Modelos 3D e planejamento: como é cirurgia que tornou Ribeirão Preto referência em separação de siameses unidos pela cabeça

HC de Ribeirão Preto faz primeira cirurgia para separação de gêmeas siamesas O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) se tornou nos últimos anos uma referência em cirurgias de separação de gêmeos unidos pela cabeça. Desde 2018, a unidade foi reconhecida por concluir procedimentos bem sucedidos de pacientes de diferentes partes do país e acaba de iniciar o tratamento de um terceiro caso. Meses de estudos, tecnologias como modelos tridimensionais e realidade aumentada, uma equipe de múltiplas especialidades em trabalho conjunto e um planejamento para a realização dos trabalhos em etapas são alguns dos elementos que têm garantido uma mudança de perspectiva para famílias de crianças que nascem com esse problema. No fim de semana, cerca de 50 profissionais concluíram a primeira das cinco cirurgias previstas para separar Heloísa e Helena, de São José dos Campos (SP). De acordo com os médicos, eles conseguiram realizar 25% do que estava projetado, sem intercorrências. Siga o g1 Ribeirão Preto e Franca no Instagram As meninas estão bem, respirando normalmente e com bom nível de cicatrização, mas devem permanecer em observação nas próximas semanas, para a preparação das etapas seguintes. Equipe do HC de Ribeirão Preto realiza primeira etapa de separação de gêmeas siamesas de São José dos Campos (SP). Divulgação/ Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto A seguir, entenda como funciona a cirurgia de separação das gêmeas siamesas: Meses de estudos e modelo tridimensional Gêmeas siamesas: entenda como funciona cirurgia de separação de crânios Segundo o neurocirurgião Hélio Machado, esse tipo de cirurgia impõe uma série de dificuldades, a começar pelo fato de os pacientes serem crianças. Além disso, entender como funciona o cérebro de cada uma exige um aprofundamento nos estudos. "Nascem com o cérebro muito junto um do outro, de uma forma que não existe maneira de a gente estudar esse cérebro a não ser individualizando cada uma, porque cada uma é diferente da outra. É uma anatomia que não existe nos livros", afirma. É por esse motivo que, assim que a equipe assume o caso, as crianças são levadas aos cuidados dos médicos bem no início para serem avaliadas por pelo menos um ano antes do início da cirurgia. Nesse processo, exames como de tomografia e ressonância magnética ajudam os médicos a criar modelos tridimensionais dos cérebros das crianças, que impulsionam o entendimento das condições dos pacientes. No vídeo acima, é possível ver um modelo 3D feito em plástico que representa o tamanho real das cabeças das gêmeas Helena e Heloísa. "Usamos essas imagens para fazer modelos de plástico, modelos de acrílico, silicone, de cerâmica, e mais recentemente com realidade virtual. Você pega os modelos e pode estudar detalhe por detalhe. É a maneira que a gente usa pra entender o cérebro e a dificuldade técnica que vamos ter." Hospital das Clínicas (HC-UE) de Ribeirão Preto, SP Ronaldo Gomes Quantas e quais são as etapas da separação O procedimento consolidado pelos médicos da USP nos últimos anos é composto por pelo menos cinco etapas, todas elas espaçadas por meses. Nas quatro primeiras cirurgias, os especialistas têm como foco a separação dos tecidos, vasos sanguíneos e todas as estruturas que unem os crânios e os cérebros. Na quarta etapa, além disso, os médicos também aproveitam para inserir enxertos ósseos e expansores de pele, como uma preparação para a etapa final, de cirurgia plástica, com o fechamento dos tecidos que revestem as cabeças. Segundo Helio Machado, uma das maiores dificuldades dos médicos consiste em fazer a separação e a drenagem dos vasos, sem prejudicar a capacidade de o cérebro receber sangue e sem desfavorecer nenhuma das crianças. "Se a gente deixar um pouco mais para outra criança, a outra sofre, então estudamos uma forma de deixar metade para cada uma." E logo na primeira cirurgia, de acordo com o neurocirurgião, já ocorre a definição de quem deve ficar com determinadas veias. Realidade aumentada ajuda médicos do HC de Ribeirão Preto em cirurgia de separação de gêmeas siamesas. Divulgação/ HC de Ribeirão Preto O planejamento das cirurgias, que são realizadas ao longo de um ano, além de garantir uma maior preparação das equipes, também ajuda na recuperação das crianças. "Prevê cirurgias estagiadas, quatro etapas neurológicas, pra fazer devagar, para que o cérebro da criança se acomode. Felizmente, nos outros dois casos e neste, a resposta tem sido muito boa e isso anima muito a gente." Que especialidades médicas estão envolvidas As cirurgias no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto envolvem uma equipe de aproximadamente 50 pessoas, entre elas profissionais ligados à neurocirurgia, cirurgia plástica, pediatria e anestesistas, bem como a outras áreas de suporte anterior ou posterior aos procedimentos como enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Modelo tridimensional de gêmeas siamesas em tratamento no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). Reprodução/EPTV Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região