O Buraco do Lume, na Praça Mário Lago, Centro do Rio, vai receber um empreendimento imobiliário após mais de 55 anos. Conhecida como reduto tradicional da esquerda, a região foi formada na década de 70, quando a empresa Lume Empresarial (o nome se refere às iniciais do empresário Linaldo Uchoa Medeiros) tinha planos de erguer ali um espigão de mais de 20 andares. Só que a empresa faliu, deixando na área, que já foi parte do Morro do Castelo, um grande buraco — escavado para abrigar as fundações e garagem do prédio. Buraco do Lume: projeto polêmico prevê prédio residencial com 22 andares em lugar tradicional do Centro do Rio Aterro de Gramacho: capacidade acumula 23 milhões de litros de chorume e evita contaminação do manguezal Ainda em 1970, o antigo Banco Estado da Guanabara comprou o terreno e vendeu algumas unidades do futuro edifício. Mas o projeto, mais uma vez, não foi para frente. O lugar foi, então, urbanizado e transformado em praça. O buraco foi transformado num lago com passarelas. A configuração atual é dos anos de 1990, quando perdeu o lago e os jardins. Atualmente, o local funciona como anfiteatro, sendo palco semanal de políticos de esquerda — do PT e do PSOL, sobretudo —, que costumam ali prestar conta de seus mandatos. Nos anos de 1980, o ex-deputado Vladimir Palmeira discursava para a multidão na praça sobre um caixote. A praça já se chamou Melvin Jones, mas o nome foi trocado para Mário Lago no fim dos anos de 1990 com projeto do então vereador Eliomar Coelho. Não ao espigão Em janeiro deste ano, o Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio) e o Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) encaminharam uma carta ao prefeito Eduardo Paes na qual se manifestam contra qualquer construção no Buraco do Lume e pediram sua preservação. No documento, as entidades alertaram para "impactos negativos, com prejuízos históricos, culturais, ambientais, urbanos e econômicos, que a iniciativa poderia provocar", e "pedem que a área seja preservada, sendo qualquer proposta de mudança amplamente debatida e avaliada". Buraco do Lume, no Centro, é destombado pela Alerj e pode virar espigão Destombamento Em dezembro de 2022, após mais de dois anos do reconhecimento do Buraco do Lume como patrimônio do estado, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) retrocedeu na medida. O projeto de lei que "destombou" o local foi proposto pelo deputado Rodrigo Amorim (à época do PTB). Deputados de partidos de esquerda, no entanto, acusaram haver interesses especulativos por trás da proposta. Alguns parlamentares chegaram a questionar a validade do projeto pela falta de um memorial descritivo. No município, há um decreto de 1986 em vigor que preserva o Buraco do Lume. 720 apartamentos O Buraco do Lume dará lugar a um prédio residencial com 24 andares, 720 apartamentos e cinco lojas comerciais. A autorização para construir na área foi concedida no fim de julho deste ano pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento, com base na legislação do Reviver Centro, plano que se propõe a levar mais moradores ao bairro. A novidade dividiu empresários, que apostam no projeto como uma das âncoras do programa, e urbanistas, que defendem a preservação do espaço como uma ‘‘área de respiro’’ em ambiente já cercado por prédios altos. O arquiteto Fernando Costa, da Oté Arquitetura, responsável pelo projeto, deu alguns detalhes. Todos os apartamentos serão estúdios sem garagem e deverão ter entre 25 e 35 metros quadrados. No terraço (que o mercado só chama de “rooftop”) estão previstas área gourmet, com churrasqueira, piscina e vista garantida para a Baía de Guanabara. No térreo, haverá vagas para bicicletas e academia de ginástica.