Vasco x Botafogo: clássico pela Copa do Brasil reúne SAFs com bastidores quentes e futuros em aberto

Basta chegar aos 34,6°C para o éter atingir o ponto de ebulição, em que a substância passa do estado líquido para o gasoso. Para levar a água a esse ponto, é preciso muito mais calor: 100°C. Essa diferença de temperaturas e condições, lição básica das salas de aula de química, sintetiza os bastidores das SAFs de Vasco e Botafogo, que se enfrentam no primeiro Clássico da Amizade das quartas de final da Copa do Brasil, hoje, às 21h30, em São Januário. No cruz-maltino, o futebol vem entrando em ebulição desde o primeiro ano de SAF. No alvinegro, por outro lado, o extracampo só foi esquentar este ano, com as disputas entre John Textor e a Eagle Football Holding. Diogo Dantas: Vasco volta a carga sobre zagueiro colombiano após russos recuarem, mas negocia forma de pagamento Ele fica: Savarino recusa propostas e permanecerá no Botafogo A linha do tempo do Vasco tem um primeiro ano, em 2023, de luta contra o rebaixamento até a última rodada sob comando da 777 Partners; um segundo ano com a ruptura entre os americanos e o clube associativo, que levou o presidente Pedrinho ao comando do futebol, com certa estabilidade e bom desempenho em campo; e um terceiro ano, ainda com Pedrinho, em que os resultados não aparecem, o Z4 se aproxima e a relação com a torcida ferve. Já no caso do Botafogo, sob comando de John Textor desde a temporada 2022 (um ano antes da constituição da SAF vascaína), o clube teve um primeiro ano de estabelecimento; o segundo, de investimentos maiores, sonho de título e frustração pela queda brusca que resultou na perda do Brasileiro; e o terceiro, de investimentos milionários e consagração com as conquistas do Brasileirão e da inédita Libertadores. O inédito campeonato do Botafogo pela Copa Libertadores Luis ROBAYO / AFP/ 30-11-2024 Em 2025, o cenário mudou. O alvinegro segue com Textor por decisão judicial, mas à sombra das disputas com a Eagle, empresa da qual é acionista majoritário, mas na qual perdeu poder político e decisório. Após a crise e o afastamento no Lyon, a diretoria da holding tenta retirá-lo também do Botafogo — que ele, por outro lado, tenta recomprar por meio de outra empresa — e coloca um ponto de interrogação sobre a capacidade financeira alvinegra daqui por diante. Não apenas nos gastos, mas nos retornos. Havia, por exemplo, dúvidas sobre para qual caixa — Botafogo ou Lyon, antes juntos — iriam os recursos de uma possível venda de Savarino, antes de o venezuelano, que tem direitos econômicos atrelados ao clube francês, recusar propostas. No Vasco, a situação é menos complexa em termos de estrutura, mas não nas finanças. Com a 777 (hoje, A-CAP) afastada judicialmente desde maio de 2024, o clube associativo e os americanos estão envolvidos em um já longo processo de arbitragem — comum no conflito entre sócios — por 39% das ações do futebol (30% são da associação e 31% da A-CAP). Enquanto isso, a gestão de Pedrinho, com controle total do futebol e de seu cofre, tenta contornar a delicada situação financeira que se arrasta há décadas no Vasco. Nos últimos meses, a administração iniciou um processo de recuperação judicial, ao mesmo tempo em que garante estar aberta à revenda da SAF. Philippe Coutinho em ação pelo Vasco, na goleada por 6 a 0 sobre o Santos Matheus Lima/Vasco No Botafogo, por enquanto, o associativo, presidido por João Paulo Magalhães, é aliado de Textor e tem se manifestado apenas judicialmente. Há cerca de duas semanas, afirmou que tem sido sondado por “robustos e conhecidos investidores” para uma possível nova venda do futebol, no que soou como mais uma jogada no tabuleiro de xadrez. Um movimento mais incisivo, como o do Vasco, no momento parece improvável. Nome em comum Na esfera da Justiça, um sobrenome une os rivais. No time de defesa de Textor está o escritório Salomão Advogados, do vice-presidente geral do Vasco, Paulo Salomão, nome forte do cruz-maltino nas disputas com a 777. As crises não têm impedido os clubes de irem ao mercado. O Botafogo segue enfileirando reforços. Os dois últimos foram Chris Ramos e Gabriel Bahia. Apesar de eliminado da Libertadores, o alvinegro está em situação confortável, entre os cinco primeiros no Brasileirão. No Vasco, a proximidade da zona de rebaixamento tem feito o clube explorar o mercado. Apostando em empréstimos (alguns com opções de compra), tem driblado o caixa apertado para reforçar o elenco. Até aqui, quatro reforços foram anunciados nesta janela: Thiago Mendes, Matheus França, Andrés Gómez e Robert Renan. Além do título, que pode dar força às gestões, a Copa do Brasil é a oportunidade de reforçar os caixas: são R$ 9,9 milhões pela semifinal e pelo menos R$ 33 milhões por uma vaga na decisão. Valor que chega a R$ 77,1 milhões em caso de título.