Álcool, água oxigenada ou sabão: como você deve tratar um ferimento

Quem nunca se machucou andando de bicicleta, se cortando em um arame farpado, pisando em um prego no chão ou até mesmo se cortando com um caco de vidro? Mas como você cuida desse ferimento? Muitas pessoas passam álcool e até água oxigenada, mas especialistas ouvidos pelo GLOBO garantem que nenhum dos dois é recomendado para o tratamento dos machucados. Segundo a enfermeira especialista em dermatologia Lina Monetta, quando há o rompimento da pele em uma lesão ou machucado, independentemente do tamanho ou do tipo de lesão, o corpo sofre um processo de duas etapas. A primeira, que dura cerca de 24 horas após o machucado, é chamada fase de hemostasia ou inflamatória, ocorre quando diferentes células do nosso corpo começam a trabalhar para estancar o sangramento e defender o corpo das possíveis bactérias, vírus e sujeiras que possam entrar em nosso organismo pelo machucado. Logo depois, começa o processo de reparo ou cicatrização. Outras substâncias e células começam a trabalhar para reparar os vasos e aquela pele rasgada para produzir outra parede protetora. — O corpo sozinho vai tentar cicatrizar. Ele é todo preparado para este momento, é um processo fisiológico de reparação muito perfeito. Tem as substâncias que estancam o sangramento, outras defendem o nosso organismo e outras que reparam o ferimento, mas nem sempre ele dá conta sozinho e precisamos ajudá-lo com um cuidado simples: limpar e proteger a região afetada — explica Monetta. A limpeza pode ser feita de forma simples, com água e sabão — de preferência neutro e líquido —, fazendo uma espuma na mão que pode ser aplicada diretamente no machucado. Depois, é preciso enxaguar muito bem, ajudando a desprender pelinhos, fragmentos de terra ou qualquer corpo estranho que possam ter entrado ou grudado no ferimento. — Precisa fazer essa limpeza mecânica para diminuir toda e qualquer carga bacteriana e infecciosa que tiver. Depois, é preciso estancar o sangramento, pressionar uma gaze umedecida ou um pano limpo no local para que aqueles microvasos parem de sangrar. Depois da lavagem, é bom passar um antisséptico ou até mesmo um produto antimicrobiano — diz a infectologista Rosana Ritchmann, do Hospital e Maternidade Santa Joana. A infectologista ainda afirma que, logo depois da lavagem, dependendo de como foi o ferimento, se um corte com um prego ou metal enferrujado, bem como no asfalto, é interessante saber se a vítima está em dia com as vacinações de tétano. As especialistas são enfáticas ao dizer que as pessoas nunca devem usar água oxigenada ou álcool para tratar as feridas abertas, pois eles podem queimar a pele e danificar o tecido que está tentando se regenerar. Quando a água oxigenada e o álcool são usados em feridas, eles retardam a cicatrização, pois afetam as células vivas e responsáveis pela recuperação. O álcool, por exemplo, é ótimo para eliminar as bactérias em peles íntegras, ou seja, sem ferimentos. Porém, a especialista em dermatologia, Lina Monetta, afirma que a água oxigenada não é indicada nos processos de limpeza ou cicatrização do machucado, pois agride as células vivas. — Água oxigenada é tóxica para os tecidos vivos. Quando a colocamos em cima das feridas, ela provoca uma reação que causa irritação e inflamação nas células, o que retarda a cicatrização — afirma. Além deles, outro produto que não deve ser usado no processo de cicatrização é o sabão. Ele é efetivo apenas na lavagem e limpeza do machucado, mas pode se tornar tóxico no processo de cicatrização. — Depois desse primeiro momento, é necessária uma irrigação diária para manter o local hidratado. Então, colocar água ou soro fisiológico já basta — diz Ritchmann. Tapar e proteger o machucado Uma pesquisa encomendada pela Elastoplast, uma marca de curativos do Reino Unido, com 2.000 adultos, mostrou que quatro em cada dez pessoas disseram acreditar que “deixar uma ferida respirar” é a melhor maneira de cicatrizar, mas segundo as especialistas, isso é um mito. E que não proteger o ferimento pode deixá-lo exposto, aumentando o risco de infecção. As feridas se recuperam mais rapidamente em um ambiente úmido e limpo, o que também ajuda a reduzir a formação de cicatrizes. — Ferida não cicatriza pelo ar, o que faz a cicatrização e a reparação é a hemoglobina, célula do nosso sangue. A pele não tem que ficar aberta, ela precisa estar coberta e protegida. A ferida não respira e o ar só ajuda a desidratá-la — diz Monetta. As especialistas recomendam ainda gaze úmida — e não seca, para não soltar pelos no machucado — e esperar cicatrizar, além de um curativo adesivo. — Não é recomendado passar pomadas por conta própria, pois as pomadas cicatrizantes são recomendadas por médicos como forma de tratamento e cada uma é específica para um caso, então se automedicar com pomadas pode ser perigoso. Também não é recomendado tapar com papel higiênico, visto que ele não é antibactericida ou protetor solar — revelou a enfermeira. Porém, ela afirmou que todo o tratamento e limpeza vão depender das condições de cada acidente e ferimento. — É claro que, se você estiver em um lugar inóspito e precisa se limpar, vai usar a água de um rio ou do próprio mar. Se não tiver um curativo, pode usar o pano mais limpo que tiver para estancar um machucado e assim por diante. Entretanto, é importante as pessoas saberem o que pode e não deve ser usado — diz. Cicatrização As especialistas afirmam que o processo de cicatrização deve levar em torno de uma semana e que, se não resolver com a limpeza e com a proteção necessária, se ainda estiver com pus, sangrando, ou o processo não estiver cicatrizando, é necessário procurar um especialista para analisar o ferimento e receitar medicamentos, pomadas para um melhor tratamento. Outros casos em que é necessário o auxílio de um médico ou especialista são quando o ferimento for grande, exposto e serão necessários dar pontos para fechá-lo ou até mesmo quando há a presença de tecido necrosante no ferimento. Nestes casos, é preciso retirá-lo com a ajuda de um médico. — Para saber se a cicatrização está melhorando, pegue uma régua e meça. Ele precisa sempre estar diminuindo de tamanho, ou como chamamos, granulando de dentro para fora — diz a infectologista.