Dinamarca descobre 'operações secretas de influência' na Groenlândia, alvo de Trump, e convoca representante dos EUA

Moradores da Groenlândia fazem protesto contra os EUA, em 15 de março de 2025 Christian Klindt Soelbeck/Ritzau Scanpix/via REUTERS A Dinamarca convocou nesta quarta-feira (27) o principal diplomata dos Estados Unidos em Copenhague após relatórios da inteligência dinamarquesa revelarem que cidadãos norte-americanos têm conduzido operações secretas de influência na Groenlândia, informou o Ministério das Relações Exteriores dinamarquês. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A emissora pública "DR" citou fontes não identificadas dizendo que o governo acreditava que pelo menos três cidadãos dos EUA, com ligações com o governo do presidente Donald Trump, estavam envolvidos em operações de influência voltadas a promover uma separação entre a Groenlândia e a Dinamarca, para benefício dos EUA. “Estamos cientes de que atores estrangeiros continuam demonstrando interesse pela Groenlândia e pela sua posição dentro do Reino da Dinamarca. Portanto, não surpreende que possamos enfrentar tentativas externas de influenciar o futuro do Reino nos próximos tempos”, disse o chanceler Lars Lokke Rasmussen em comunicado. A convocação de um embaixador ou representante é uma espécie de repreensão de um país a outro na linguagem diplomática internacional. Nem a emissora nem o ministério divulgaram os nomes dos indivíduos citados nos relatórios de inteligência. O governo dos EUA não se manifestou oficialmente sobre a convocação até a última atualização desta reportagem —nem a embaixada dos EUA em Copenhague. Trump já afirmou que deseja que os Estados Unidos assumam o controle da Groenlândia, um território semiautônomo dinamarquês rico em minerais e estrategicamente localizado no Ártico, por motivos de segurança nacional e internacional, e não descartou o uso da força para isso. Sua proposta foi rejeitada categoricamente tanto em Copenhague quanto em Nuuk, a capital da Groenlândia. Embora Trump tenha, posteriormente, demonstrado respeito pelo direito da Groenlândia de decidir seu próprio futuro, seus comentários sobre uma possível tomada do território pela força alimentaram a incerteza entre seus 57 mil habitantes. Contra-atacando as ambições dos EUA O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, e o presidente dos EUA, Donald Trump, em 25 de junho de 2025 BRENDAN SMIALOWSKI/Pool via REUTERS Paralelamente, a Dinamarca tem buscado fortalecer suas relações com a Groenlândia — uma antiga colônia, hoje território autônomo dentro do Reino da Dinamarca — e tem mobilizado aliados europeus para contrabalançar as ambições norte-americanas na região. Como demonstração de solidariedade, o presidente francês Emmanuel Macron visitou a Groenlândia em junho e foi recebido por centenas de moradores. Isso contrastou com a recepção ao vice-presidente dos EUA, JD Vance, em março, quando protestos o obrigaram a visitar uma base aérea norte-americana remota e cancelar planos de levar sua esposa a uma corrida de trenós puxados por cães. O Serviço de Inteligência e Segurança Nacional da Dinamarca (PET) afirmou, em comunicado, que considera “que a Groenlândia, especialmente no cenário atual, é alvo de campanhas de influência de diversos tipos”. “Isso pode ocorrer explorando desentendimentos existentes ou fabricados, por exemplo, em torno de questões específicas conhecidas, ou promovendo ou reforçando determinadas opiniões na Groenlândia sobre o Reino da Dinamarca, os Estados Unidos ou outros países com interesse especial na ilha”, declarou o PET. Trump nomeou o cofundador do PayPal, Ken Howery, como novo embaixador dos EUA na Dinamarca, mas a missão diplomática norte-americana em Copenhague está atualmente sob comando do encarregado de negócios Mark Stroh, segundo o site da embaixada.