As Forças Armadas de Israel realizam há mais de dez horas uma operação militar em Nablus, cidade de 30 mil habitantes na Cisjordânia ocupada. Segundo o Crescente Vermelho Palestino, pelo menos 27 palestinos ficaram feridos, dois deles por balas de borracha e 25 por inalação de fumaça. Moradores relataram à imprensa que dezenas de veículos militares entraram na área durante a madrugada desta quarta-feira, vasculharam casas e ordenaram a evacuação de famílias na região de Casbá, o centro histórico da cidade. Uma pessoa foi presa. Artigo: Campanha de Israel em Gaza está transformando o país em um Estado pária Entenda: Representantes de 21 países e da UE condenam plano de Israel na Cisjordânia que ameaça Estado palestino Também houve relatos de que o Exército israelense posicionou atiradores de elite em telhados no centro da região e invadiu diversos estabelecimentos comerciais. As forças do Estado judeu confirmaram a incursão, mas não detalharam quais eram seus objetivos. A cidade antiga de Nablus, porém, já foi alvo de várias grandes operações de Israel, incluindo em 2022 e 2023. Também foi palco de uma ofensiva significativa em 2022, durante a segunda intifada palestina. Em junho, uma operação israelense na cidade deixou dois mortos. — Os soldados estão invadindo e revistando casas e lojas dentro da cidade antiga, e algumas residências foram transformadas em postos militares — disse nesta quarta-feira Ghassan Hamdan, chefe da organização Palestinian Medical Relief em Nablus. Na terça-feira, o Exército de Israel lançou operações contra as cidades de Ramallah e El-Bireh, também na Cisjordânia ocupada, deixando ao menos 58 palestinos feridos, incluindo um menino de 13 anos baleado no abdômen. À rede catari al-Jazeera, testemunhas relataram que as forças israelenses invadiram uma casa de câmbio em uma área entre Ramallah — onde fica o complexo presidencial da Autoridade Nacional Palestina — e o El-Bireh, detendo ao menos três pessoas. Atiradores de elite também se posicionaram nos telhados. Contexto: Ministro israelense anuncia plano para dividir Cisjordânia em duas e ‘enterrar ideia de Estado Palestino’ O Crescente Vermelho Palestino informou que oito pessoas foram atingidas por balas reais, 14 por balas de aço revestidas de borracha — entre elas um idoso de 71 anos — e cinco ficaram feridas por estilhaços. Outros 31 palestinos sofreram com inalação de gás lacrimogêneo, incluindo duas mulheres grávidas. Segundo a organização humanitária, equipes de resgate foram impedidas de chegar até os feridos nas áreas sitiadas. No mesmo dia, a Autoridade Nacional Palestina condenou o que chamou de “perigosa escalada” por parte das forças israelenses. Classificando as incursões como “atos criminosos de agressão”, a ANP responsabilizou totalmente o governo de Israel e pediu aos Estados Unidos que intervenham para pôr fim ao que chamou de “crimes em curso” na Cisjordânia ocupada. Xavier Abu Eid, ex-diretor de comunicação da Organização para a Libertação da Palestina, disse que a operação durou algumas horas e ocorreu perto de três escolas e de um mercado. — Isso faz parte da vida cotidiana dos palestinos — disse Abu Eid à rede catari, acrescentando que Israel busca, com essas ações, reafirmar “quem realmente governa” na região. Aumento da violência A Cisjordânia tem registrado um aumento da violência por parte de militares e colonos israelenses desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023. Milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas. Ramallah lidera o número de ataques desde então, com 585, seguida por Nablus, no norte da Cisjordânia, com 479. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), ao menos 671 palestinos — entre eles 129 crianças — foram mortos nesse período. — Israel está enviando uma mensagem clara de que Oslo está morto, de que a Autoridade Nacional Palestina está morta, e de que não há poder real no território para além das forças israelenses e dos colonos, que agora atuam como um governo paralelo ao projeto das Forças Armadas de Israel — disse a jornalista política Faten Elwan à al-Jazeera, citando os Acordos de Oslo, assinados em 1993 e 1995 e que tinham como objetivo viabilizar a autodeterminação palestina, com a criação de um Estado palestino ao lado de Israel. Violência: Mortes de jornalistas no conflito em Gaza são quase três vezes maiores do que nas duas Guerras Mundiais somadas Em paralelo à intensificação das ações militares na Cisjordânia, a situação humanitária em Gaza segue crítica. O porta-voz em árabe do Exército de Israel, Avichay Adraee, declarou nas redes sociais nesta quarta-feira que “a evacuação da Cidade de Gaza é inevitável” e pediu que os moradores se desloquem para o sul. Segundo ele, o Exército já estaria montando tendas, instalando tubulações de água e preparando centros de distribuição de ajuda. Ele divulgou um mapa que mostraria áreas no centro e no sul do enclave que estariam livres. Moradores de Gaza, porém, relataram que os mapas geraram confusão, mostrando áreas “vazias e adicionais” para evacuação, mas sem indicar zonas proibidas. As supostas áreas vazias somam apenas 7 km² e já abrigam palestinos deslocados. Além disso, segundo o jornal israelense Haaretz, muitas famílias enfrentam altos custos e dificuldades logísticas extremas para deixar a cidade. O preço médio de uma tenda, dizem, chega a US$ 1,5 mil (R$ 8,1 mil), e o transporte pode custar até US$ 1 mil (R$ 5,4 mil) por família. No total, a evacuação pode exigir cerca de US$ 3,7 mil (R$ 20,1 mil) por núcleo familiar, um valor inalcançável para a maioria. — Não consigo imaginar uma família que consiga pagar esse valor. Hoje, mudar de lugar não é só encontrar um pedaço de terra vazio, se é que isso ainda existe. É uma jornada de sofrimento insuportável, medo e incerteza. Às vezes as pessoas preferem dormir entre os escombros ou nas estradas. Não temos para onde ir — disse a residente Moshira Tawfiq à rádio al-Shams. Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, cerca de 36 mil pessoas foram recentemente deslocadas em Gaza, diante da intensificação dos ataques aéreos e terrestres. Também foram relatados bombardeios em Sheikh Radwan, Jabalya, Zeitoun e Sabra, além de ataques a tendas de deslocados em Khan Younis. Moradores reportaram ainda o uso de robôs armadilhas por parte das forças israelenses. O número total de mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra chegou a 62.895, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo grupo terrorista Hamas. Entre as vítimas estão 2.158 pessoas mortas enquanto tentavam obter ajuda humanitária e 313 que morreram de desnutrição, incluindo 119 crianças. Nas últimas 24 horas, 76 palestinos morreram, incluindo 18 que buscavam auxílio e 10 que morreram de fome, entre eles duas crianças. No mesmo período, 298 pessoas ficaram feridas, segundo a mesma fonte. (Com AFP)