Tarcísio quanto o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) são “exemplos” a serem seguidos para “pacificar e tranquilizar o país”. O governador devolveu a cortesia sugerindo que Temer, com quem trabalhou no governo federal no programa de parcerias com o setor privado, é um injustiçado da política brasileira. Kassab cumpriu a função de mestre de cerimônias e pediu duas vezes, uma na entrada e outra antes do discurso, que a plateia ficasse em pé para aplaudir o governador. Disse ainda que ele goza de muito prestígio no interior, apesar de ter sido recebido com menos entusiasmo no evento do que o ex-governador Rodrigo Garcia, que o antecedeu no cargo. Em seu discurso, Tarcísio prometeu liberar recursos para estâncias turísticas e estender o programa “Tabela SUS Paulista” para hospitais municipais. Ele também anunciou que entregará cerca de 300 máquinas e equipamentos para auxiliar na manutenção das estradas rurais e 200 ambulâncias e vans para a saúde. No jogo, o governador marcou um gol de pênalti e teve Nunes como companheiro de ataque. Tarcísio jogou na ala direita, com Nunes de centroavante. Seu time venceu por 2 a 1.