Maior primata das Américas e ameaçado de extinção, muriqui-do-sul é registrado pela primeira vez na Costa Verde Fluminense

No alto de árvores do Parque Estadual Cunhambebe (PEC), na Costa Verde Fluminense, os movimentos rápidos, de galho em galho, foram flagrados por um drone equipado com câmera termográfica. Aliada ao conhecimento da equipe da unidade de conservação, a ação resultou na obtenção, pela primeira vez na região, do registro de muriquis-do-sul (Brachyteles arachnoides), espécie de primata considerada a maior das Américas, e ameaçada de extinção no Brasil. Falso advogado: Tribunal de Justiça do Rio alerta para golpe Quem é Rogéria Bolsonaro: ex-mulher de Jair Bolsonaro, feita refém em assalto à casa da família em Resende Muriquis-do-sul são registrados pela primeira vez na Costa Verde Fluminense (RJ) As imagens aéreas foram feitas pelo projeto de monitoramento da fauna no PEC, administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que conta com parceria da Vale. O registro inédito aconteceu em áreas do parque — que abrange partes de Mangaratiba, Angra dos Reis, Rio Claro e Itaguaí — de difícil acesso. Foram identificados 36 indivíduos, divididos em dois grupos, segundo os pesquisadores. A espécie recebeu classificação “ameaçada criticamente de extinção” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), em 2021, e “em perigo” pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2022. Os muriquis-do-sul têm como habitat natural o Cerrado e a Mata Atlântica nos estados de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Para o coordenador do Projeto Muriqui Bocaina, Felipe Brandão, ainda é cedo para afirmar que a localização dos dois grupos indica a recuperação da espécie no parque, e será necessário monitorá-los nos próximos anos. Mesmo assim, há motivo para comemorar: — Nossas imagens são, sem dúvida, as primeiras dos muriquis no interior do parque — conta. Muriqui-do-sul no Parque Cunhambebe, na Costa Verde Fluminense Inea /Divulgação O secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destaca o trabalho de proteção da biodiversidade nas 40 unidades de conservação estaduais do Rio. Para o Parque Cunhambebe, uma parceria público-privada com a Vale prevê investimento total de R$ 17 milhões, a serem aplicados ao longo de cinco anos, em acordo firmado em dezembro de 2020. Entre as ações está o desenvolvimento de programas de educação ambiental. — Temos um grupo de trabalho que contempla profissionais muito conceituados e comprometidos com a causa do meio ambiente, do Inea, da Vale e de entidades externas, como do Projeto Muriqui Bocaina, que nos acompanha desde o início. A ideia é continuar monitorando e dando a assistência necessária para que a espécie seja preservada e se multiplique no Parque Cunhambebe — afirma Rossi. Caçadores são ameaça O muriqui-do-sul tem comportamento silencioso e habita as partes mais altas da floresta, geralmente entre 600 metros e 1.800 metros de altitude. A dieta rica em frutas e folhas o torna um “engenheiro da floresta”, uma vez que dispersa sementes de espécies arbóreas em seu habitat. — Nossa ideia é realizar o monitoramento demográfico ao longo dos próximos anos utilizando drones com câmera termográfica, capazes de localizar e quantificar os grupos de muriqui-do-sul pelo seu calor corporal no alto das árvores — explica Brandão. A principal ameaça a eles na região são os caçadores. No início do ano, também foi registrada no parque uma família de antas, o maior mamífero terrestre do continente. A espécie, que não era vista há 110 anos no Estado do Rio, era considerada extinta.